quinta-feira, 23 de março de 2017

TEATRO NA ESCOLA XVII

A IMPOSSIBILIDADE DE SER E CRIAR
(Em demanda da Arte e do Amor)



A Gaivota, de Anton Tchekhov, interpretada pelos alunos do Curso Profissional de Artes do Espectáulo – Interpretação, 12.º 13, no Auditório da Escola Secundária D. Pedro V, Lisboa. Ensaio geral, 1/ 3/2016. Encenação: Carlos Melo


     A Gaivota, de Anton Tchekhov (1860-1904), pertence a um género dramático híbrido; tanto foi considerada como uma comédia como uma tragédia ou um drama. Esta ambiguidade é intencional e faz parte da própria abordagem que Tchekhov faz do tema: a impossibilidade de ser e criar com inteira liberdade. Um jovem escritor fracassa em todos os domínios da vida (artístico-literário, social, familiar e amoroso) e ninguém parece importar-se muito com as suas angústias e sofrimento, nem a própria mãe; o jovem escritor suicida-se e Dorn, o médico frequentador da casa da família, sugere que o som do disparo foi provavelmente o rebentar de um frasco de éter na sua maleta. Depois de ter verificado que na verdade fora o som do disparo, volta a confirmar a hipótese e assim cai o pano. 
     Esta desvalorização fria e surreal da morte de Treplev, o jovem escritor que protagoniza a peça, pode ferir a sensibilidade do leitor / espectador, mas parece ter um propósito preciso. Mais do que vítima de um ambiente cultural e estético convencional, avesso à renovação, Treplev é apresentado como uma vítima de si mesmo, do seu temperamento idiossincrático e hipersensível, da sua busca de uma arte / escrita inteiramente nova e genuína, da sua visão apocalíptica da vida e da humanidade e de circunstâncias que ele não pode controlar. Treplev demonstra perante tudo o que é convencional e artificial a mesma inflexibilidade e indiferença que Arkadina, sua mãe e actriz aplaudida por todos, manifesta perante tudo o que é inovador e escapa ao gosto vigente, incluindo a escrita do próprio filho. E entrega-se à mesma busca utópica da plenitude, centrada na arte e no amor, que leva Nina, a sua amada, à desilusão definitiva. Não é a essência da arte ou do amor que se extingue, é a crença nas pessoas de carne e osso e a possibilidade de consumar o ideal. 
     Treplev repudia toda a convenção, a arte pré estabelecida, sujeita aos limites do gosto, das escolas estéticas, das exigências de um público domesticado e amorfo. Arkadina recusa toda a renovação, sobretudo aquela que é proposta pelo próprio filho; aí ela não teria um lugar e não poderia brilhar. Observados de perto, os comportamentos e conflitos interiores de Nina e Treplev são muito semelhantes. Ambos são assaltados pelos mesmos dramas existenciais, pelas mesmas angústias e busca de uma plenitude utópica, mas reagem de modo bem diferente. Todavia, de um modo ou outro, todos estão condenados à impossibilidade de ser. 
     Arkadina não consegue ser ela mesma, representa na vida tal como no palco, mas isso não a angustia, mantém a pose de actriz e convence; Treplev é genuíno em todos os seus delírios, visões e demandas, não finge, mas a sua autenticidade é ridicularizada e essa incompreensão dilacera-o profundamente. O drama de Treplev é a comédia de Arkadina. Ela pretende manter intacta e eterna uma aura de felicidade e sucesso. Age como se tivesse nascido para ser uma estrela na vida tal como é no palco; Treplev age como o criador incompreendido condenado ao fracasso. Persevera enquanto se sente alimentado pelo amor de Nina, a jovem pretendente a actriz, que abandona Treplev quando se apaixona por Trigorin, o escritor célebre e amante de Arkadina. A perda do amor de Nina vai fazê-lo perder completamente o rumo na sua busca pela criação literária autêntica. Sozinho na sua demanda pela arte genuína e pelo amor absoluto, sucumbe. 
     No momento em que o amor se esvai, Treplev mata uma gaivota que deposita aos pés de Nina. Esta gaivota é profundamente simbólica. Nesse acto destruidor, Treplev depositou toda a verdade das suas visões, as mesmas que não conseguiu traduzir em palavras. Essa gaivota, morta no final do Acto II, irá acompanhar como uma sombra a restante acção. Trigorin pretende guardar aquela gaivota embalsamada e o feitor da propriedade entrega-lha no final, embora Trigorin repita que não se lembra de ter feito tal pedido. A gaivota representa sobretudo os dois idealistas sonhadores, Treplev e Nina, o par trágico, unido não pelo amor mas pelo fracasso e pelo sofrimento. Treplev fracassa como escritor quando perde o amor de Nina e toma consciência de que a sua arte jamais será compreendida e reconhecida; Nina fracassa como actriz quando perde o amor ilusório de Trigorin, que regressa aos braços de Arkadina. Com a morte da gaivota, Treplev anuncia a morte do amor, da sua demanda e a sua própria morte. No Acto IV (o último), Nina repetirá “Sou uma gaivota!” num tom pungente de quase delírio, como forma de exprimir um sonho já extinto, a agonia do seu desejo de liberdade, da sua busca de um amor ideal e do desejo de ser uma actriz reconhecida. A gaivota morta é a Nina que já não o ama, é a Nina idealista que também fracassou e um indício trágico do desenlace. Treplev mata a gaivota que ele também nunca conseguirá ser. Matando a gaivota, mata-se simbolicamente antes de se matar de facto.
