DIAS SINGULARES: março 2014

O Doente Imaginário de Molière
(Escola Secundária D. Pedro V, Lisboa, 14 de Março de 2014)

Os alunos do Curso Profissional de Artes do Espectáculo (Interpretação) da Escola Secundária D. Pedro V, criado em 2007, demonstraram mais uma vez que levam o teatro muito a sério. No ano passado, fui agradavelmente surpreendida pela representação de Otelo (Shakespeare) pelos alunos do 11.º ano. Este ano, já foram dramatizados diversos textos, como complemento de diversos eventos e para assinalar o dia do patrono (26 de Janeiro). No passado dia 14 de Março, foi representada a primeira peça longa, o clássico de Molière (1622-1673), O Doente Imaginário, (1673). Esta foi a última peça escrita e interpretada pelo dramaturgo francês. Ele próprio representou o papel do hipocondríaco Argan, tendo falecido pouco após a quarta representação da peça, a 17 de Fevereiro de 1673.

Os professores / encenadores Micaela Ornelas e Victor Sezinando realizaram um excelente trabalho com um grupo de alunos do 11.º ano (turma 13). Os alunos vestiram na perfeição a pele das personagens, foram convincentes e demonstraram um à vontade surpreendente. A postura, a colocação da voz, a expressão do rosto, o movimento em palco, a contracena não pareciam de jovens amadores com um escasso ano e meio de preparação na arte da interpretação.

Alguns dos jovens intérpretes demonstraram também uma enorme versatilidade, desempenhando em simultâneo diversos papéis. A mesma capacidade demonstraram as jovens que desempenharam papéis masculinos, uma opção cénica curiosa tendo em conta que até ao século XVII todos os papéis (masculinos ou femininos) eram desempenhados por homens.

É evidente que, para além do evidente talento dos intérpretes, houve um longo e aturado trabalho de preparação e ensaio. O visual e o espírito da época foram encenados de um modo muito verosímil e pitoresco, com respeito pela indumentária, os modos de agir e falar, a interacção social e familiar entre as pessoas.

Esta é uma comédia satírica sempre actual, que denuncia o oportunismo e o charlatanismo de alguns membros de uma classe profissional que amiúde esquece o Juramento de Hipócrates, aproveitando-se da fraqueza e da credulidade, sobrepondo o interesse material ao bem alheio, pondo em risco a vida dos pacientes em vez de a salvarem.

A comunidade deveria estar mais atenta àquilo que se produz, de modo mais ou menos silencioso e anónimo, dentro das nossas escolas públicas, tantas vezes denegridas pela opinião pública e pelos estigmas falaciosos do ranking. Uma boa maneira de levantar o moral das escolas públicas e de lhes devolver o prestígio perdido nas últimas décadas seria mostrar publicamente, de uma forma mais alargada, estas iniciativas. As Juntas de Freguesia têm certamente um trabalho a desenvolver nesta área. Esperemos que o façam…

Segue-se um vídeo que ilustra o decorrer da representação e uma selecção de fotografias tiradas no dia 14 de Março.