sábado, 13 de novembro de 2021

Pedro & Inês Através das Artes I

Literatura, Pintura, Escultura e Medalhística, Música, Teatro, Ópera e Cinema 

     «A ideia do futuro, carregada de uma quantidade imensa de possibilidades, é mais fecunda do que o próprio futuro. Por isso há mais encanto na esperança do que na posse, no sonho do que na realidade.» Henri Bergson (1859-1941)

     Não se cansaram ainda os criadores de recriar a lenda de Pedro e Inês. Eles já não são D. Pedro I e D.ª Inês de Castro, figuras históricas de carne e osso, polémicas, multifacetadas, amadas e odiadas, defendidas e acusadas, e ainda parcialmente desconhecidas. A sensibilidade e a interpretração subjectiva de cada criador já os roubaram há muito ao campo vasto, igualmente aliciante, mas menos plástico, da História e dos seus infinitos e contraditórios meandros. A verdade histórica também depende da interpretação, da forma como se combinam os fragmentos que restam do tempo ido. Os documentos escritos são por vezes escritos para a posteridade, não para registar a verdade de um qualquer tempo presente. Por isso, a verdade histórica é tantas vezes a verdade planeada ou a verdade filtrada. Mesmo os romances históricos, para serem de facto romances, reescrevem a História e prolongam a lenda sob novas perspectivas.

Inês de Castro por José de Guimarães, 1986.

     Os pintores, os escultores, os dramaturgos, os poetas, os romancistas, os coreógrafos e bailarinos, os cineastas beberam quase sempre na lenda a primeira inspiração; a História vem quase sempre depois, quase como necessidade de tornar verosímil a fábula e a invenção. Mas mais importante do que a verosimilhança, na obra de arte o mais importante é a emoção, a vivência estética e a construção do eterno com roupagens terrenas, para que o etéreo se torne mais próximo e humano, o horror mais atroz repugnante e a dor mais pungente. Pela arte se encena o crime e a justiça a posteriori. Pela arte se representa a realidade ideal, no tempo e fora dele. Pela arte se tornam reais todas as quimeras e tornam-se enigmas as verdades mais palpáveis. Pela arte, a alma mostra todas as suas formas infinitas através dos tempos. Por isso, toda a arte é verdadeira. Por isso, toda a arte é o reino do devir, da mais antiga à mais contemporânea. A emoção que o novo olhar há-de descobrir está ligada à emoção inicial. A arte é o eterno fio condutor entre as múltiplas formas de ser humano, entre a realidade e a alma, entre os sentidos e a natureza.

     Inês, por pouco imaculada que fosse, ganhou há muito uma aura de pura eternidade através da arte. Foi continuamente purificada até ser apenas a amada mártir, o símbolo de um amor maior, da justiça póstuma e da vingança bárbara. Muito mais do que D. Pedro, foi D.ª Inês que alimentou durante séculos a criação artística. Porque ela é mulher? Também por isso. Mas sobretudo porque foi escolhida pelos olhos e pelas almas dos artistas como arquétipo da vítima, bela e inocente. E também porque era uma dama nobre, amante de um futuro rei, membro de uma família rica, poderosa e ambiciosa. Se fosse uma plebeia (e quantas plebeias foram amadas e sacrificadas?), teria sido esquecida como se nunca tivesse existido. Inês nunca foi esquecida e começou a ser reinventada logo após a sua morte, pelo próprio D. Pedro (mais como vingança contra o pai), pelos Castro e pelos seus apoiantes e sobretudo pelos escritores que cedo viram na história de D. Inês um filão quase inesgotável.

     Primeiro veio a reinvenção pela palavra (essa construtora de memórias, de fantasias, verdades e mitos), pela poesia e pela representação dramática; só depois vieram as telas comoventes, as composições musicais lamentosas, as esculturas em contínua metamorfose, as imagens em movimento que absorvem todas as outras artes, as transfiguram e se impõem como uma espécie de síntese.

     Nas últimas décadas, a literatura infanto-juvenil e a banda desenhada têm abordado a temática inesiana prodigamente. A versão apresentada é quase sempre a da lenda.