    Olhando a sucessão de factos, é difícil reconhecer uma comédia nesta peça, quando muito podemos entrever laivos de uma tragicomédia. No entanto, Tchekhov escreve a peça com a intenção de produzir uma comédia, um intuito aparentemente estranho. O herói trágico, Treplev, é um aspirante a escritor dramático que fracassa sucessivamente e se suicida. Duas das personagens que contribuem para agravar o seu desânimo (Nina e Trigorin) são inspiradas em pessoas reais. Nina é inspirada numa jovem actriz (Lidija S. Mizinova, 1870-1937), que foi amante do próprio Tchekhov; e Trigorin é inspirado num escritor célebre na época (Ignatij Potapenko, 1856-1928). Lidija foge com Ignatij, que depois a abandona; tem um filho dele mas é a a Tchekhov que ela escreve cartas lamentando-se. Esta contaminação premeditada entre a vida e a arte, mostra a vida como uma espécie de tragicomédia em si mesma e o próprio Tchekhov foi um actor real nesta trama. Mas revela também a impossibilidade de ser e criar livremente, sobretudo na Rússia daquele tempo onde a inovação e as vanguardas rompiam a custo as barreiras de toda a arte convencional. 
     Tchekhov já não era um principiante quando escreveu A Gaivota (1895), no entanto o director do teatro de Moscovo terá recusado o texto inicial por não ser “representável”. A Gaivota que conhecemos hoje nos livros e nos palcos é já um produto da censura, não só da censura oficial que vigorava na Rússia, mas da censura do “gosto” estabelecido no mundo artístico. De certo modo, há um pouco de Treplev em Tchekhov, mas ele reage aos obstáculos com um misto de Trigorin e Arkadina, adapta-se parcialmente e prossegue a demanda possível. A comédia que podemos entrever aqui tem um sabor a sarcasmo darwinista. Os que não se adaptam, sucumbem ou extinguem-se.
    Há uma negra amargura nas considerações que Treplev tece sobre a sacralidade do teatro convencional, a forma como deve ser escrito e representado. Para Treplev, a convenção e a autêntica verdade da criação literária e do teatro não são compatíveis. Para ele só há duas opções, ou tudo ou nada. Ou um teatro inteiramente novo ou a total ausência de teatro. Tchekhov foi um inovador, rompeu com a tradição, mas não se atreveu a reedificar tudo a partir do nada, como Treplev desejava. Não podemos deixar de pensar que a atitude radical de Treplev, com um fim trágico, corresponde afinal ao desenlace inevitável que era reservado a todos os que ousassem operar uma ruptura total. Por esta mesma razão, a morte de Treplev assume uma dimensão eminentemente trágica e exemplar que dilui quase por completo as nuances cómicas. A comédia é reservada sobretudo às peripécias e às observações irónicas de Dorn. Mas mesmo estes laivos de comédia parecem algo amargos, sobretudo na sucessão de desencontros e desilusões. Aparentemente, não há uma única personagem verdadeiramente feliz nesta peça. Mesmo os risos e sorrisos parecem algo artificiais, fazem parte da coexistência social como um qualquer adereço ou gesto de etiqueta. 
     As personagens mais autênticas são Treplev, Nina e Sorin (irmão de Arkadina). Curiosamente, Sorin, já de idade avançada, parece ser o único que compreende a demanda de Treplev, mesmo que discorde dele em quase tudo. Dorn é um comentador sarcástico das ditas e desditas da vida. Tudo lhe parece passageiro, natural e inevitável, não leva nada muito a sério, sobrevive sorrindo com indiferença perante os enganos, as inquietações, as desgraças ou a própria felicidade. No entanto reconhece que Treplev tem talento — só lhe faltam os objectivos — e deixa-se emocionar por algumas passagens da peça de Treplev representada no jardim. 
     Já próximo do final do Acto IV, enquanto busca palavras novas, uma “forma nova de dizer”, Treplev apercebe-se de que a autenticidade e força da criação literária não advêm das formas novas ou velhas, «mas pura e simplesmente, daquilo que se escreve, sem pensar sequer na forma, o que se escreve vindo do fundo da alma, livremente.» Esse supremo objectivo nunca foi alcançado por Treplev: «Mas eu ainda me sinto perdido, a navegar num turbilhão de sons e de imagens, sem saber o que há-de ser e nem em nome de quê. Não tenho fé, e ignoro o que é verdadeiramente a minha profissão.» 
