ALÉM DO INSTINTO
O
Rei Leão / The Lion King,
musical da Disney composto por Elton John, Tim Rice, Lebo M. e Hans Zimmer, interpretado e encenado pelos alunos do
Curso Profissional de Artes do Espectáculo – Interpretação (11.º 13). Encenação
de Diogo Pereira (aluno). Apresentação pública de 17/10/2018 no Auditório
Chaves Santos, Escola Secundária D. Pedro V, Lisboa.
Quase todas as histórias infantis
transportam em si ensinamentos para os graúdos, às vezes muito sérios, às vezes
disfarçados de patetices. Talvez não sejam bem ensinamentos porque ninguém
aprende o que não quer aprender. Serão mais reflexos de espelho. O graúdo olha
e não se vê a si mesmo, vê só a lição para os vindouros, como se a história,
que se repete num ciclo sem fim, não lhe dissesse respeito. O graúdo pigarreia,
ergue a voz e sentencia: «Vêem? A vida é assim. Tomem cuidado porque a vida é
mesmo assim. Há Scars, Mufasas e Simbas por todo o lado e em todos tempos.» Mas
o graúdo nunca é Scar, Simba ou Mufasa e muito menos uma hiena subserviente e
oportunista. Quando muito acha que é um Timon espertalhaço que vai escapando
aos leões e às hienas por entre os pingos da chuva.
O Rei Leão é uma história bem séria sobre
a efemeridade da vida e do poder, sobretudo do poder. Uma história comum e
séria vestida de comédia musical. É impossível não ver as semelhanças com o
conflito que está na base de Hamlet e de tantas outras obras dramatúrgicas e narrativas.
A representação deste
musical resultou da força de vontade, da determinação e do amor pela arte de
representar dos próprios alunos. A ideia foi do Diogo Pereira, sempre cheio de
ideias e vontade de lhes dar corpo e realidade. Parabéns, Diogo, por ser quem
é, pelo trabalho dedicado e pelo belo espectáculo que nos ofereceu. Os que
aderiram ao projecto e ajudaram a conseguir este extraordinário espectáculo
também estão de parabéns. Só a ideia e a vontade de um não bastariam. Todos
mostraram uma enorme dedicação, criatividade e maturidade.
Figurinos, adereços, cenários, tudo foi
obra exclusiva dos alunos. Fizeram ensaios sem conta desde o início de
Setembro. Em vez de aproveitarem o sol do final de Verão e de fruírem as
últimas horas descontraídas antes de as aulas começarem a sério, passaram horas
infindáveis no auditório a ensaiar, a limar as arestas, a melhorar todos os
detalhes até que sentiram que estavam preparados para se expor ao público.
Tanta dedicação, num tempo em que poucos se dedicam a alguma coisa durante
muito tempo, é notável e é de louvar.
Sei que tiveram alguma orientação dos
vossos professores (Victor Sezinando e Gonçalo Costa), sempre disponíveis para
vos ajudarem a dar o melhor de vocês. E deram o melhor de vocês. Uma enorme
vénia para todos!
Elenco /
Cast
Diogo
Pereira
Diogo
Campos
Joana
Jorge
João
Duarte
Maria
Mendes
Mariana
Correia
Nádia
Antunes
Sofia
Pedrosa
Encenação / Stage
Direction
Diogo Pereira
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Poema inspirado n' O Rei Leão
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Poema inspirado n' O Rei Leão
ALÉM DO INSTINTO
Antes
do canto da primeira ave da manhã
Um
pouco antes, um pouco depois da alvorada
Tudo
é silêncio, enigma, expectante harmonia.
Imóvel
a savana acorda pouco a pouco
Imóvel
permanece sob a vida que a povoa.
A
nova vida abre os olhos pela primeira vez
E
não vê o rei, o reino ou o enigma.
Vê
as gotas de orvalho reflectirem o céu
Vê
as árvores desenharem sombras frescas
Sente
a protecção do mais forte sobre a sua fronte.
Entre
as frestas do desfiladeiro fechado e escuro
Outro
poder acorda, esfomeado e sedento
Devora
as sombras, dia após dia,
Antes
de se atrever a enfrentar a luz do amanhecer.
Dia
após dia, torna a vida mais efémera do que é.
A
presa que procura é sempre a mesma
Não
é um corpo, um coração palpitante
É
uma coroa, é um ceptro,
Um
território a perder de vista, a invencibilidade.
A
nova vida ainda não conhece o desfiladeiro
Nem
o ente que o habita
Respira,
espera, escurece por dentro.
E
sem saber o que o espera, entra sem medo
Quer
ir mais além, quer conhecer todos os recantos.
Se
aquele é um lugar proibido
É
nele que quer entrar.
−
Hei-de sair daqui mais sábio − pensa
−
Ou pelo menos hei-de divertir-me a valer.
O
pequeno ser entra e vasculha todos os recantos
À
procura de tudo e nada
Qualquer
coisa misteriosa que possa ser tudo
Mesmo
que seja quase nada.
Interroga
a textura das rochas
Pesa
com as mãos pedaços de cascalho
Conta
os passos de lado a lado
Cheira
a poeira do chão, perscruta a fissura no alto
Por
onde espreita o céu e as nuvens.
Pensando
estar só, grita e volta a gritar
−
Oiiiô, oiiiô, estou aqui e não tenho medo de ti! −
O
grito devolve-lhe o eco e volta a ecoar
A
terra estremece ligeiramente e ouve um rugido.
Um
vulto ergue-se da penumbra e pergunta-lhe rugindo
−
Quem és tu? O que fazes aqui? −
E
o pequeno ser treme e abre muito os olhos
Para
ver quem lhe fala de entre a penumbra.
Torna-se
tão pequeno como um grão de areia e pára de respirar.
Depois
cresce ou pensa crescer, num só segundo,
Tanto
como uma árvore num século
E,
tal como o eco, devolve a pergunta
−
Quem és tu? O que fazes aqui? −
Cala-se
e espera uma resposta.
O
ente não responde, ruge, rasteja
Ergue-se
até à fissura e fecha-a.
No
meio do negrume o pequeno ser vê uma luz
Que
não está lá, vem de longe, vem de dentro
Empurra-o
para fora como a brisa da manhã
Resiste,
quer ficar, quer enfrentar o rugido
Quer
rugir mais alto, vencer o medo
Ser
quem é sendo mais forte do que é
Domar
o rugido apenas com o grito da sua vontade.
E
gritou, em silêncio, mais alto do que o rugido
E
a força cresceu e o medo partiu
Ficou
só, frente a frente, com o ente
Que
minguou lentamente até cair por terra.
A
batalha estava vencida.
Agora
podia voltar para a savana e crescer.
Lá
fora não havia rei, nem reino, nem ceptro
Todo
o poder era apenas a luz do sol
O
rosto do céu aberto
A
ave anunciando a manhã…
Mesmo
que houvesse muito mais para aprender
Não
queria aprender mais nada.
O
jovem ser cresceu e viu que havia muito mais
Para
aprender e reaprender.
Chamaram-lhe
ciclo infindável da vida
Mas
ele escapou ao ciclo
E
ficou apenas com a vida
Sem
fim…
São
Ludovino, 21/12/2018
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