     Segue-se uma selecção de obras de várias áreas artísticas, de várias épocas e nacionalidades. (veja-se o post sobre a  Bibliografia & Webgrafia). Aqui ficam apenas alguns exemplos, sobretudo de textos dramáticos e poéticos.


********************************************************

LITERATURA

Narrativa, Poesia & Teatro

 «A literatura é um assunto sério para um país, pois é afinal de contas o seu rosto.» Louis Aragon (1897-1982)

«A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida.» Fernando Pessoa (1888-1935)

«No teatro tudo é verdade, até a mentira.» Augusto Boal (1931-2009)

«Vocês, artistas que fazem teatro
Em grandes casas, sob sóis artificiais
Diante da multidão calada, procurem de vez em quando
O teatro que é encenado na rua.
Quotidiano, vário e anónimo, mas
Tão vívido, terreno, nutrido da convivência
Dos homens, o teatro que se passa na rua
.» 

Bertolt Brecht (1898-1956)

Castro - tragedia do doutor Antonio Ferreira, 1528-1569. 
Impresso por Pedro Crasbeeck, Lisboa, 1598. A 1.ª edição é de 1587.

Castro - tragedia do doutor Antonio Ferreira, 1528-1569. 
Impresso por Pedro Crasbeeck, Lisboa, 1598. A 1.ª edição é de 1587.
Tanto no título como na enumeração das "pessoas da tragedia"
Inês é apenas a "Castro", sublinhando mais a genealogia familiar
do que a identidade individual.

Tragedia intitulada D. Igenz [sic] de Castro de António Ferreira, 2 de Setembro de 1784,
manuscrito existente na BNP (Biblioteca Nacional de Portugal).
Note-se que o autor da cópia mudou "Castro" para "D. Ignez de Castro".

Castro de António Ferreira, Editorial Domingos Barreira, Porto, 1962.

Saudades de D. Ignez de Castro por Manoel de Azevedo (pseudónimo de Maria de Lara e Menezes), 1619-1649, 1.º edição, 
Officina Joaquinianna da Musica de D. Bernardo Fernandes Gayo, Lisboa, 1745.

Saudades de D. Ignez de Castro por Manoel de Azevedo (pseudónimo de Maria de Lara e Menezes), 1619-1649, 1.º edição, 
Officina Joaquinianna da Musica de D. Bernardo Fernandes Gayo, Lisboa, 1745.

Tragedia intitulada Dona Ignes de Castro de Domingos dos Reis Quita, 1728-1770. 
Cópia de 13 de Junho de 1784. A 1.ª edição impressa é de 1766.
Manuscrito existente na BNP (Biblioteca Nacional de Portugal).

Obras de Domingos dos Reis Quita
chamado entre os da Arcadia lusitana Alcino Micenio 
por Domingos dos Reis Quita (1728-1770), Lisboa, Typographia Rollandiana, Lisboa, 1781.
Contém "Castro: Tragedia".

Nova Castro, tragedia de Gomes, João Baptista, c. 1775-1803, 
Livraria portugueza de J. P. Aillaud, Paris, 1848.

Nova Castro, tragedia, João Baptista Gomes, c. 1775-1803, 
Na Impressão Régia, Lisboa, 1815.

Nova Castro, tragedia by João Baptista Gomes, c. 1775-1803, 
E. e H. Laemmert, Rio de Janeiro, 1843.


Nova Castro, tragedia by João Baptista Gomes, c. 1775-1803, 
E. e H. Laemmert, Rio de Janeiro, 1843.

Nova Castro, tragedia by Gomes, João Baptista, c. 1775-1803, 
Livraria Portugueza de J. P. Aillaud, Paris, 1848.

Nova Castro, tragedia de João Baptista Gomes Junior. 
Nova ed. cor. de muitos erros, e augm. com a brilhante scena da coroação, 
Typographia de Sebastião José Ferreira, Porto, 1857.

Poesias que vêm anexas à edição do Rio de Janeiro de 1843 da Nova Castro, 
tragedia de João Baptista Gomes, c. 1775-1803, E. e H. Laemmert, Rio de Janeiro, 1843.

Dona Ignez de Castro, a tragedy, from the Portuguese of Nicolau Luiz da Silva, with Remarks on the History 
of that Unfortunate Lady, by John Adamson, 1787-1855, D. Akenhead and Sons, Newcastle, 1808.
(Tradução para Inglês da obra portuguesa de Nicolau Luiz da Silva).