     Na conversa de despedida com Treplev, Nina revela-se também uma personagem eminentemente trágica que aceita resignadamente os golpes do destino e o esboroar dos sonhos mais cintilantes. Depois de recordar que deixou de acreditar no seu talento e nos seus sonhos, porque Trigorin também não acreditava, Nina conclui com uma espécie de epitáfio do seu idealismo: «Agora sei, Kostya (Treplev), percebi que no nosso trabalho — e tanto faz estar no palco como escrever — o que é importante não é ter êxito, nem tão-pouco glória, nem nada do que eu sonhava — o que é importante é conseguir aguentar.» Depois de todas as desventuras, Nina já não olha para a vida como uma busca de felicidade mas apenas como a tarefa penosa de carregar uma cruz.
     Mais uma vez nos cruzámos com “o teatro dentro do teatro” e de variadas formas. De algum modo, Treplev apercebe-se de que o teatro e a escrita pouco são sem a vida, a verdade intrínseca das emoções, a coexistência com os outros num mundo onde as suas visões não têm lugar nem podem ser compreendidas. A “lógica da vida”, imposta de fora, não pode domar nem organizar a sua tempestade interior. 
     Treplev chega a publicar alguns contos, mas torna-se evidente que o que realmente pretende é ser um dramaturgo e regenerar por completo o teatro. O Acto I é centrado na representação interrompida de uma peça de Treplev. Um texto estranho, sombrio e apocalíptico que ninguém parece ter compreendido inteiramente, classificado como “decadente” por Arkadina. O Decadentismo foi um movimento de vanguarda do final do século XIX e início do século XX, associado ao Simbolismo e ao Impressionismo. Tal como os simbolistas, os decadentistas pretendiam “objectivar o subjectivo” através de imagens e metáforas peculiares que traduziam a sensibilidade particular de cada criador. Tchekhov escreve A Gaivota em 1895, em plena era decadentista, embora a sua escrita nada tenha a ver com o esteticismo e a busca formal deste movimento. É sobretudo a atmosfera criada que lembra o Decadentismo, o tédio e o desencanto convivendo com fantasmagorias, idealismo e rêverie. Do ponto de vista temático, os decadentistas abordam as grandes ilusões e desilusões que costumam caracterizar o fin de siècle, a percepção de um tempo que degenera e chega ao fim, um tédio entorpecedor, um vazio que tudo parece engolir e é preciso preencher com novas formas, novas sensações, novos símbolos e ilusões. É uma atitude de verdadeira ruptura, como a de Treplev. E é nessa acepção que o termo “decadente” deve aqui ser entendido. Quando é proferido por Arkadina, o termo assume naturalmente um tom superficial, crítico e depreciativo. 
     Arkadina queixa-se do tédio da vida campestre e anseia por regressar ao bulício inebriante da cidade; no campo é obrigada a olhar para dentro e a “filosofar” (como ela diz), na cidade não há espaço para a verdade interior ou a clarividência das coisas naturais e simples. A peça de Treplev lembra de facto o Decadentismo e ele, tal como este movimento, foi incompreendido e severamente criticado. O Decadentismo ruiu em cerca de duas décadas (entre cerca de 1880 e 1900), embora em Portugal, onde chegou tardiamente de França, tenha perdurado até à década de 20 do século seguinte. O fim de Treplev é bem mais súbito e trágico. Nem a audiência de Treplev nem o público em geral estavam preparados para tal ruptura. Entre o mergulho na escuridão do desconhecido e a amenidade de histórias romanescas, o público escolheu o teatro como entretenimento, não como reflexão ou explosão espontânea e desregrada de pensamentos, sensações e emoções. 
     No que toca à interpretação, sobressaiu mais uma vez a capacidade de estes jovens intérpretes vestirem na perfeição a pele e o espírito de pessoas mais velhas, que se movem num mundo bem diferente do seu numa época que nunca conheceram. Interiorizaram e exteriorizaram as emoções de forma convincente e expressiva, sobretudo nos momentos de maior tensão dramática. 
     Na encenação, pareceu-me uma excelente opção o colocar das personagens, que deveriam estar fora de cena, sentadas em cadeiras ao fundo do palco, uns voltados para o público, outros de costas e outros ainda de meio perfil. Vi nesta presença constante de todos os actores / personagens no palco não apenas uma opção estética ou cénica, mas também a presença do teatro dentro do teatro, da fusão íntima entre o actor e a personagem e uma manifestação da indiferença do público perante o que não compreende. Os actores sentados nunca se manifestam através da palavra ou do gesto, limitam-se a estar ali.

