DIAS SINGULARES: HUMANO & SUBLIME I

O OLHAR DOS OUTROS

Existem milhares de fotógrafos notáveis com um trabalho original, uma técnica surpreendente e uma sensibilidade capaz de apreender o invisível e reinventar o banal. Uns deslumbram, outros despertam o espanto e o encantamento, outros ainda ficam desde logo gravados na memória. No meu arquivo de "olhares dos outros" poderiam figurar algumas centenas, mas basta uma dezena. Cada um reúne todas as qualidades (originalidade, técnica, sensibilidade), cada um é o paradigma do "olhar fotográfico" por excelência", o olhar que consegue realmente "deter o tempo" e criar uma beleza única, irrepetível e intemporal.

Começo por aqueles que já têm um "lugar" neste "recanto": Vladimir Dumitrescu, da Roménia, Lev Tsimring, norte-americano de origem russa, Edward Carlile, escocês residente na Hungria e Ofir Abe, israelita. Acrescento-lhes, por agora, uma descoberta recente, o americano David Kowalski, artista e fotógrafo com especial talento para captar as pequenas e grandes belezas da Natureza, especialmente nas fotografias macro.

VLADIMIR DUMITRESCU

«A paisagem humana é sempre uma paisagem interior.» São Ludovino

As fotografias de Vlad Dumitrescu são de uma beleza quase onírica. A Roménia rural, quase intocada pelo progresso, é um dos temas recorrentes. O relevo, as casas, as pessoas, os animais, a neblina, tudo aparece envolvido numa atmosfera de encantamento. Os rostos dos velhos camponeses e artesãos, duramente marcados pelo tempo, revelam uma paz interior e uma luminosidade que os transforma em personagens inesquecíveis.

Nas fotografias de Vlad Dumitrescu há uma beleza narrativa, cada instantâneo conta a história daquele momento e das vidas que os rostos e atmosferas fazem adivinhar. É impossível ficar indiferente a estes apontamentos de vida e é da vida real que se alimentam estes olhares e estes sonhos.

Vlad Dumitrescu, Ashore.

Vlad Dumitrescu, Raise the Curtain!

Vlad Dumitrescu, Flock.

Vlad Dumitrescu, First Steps in Autumn.

Vlad Dumitrescu, When the Sun Shifts.

Vlad Dumitrescu, Beauty and Rust.

Vlad Dumitrescu, A Boy and a Puppy.

Vlad Dumitrescu, Two Cold.

Vlad Dumitrescu, Nuts.

EDWARD CARLILE aka EDD CARLILE

RETRATOS SEM MAKE-UP

A primeira coisa que despertou a minha atenção nas fotografias de Edward Carlile foi a sua capacidade de fazer assemelhar uma fotografia a um quadro pintado, sobretudo nos retratos. Mas vai ainda mais longe e cria retratos de época, servindo-se de pouquíssimos adereços, sobretudo tecidose chapéus. O segredo está na expressão, no olhar e na luz. Aguns desses retratos encontram-se já neste blog na página intitulada Like a Painting I.

Outra característica dos retratos de Edward Carlile é a beleza e emoção que irradia dos rostos, independentemente das suas características físicas. São retratos sem make up, sem artifícios, por isso são naturais e belos. A série dedicada às gentes de Glasgow, a sua terra natal, mostra uma extraordinária galeria de rostos, todos diversos, todos singulares, todos unidos pela mesma essência humana. Olhando para estes retratos fica-se com a impressão de que qualquer pessoa poderia ser um bom modelo... claro que só um excelente fotógrafo poderia criar esta ilusão.

A própria mulher e os filhos servem-lhe de modelos. São retratos que irradiam um imenso calor humano, iluminados pelo amor. Em fotografias como estas torna-se evidente que o amor e a sensibilidade são ferramentas indispensáveis ao fotógrafo, quer seja o amor pelas pessoas, pela Natureza ou até pelos objectos. O momento perfeito, por vezes, não se constrói, encontra-se e são o amor, a sensibilidade e a intuição que dizem "este é o momento" e clic... faz-se luz, surge o retrato, torna-se mágico e eterno o momento que já não existe.

Edward Carlile, Joszef, The Budapest Blacksmith.

Edward Carlile, The Dancer.

Edward Carlile, Mother and Daughter - Mulher e filha do fotógrafo.

Edward Carlile, Like a Painting.

Edward Carlile, A Glasgow Boy.

DAVID KOWALSKI

FRAGMENTOS DE UM REINO INVISÍVEL

       As fotografias macro de David Kowalski (aka Bugs) são simultaneamente um documentário e obras de arte. Revelam-nos o mundo infinito das coisas minúsculas que povoam a Natureza e passam despercebidas à maior parte dos olhares. Gotas, estames, corolas, folhas, penas, cores, sombras, texturas, detalhes ínfimos, tudo ganha corpo com uma dimensão estética notável. Dificilmente um pintor conseguiria obter o mesmo resultado no rigor ou no surpreendente das formas, dos brilhos, das mesclas de cores ou na delicadeza do inefável mundo microscópico.
      Na maioria das fotografias, é impossível dizer com certeza o que retratam mas é impossível ficar indiferente. Cada fotografia de Kowalski é de facto um momento único e irrepetível. Cada minúsculo fragmento do reino invisível da Natureza emerge como uma obra de arte natural. Um Naturalista ou um biólogo que quisesse falar dos prodígios da Natureza poderia pegar em algumas das fotografias de David Kowalski e substituir os seus discursos mais eloquentes.
     David Kowalski é um fotógrafo e artista americano, com quatro décadas de experiência, que assimilou múltiplas influências culturais e artísticas. Na sua "arte tribal" é evidente a influência da cultura índia americana; o contacto com o mundo industrializado e mecanizado levou-o a criar uma espécie de "arte industrial"(arte reciclada, tribalismo industrial), utilizando fragmentos de velhas máquinas e ferramentas (ferro velho); e durante a sua permanência na Holanda chegou mesmo a fazer a aprendizagem do ofício de ourives de prata. Ao serviço da Força Aérea Americana viajou por diversas partes do mundo e conheceu um caleidoscópio de culturas que também contribuiram para moldar a sua produção artística.
     Muitos dos materiais que utiliza nas suas esculturas provêm da recolha que o próprio artista fez no deserto do Arizona, em grande medida com o intuito de limpar o lixo e os desperdícios industriais que poluem aquela região, tornando-se assim num dos primeiros "artistas verdes" americanos.
     Ao longo da sua carreira artística, tem participada em múltiplos eventos artísticos e exposições.