DIAS SINGULARES: IX SARAU D. PEDRO V

Ginásio da Escola Secundária D. Pedro V, Lisboa, 11/5/2018

Organização de Eugénia Nunes.

Antes que chegue o próximo, fica aqui o registo do sarau de ginástica e dança de 2018. Quem assistiu aos anteriores e esperava a mesma qualidade e diversidade não ficou decepcionado. Dos miúdos aos graúdos todos trouxeram novos desafios sob a forma de saltos, acrobacias, passos e piruetas. Em algumas das equipas, a componente cenográfica foi uma mais-valia, estabelecendo uma ponte entre a ginástica, a dança e a performance teatral. É que nem todos têm de ser capazes de dar aqueles incríveis mortais ou voar pelo ar como plumas.

Foi especialmente inspirador ver a participação de performers que são tantas vezes postos à margem mesmo nas actividades mais banais. Vê-los participar activamente com entusiasmo e de forma criativa foi realmente belo. São muitos os caminhos do respeito, da solidariedade, do amor e da verdadeira integração e este é um deles. Parabéns aos participantes e aos treinadores / professores!

Os que costumam brilhar na ginástica acrobática voltaram a fazê-lo com a mesma mestria. Todos sabemos que eles são bons, excelentes. Mesmo assim é impossível não suster a respiração por uns segundos para depois exclamar “wow”.

Neste sarau participaram 18 equipas de diversos escalões etários; algumas incluem em si mesmas participantes de idades muito diversas o que permite coreografias e exercícios muito diversificados. São assim como um microcosmos do mundo composto de tantas diferenças; só que aqui todos acabam em completa harmonia como um clã universal.

O grupo que representou a Escola Secundária D. pedro V trouxe, mais uma vez, a ginástica e a dança e portaram-se à altura do certame. Parabéns a todos!

E agora, um pouco de pedagogia ambiental, que também pode ser uma ideia para uma performance num qualquer sarau ou espectáculo que tem um público tão diversificado.

No Outono, tudo fica coberto de um extraordinário tapete de folhas caídas, o campo e as ruas da cidade. Há quem se irrite com tantas folhas; parece que se esquecem que elas têm mesmo de cair para voltarem a nascer bem vivas e verdes na próxima Primavera. Nunca lhes chamo lixo, são um belíssimo tapete de folhas, embora possa ser extremamente escorregadio quando chove e o tapete se estende sobre as pedras de uma calçada. Mas a questão aqui é outra. Há de facto muito lixo onde não deveria existir nenhum, por exemplo perto das escolas e os principais responsáveis são os jovens alunos. É triste ver a incoerência de quem reivindica com tanta facilidade mas pouco ou nada faz. Esquecem-se até de que são pessoas de carne e osso e não super-heróis de um jogo de computador quem depois vai limpar aquilo tudo. Ao fim do dia, em certas praias, o espectáculo também não é nada bonito de se ver. Depois vêm outros jovens responsáveis e altruístas que, em vez de se divertirem na praia, apanham o lixo para que a praia esteja novamente bela no dia seguinte… para que os do costume voltem a sujá-la. E não são apenas os mais jovens que sujam, os mais velhos nem sempre dão o bom exemplo. Eu, que não faço parte de nenhum desses fantásticos grupos de voluntários que limpam as praias, levo sempre um saco de plástico e faço sempre uma pequena recolha, não apenas do meu lixo mas sobretudo do lixo dos outros.

E a que propósito vem toda esta conversa num artigo sobre exercício físico com uma componente artística? Vem por duas razões: porque era interessante conceber um espectáculo de ginástica e dança sobre este assunto (é possível ir das ruas da cidade às baleias asfixiadas com plástico no Pacífico); e porque até existe uma modalidade de caminhada relativamente nova (surgida nos países escandinavos), o “plogging” que consiste precisamente em ir apanhando lixo ao longo da caminhada. Para os que só pensam em fitness e outras formas mais superficiais de exercício físico, o “plogging” até pode parecer uma idiotice que nunca se dignaram praticar. Mas aqueles para quem o exercício físico é algo tão natural como a própria Natureza acharão que pode ser uma excelente forma de fazer duas coisas boas ao mesmo tempo. Claro que os “ploggers” também preferiam caminhar apenas admirando a beleza dos lugares. Mas só alguns conseguem ficar indiferentes e prosseguem a caminhada muito concentrados no seu umbigo. Uma enormíssima vénia para todos os “ploggers” deste Mundo e que se multipliquem por toda a parte. Outro dia, vi uma pequena reportagem que mostra que já existiam alguns “ploggers” em Portugal mesmo antes de esta modalidade ser criada formalmente.

Agora o que é mesmo urgente é que os outros deixem de dar tanto trabalho aos “ploggers”, que trabalham por todos, e estes possam dar as suas caminhadas sem parar duzentas vezes pelo caminho. Aqueles que sujam e degradam as cidades, os campos e as praias têm mesmo de sentir que os seus actos não revelam apenas falta de respeito e de civismo, são verdadeiros comportamentos criminosos. Uma belíssima forma de trabalho comunitário seria precisamente limpar o lixo que anda por aí e, mais cedo ou mais tarde, irá parar às águas de um rio ou do oceano. Esta deveria ser uma preocupação quotidiana e não apenas de alguns momentos, porque parece bem. Não basta parecer, é preciso ser.

Vide:

* https://sicnoticias.sapo.pt/pais/2018-12-02-Plogging-a-atividade-fisica-em-prol-do-ambiente-que-ja-chegou-a-Vila-Real

* https://www.publico.pt/2018/06/26/p3/reportagem/como-exercicio-fisico-joao-apanha-lixo-todos-os-dias-eis-o-plogging-1835766

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