     Para todos, a vénia do costume e os votos de que as novas etapas da caminhada no palco e na vida sejam auspiciosas e gratificantes. Obrigada pelo vosso trabalho e empenho. E, como sempre, que viva o teatro, no palco, que é onde ele deve estar. 
     Assisti ao ensaio geral e a uma apresentação pública da peça, embora só tenha fotografado o ensaio geral. A sequência de fotografias, sobretudo no vídeo que elaborei, pode parecer estranha porque alguns dos actores contracenaram em dois grupos diferentes de colegas e até usaram caracterização e roupas diferentes. Isto deveu-se ao facto de a turma ter sido dividida em dois grupos que fizeram apresentações separadas da peça, mantendo no entanto os mesmos actores na representação de alguns papéis nos dois grupos. Dado ter fotografado o ensaio geral, algumas cenas surgem repetidas, com pequenas variações. Estes factos fizeram alongar excessivamente a duração do vídeo (cerca de 30 minutos) e tornam-no de difícil leitura para quem não assistiu aos ensaios ou à representação.

Interpretação:

Arkadina – Tânia Martins / Cláudia Mendonça
Treplev – Bruno Páscoa
Nina – Ana Marques / Joana Crispim
Sorin – Rafael Neto
Dorn – Miguel Galamba
Trigorin – Gonçalo Marques
Masha – Daniela Oliveira / Patrícia Aguiar
Medvedenko e Yakov (voz off) – Denilson Andrade
Polina – Mara Boleta / Beatriz Teixeira
Encenação: Carlos Melo
Apoio de Movimento e Voz: Mariana Rosário


***************************************************

A propósito desta peça, sobretudo inspirada pela demanda de Treplev, escrevi o pequeno monólogo que se segue.


NAS ASAS DA LIBERDADE
(Monólogo – O criador fala com a gaivota)

Três dias antes do fim

Pássaro sem asas:
Olho-te cá do fundo desta terra agreste
Onde tudo pesa como chumbo
Olho-te nos olhos, ave peregrina
Imploro-te que pouses no meu ombro
Que me dês ao menos a sombra fugaz das tuas asas
Ainda agora estavas aqui, não digas que não
Em bem te vi, esvoaçavas célere por esta página branca
Levaste tudo contigo, nem uma palavra ficou
Só esta lágrima indelével que não seca
Não é tua, é minha, queima o papel
Sou cinza que te olha enquanto escreves nas nuvens
As minhas visões primeiras
Nelas palpita todo o meu ser
Palavras de fogo que não chovem nunca nesta terra
Bem sei, são tuas, não são minhas
A tarde cinzenta cai sobre os meus dias exangues
E tu já não pousas nas minhas páginas, ave peregrina.


Dois dias antes do fim

Pássaro sem asas:
Já não te olho sequer
Sei que deves andar por aí rasando as falésias
Embriagando-te com esse azul que não consigo tocar
Possuis o céu, esse é o teu vasto caminho
Eu caminho por esta vereda estreita
Tão estreita que já não resta espaço para sonhos
Não me lembro do que é sonhar
Tu és o sonho e já não habitas em mim
Nada me resta senão roubar-te as asas
Essas asas translúcidas e luminosas
Que te levaram para longe de mim
Com estas mãos que te afagaram
Seguro trémulo o arco, fixo a flecha metálica
Que te há-de trespassar.
E enquanto a flecha voa ao teu encontro
Rasgando sibilante o teu caminho azul
Ouço o eco da tua voz:
«Se alguma vez precisares da minha vida,
Vem e leva-a.»(1)
Preciso dela, agora, toda e para sempre
Já não me bastam as metáforas
Só não sei o que farei sem ti.

A última queda

Pássaro sem asas:
Olho o teu corpo ainda quente
Essas penas brancas que estremecem
Com a última brisa
Que mais podia eu fazer, diz-me
Deixaste as minhas páginas brancas para a eternidade
Vou manchá-las com o teu sangue e a tua ausência eterna
Antes de me dissolver nesta brancura imensa
Antes de te arrancar as asas
E voar muito para além do azul
E quando passar pelas nuvens onde tu já moraste
Hei-de levar comigo todas as palavras de fogo
Que me negaste, que derramaste tão longe
Voa, voa agora comigo, pássaro de fogo
A noite cai, estás a vê-la tão negra e vazia
Temos um milhão de estrelas para iluminar…


São Ludovino, 27/5/2016


(1) – Depois de ver a gaivota morta junto a Nina, Trigorin tem subitamente uma ideia para escrever um conto sobre um homem que passeia junto a um lago. Como não tem mais nada para fazer, o homem decide matar a gaivota. As palavras-chave desse conto seriam «Se alguma vez precisares da minha vida, vem e leva-a.» Presume-se que seria a “gaivota” a proferir estas palavras. Não era Treplev esse homem ocioso, mas sim Trigorin. A gaivota morta por Treplev diria antes “Se alguma vez quiseres ser livre, vem e aprende a voar comigo”.

****************************************************************

Observemos ainda as personagens mais relevantes. Para quem não leu nem viu a peça, estes “apontamentos biográficos” poderão ser esclarecedores.

ARKADINA (Irina Nicolaevna) é uma mulher de meia-idade bem-sucedida e dominadora. É uma actriz reconhecida e admirada por todos. Tem os habituais tiques de uma vedeta. Representa em todos os momentos da vida, como tendência natural e estratégia social e amorosa. É mãe de Treplev, mas não se comporta como uma verdadeira mãe, não demonstra afecto genuíno, desvaloriza o talento do filho e nunca leu nada que ele tenha escrito. É rica mas queixa-se de não ter dinheiro suficiente para dar uma mesada ao filho, gasta tudo nos seus próprios luxos e bem-estar. De uma forma ou outra, tenta diminuir ou destruir todos os que lhe possam fazer sombra (Treplev e Nina), só ela pode brilhar. Enaltece o talento de Trigorin apenas porque ele é célebre, é submisso aos seus caprichos e faz brilhar ainda mais a sua aura de estrela. Tem medo dos sentimentos puros e genuínos porque é incapaz de os sentir. Transforma os afectos numa espécie de conveniência e emblema social. O eu profundo submerge por completo sob o eu social e artístico de figura pública. Não se preocupa com o futuro, a velhice ou a morte, não quer envelhecer e não envelhece. Orgulha-se da sua eterna juventude que vê como consequência da sua vida cheia de experiências e sensações. O seu passatempo favorito é o auto-elogio. 

TREPLEV (Konstantin Gavrilovich) é um jovem escritor que pretende explorar e revelar as entranhas de um mundo decadente e os meandros mais obscuros da mente humana. A sua vida resume-se a uma busca do amor e da arte, ambos interligados e feitos da mesma matéria e do mesmo espírito. A condição essencial para atingir o seu objectivo é a liberdade plena do eu. Só a plena liberdade de ser e criar lhe poderá revelar a verdade profunda da vida, da arte, do amor. Uma mãe castradora e indiferente (Arkadina) jamais lhe concederá essa liberdade. A perda do amor de Nina condena-o definitivamente ao vazio e ao fracasso. Todos o tratam com certa condescendência por ser filho da “grande” Arkadina, mas só Nina, depois de ter experimentado as agruras da vida, o compreenderá verdadeiramente, mas não lhe dá o alimento essencial que o poderia salvar, o amor. Sorin (irmão de Arkadina) protege-o e incentiva-o, mas não pode fazer frente à indiferença geral e à prepotência de Arkadina. Incapaz de voar livremente como uma gaivota, escolhe a fuga para a eternidade, pondo termo à vida.

NINA (Zarechnaia, Nina Mihailovna) é filha de um rico proprietário rural que casou em segundas núpcias com uma mulher que detesta Nina. O pai cerceia-lhe toda a liberdade e jamais admitiria a hipótese de a deixar ser actriz, o seu grande sonho. Até as visitas à casa de Sorin ou os passeios à beira do lago lhe são limitados. Vive permanentemente com medo do pai e da madrasta e com vontade de fugir para bem longe. Durante algum tempo corresponde ao amor de Treplev que nutre por ela uma autêntica adoração e sonha poder vê-la representar as suas peças nos palcos do mundo. É ela quem interpreta a peça (monólogo) de Treplev levada à cena no jardim da propriedade, com o lago como fundo e a lua a nascer. A representação fracassa e Treplev fica convencido que foi nesse momento que o amor de Nina começou a desvanecer-se. Nina apaixona-se por Trigorin, o escritor célebre, amante de Arkadina, e foge com ele. Mas não encontrou nem o amor, nem a felicidade, nem o reconhecimento sob as luzes da ribalta. Trigorin abandona-a para voltar para Arkadina e ela entrega-se a papéis menores e a uma vida incerta. No final, volta para se despedir de Treplev, que continua a amá-la, mas nada a detém. Continua apaixonada por Trigorin mas não quer vê-lo. Treplev suicida-se e ela continua a viver penosamente, carregando a sua cruz, como ela própria afirma. Tal como Treplev, nunca chegou a ser uma gaivota. Esta personagem foi inspirada pela figura da actriz (Lidija S. Mizinova, 1870-1937).

SORIN (Piotr Nicolaievich) é o irmão mais velho de Arkadina e o proprietário da casa de campo onde todos se reúnem. Foi funcionário na Administração Pública durante décadas, nunca casou, não teve filhos nem se tornou escritor como pretendia. Por esta razão, vê em Treplev o escritor que ele não foi, estimula-o e tenta compreendê-lo. Sorin está reformado e passa uma grande parte do tempo no campo, vive de memórias, sempre acompanhado por uma ou outra mazela, mas sente o peso do tédio e irrita-o a arrogância do feitor da quinta (Shamrayev, pai de Masha) que se comporta como se fosse ele o verdadeiro proprietário. Anseia constantemente por regressar à cidade e esquecer-se de que já não é novo. Apesar dos lamentos e do desânimo, ainda tem os seus sonhos e uma imensa vontade de viver e ter novas experiências, sobretudo nos círculos artísticos e intelectuais de Moscovo. É a ele que Treplev tem a coragem de expor sem rodeios a sua visão da arte e do teatro. Sorin discorda do radicalismo de Treplev, mas reconhece-lhe o talento suficiente para escrever e operar alguma forma de mudança.

DORN (Yevgeny Sergeievich) é um médico, tal como o próprio Tchekhov. Habituado a ver a doença, o sofrimento, as desgraças da vida, assume uma postura algo indiferente e irónica. Frequenta o círculo social de Sorin e Arkadina e é um homem respeitado e admirado pelo seu espírito vivo e cultura. Consta que a maior parte das mulheres da região se apaixonou por ele, facto que ele encara com um certo desdém. Polina, a mulher do feitor, é uma dessas mulheres que o assedia descaradamente e manifesta o seu ciúme quando vê o enlevo com que Dorn olha a jovem e bela Nina, que lhe oferece uma flor. Dorn vai comentando, com palavras suas ou citações, as peripécias que se vão desenrolando, sempre em tom mais ou menos sarcástico ou prazenteiro. Sente-se perturbado por algumas passagens da peça de Treplev, como se visse naquelas visões fantasmagóricas outras formas e impressões da realidade da vida que ele próprio conhece. É ele quem constata que Treplev acabara de se suicidar, reagindo com uma fleuma perturbadora, usa uma carapaça de aparente frieza que o protege de uma aguda consciência das contradições e absurdos da vida. Graceja quando era suposto lamentar, ilude quando era suposto revelar. Mesmo quando pede para levarem Arkadina para longe daquele lugar, depois de ter constatado que Treplev se tinha suicidado, parece algo indiferente. Estas suas palavras parecem ter apenas a função de dizer ao público “Sim, Treplev suicidou-se”, já que a morte não ocorre no palco.

TRIGORIN (Boris Aleksievich) é um escritor de sucesso decalcado de um escritor célebre daquela época, (Ignatij Potapenko, 1856-1928). Trigorin é um escritor compulsivo que se sente devorado pela própria propensão para escrever. Também ele busca incessantemente novas ideias, novas histórias, novas palavras, mas só o processo criativo lhe interessa. Uma vez concluída a obra, perde o interesse e começa de imediato uma nova história. Apesar de procurar ser original, reconhece que a sua produção criativa não é livre, precisamente por ser célebre, por escrever para um público que o obriga a escrever aquilo que espera dele. Não escreve com profunda emoção ou reflexão nem com nenhuma preocupação social ou humana. Como ele próprio reconhece, deveria escrever sobre o povo, as suas vidas, a verdadeira humanidade das pessoas simples e comuns, mas acaba sempre por escrever sobre frivolidades ou histórias romanescas que satisfazem o gosto do público. Quando Nina lhe diz que inveja a sua fama e glória, ele diz não saber o que são nem se aperceber sequer da sua existência. Parece antes que, de tão habituado aos afagos ilusórios da fama, deixou de a sentir. Ao abandonar Nina para voltar para Arkadina revela bem qual era o ambiente onde sentia satisfeito e confortável. Não era o amor que o prendia a Arkadina, apenas a mesma forma de viver e os mesmos caprichos. O episódio da gaivota morta e o seu desejo de a conservar embalsamada revela bem o prazer que sentia em dominar, em ser admirado e observar como o seu magnetismo tinha o poder de aniquilar almas idealistas e ingénuas como a de Nina. Treplev mata de facto uma ave simbólica, Trigorin mata uma pessoa real, Nina. No fundo, Trigorin é um fraco, inteiramente dominado por Arkadina e pela fama. A paixão por Nina nunca chega a convencer. Só aqueles momentos em que parece imerso na busca de uma nova história despertam alguma simpatia. Mas quando se percebe que essa história pode ser uma tragédia que ele próprio se prepara para consumar (como acontece quando imagina um homem ocioso à beira do lago que mata uma gaivota só porque lhe apetece), toda a simpatia se desvanece. 

MASHA (Marya Ilichna) é filha do feitor / administrador da propriedade de Sorin. Ama Treplev que a detesta. É amada por Medevedenko que ela detesta, mas com quem acaba por se casar. Sempre que pode, aproxima-se de Treplev, que invariavelmente a repele. Estes desencontros amorosos fizeram dela uma pessoa profundamente infeliz. Dorn conforta-a mas ela não se sente confortada. Perante a impossibilidade de se unir a Treplev, escolhe como único objectivo arrancar do coração a presença de Treplev. Fá-lo da maneira mais estúpida e habitual, casa com um homem que a ama e ela detesta.

MEDVEDENKO (Semion Semionovich) é um modesto professor de uma zona rural. Tem uma grande família que mal consegue sustentar com o seu escasso salário. Ama Masha, que manifesta por ele a mesma repulsa que Treplev nutre por ela. Por Masha, está disposto a tudo, incluindo caminhar sozinho para casa ao longo de seis quilómetros enquanto Masha, já casada, permanece na casa de Sorin só para ficar perto de Treplev. Medvedenko pensa que a frieza de Masha se deve à sua falta de fortuna, mas Masha diz-lhe que o dinheiro nada importa. Medvedenko é um bom homem, um daqueles sobre os quais Trigorin nunca chegou a escrever. Gente simples e real não vende livros nem enche plateias.






* Álbum I

The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

* Álbum II

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.


 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.


*Álbum III


 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

*Álbum extra

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.
Olá, Mariana! Temos saudades tuas!

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

 The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.

The Seagull - Tchekhov, photography by São Ludovino.