Tragedia de D. Ignes de Castro de Nicolao Luis da Silva, 1723-1787, Poeta Portuguez
Impressa em 1772. Copiada em 1795. Adaptação da peça de Luis Velez de Guevara 
Reynar despues de morir (cfr. Inocêncio, vol. VI, pág. 286 - BNP.

Doña Inés de Castro - tragedia en cinco actos
Escrita en Frances por M. Houard de La Motte (1672-1731), 
traducida y acomodada al teatro español, Madrid, 1826.

Na identificação das personagens é visível a total confusão histórica
que muitos autores de várias nacionalidades replicarão. 
A primeira edição da Inès de Castro de La Motte é de 1723. 
Doña Inés de Castro - tragedia en cinco actos, La Motte, M. de (Antoine Houdar), 1672-1731, 
Imprenta de D. Miguel de Burgos, Madrid, 1826.

Les tableaux de M. le comte de Forbin, ou, La mort de Pline l'Ancien, et Inès de Castro. 
Nouvelles historiques, par Mme la comtesse de Genlis, Paris, 1817.

Ines Pietosa, Tragedia di Geronimo Bermudez conosciuto col nome di Antonio de Silva, 1577 
in Teatro scelto spagnuolo, antico e moderno, raccolta dei migliori drammi, commedie e tragedie 
– Versione italiana, Volume Primo, Società L'Unione Tipografico, 1857.
É a tradução da Nise Lastimosa da edição espanhola.

Ines Coronata, Tragedia di Geronimo Bermudez conosciuto col nome di Antonio de Silva, 1577 
in Teatro scelto spagnuolo, antico e moderno, raccolta dei migliori drammi, commedie e tragedie 
– Versione italiana, Volume Primo, Società L'Unione Tipografico, 1857.
É a tradução da Nise Laureada da edição espanhola.

Nise Lastimosa y Nise Laureada - Doña Ines de Castro y Valladares, princesa de Portugal 
por Fr. Gerónimo Bermudez, Imprenta de Taxonera, Ferrol, 1877.

A Castro; com um prólogo por Mendes dos Remédios. Conforme a edição de 1598
António Ferreira, 1528-1569, França Amado Editor, Coimbra, 1915.

A Castrocom um prólogo por Mendes dos Remédios. Conforme a edição de 1598
António Ferreira, 1528-1569, França Amado Editor, Coimbra, 1915.
Mendes dos Remédios, tal como Júlio de Castilho já fizera,
demonstra que foi Bermudez que plagiou Ferreira e não o inverso.

The longer prose works of Walter Savage Landor, Edited with Notes and Index by Charles G. Crump, 
in two volumes – Second volume, J.M. Dent & Co. London, 1893. 
Contém "Ines de Castro, Don Pedro, and Dona Blanca", p. 158.

The longer prose works of Walter Savage Landor, Edited with Notes and Index by Charles G. Crump, 
in two volumes – Second volume, J.M. Dent & Co. London, 1893. 
Contém "Ines de Castro, Don Pedro, and Dona Blanca", p. 158.

Elvira - a tragedy - Acted at the Theatre Royal in Drury-Lane, Printed for A. Millar, London, 1763.
Obra da autoria de David Mallet, c.1705-1765.

Elvira - a tragedy - Acted at the Theatre Royal in Drury-Lane, Printed for A. Millar, London, 1763.
Obra da autoria de David Mallet, c.1705-1765.

La reine de Portugal - tragédie en cinq actes, Firmin Didot, 1764-1836, 
Typ. de l'auteur, Paris, 1824.

A mesma confusão histórica na identificação das personagens.
La reine de Portugal - tragédie en cinq actes, Firmin Didot, 1764-1836, 
Typ. de l'auteur, Paris, 1824.

Compilação das obras de Victor Hugo feita pela filha mais nova, Adèle Hugo.
Contém o melodrama em três actos "Inez de Castro" que, mais tarde, o autor considerou
uma "tolice" da sua juventude. 
Victor Hugo – A Life Related By One Who Has Witnessed It – Including a drama in three Acts, 
entitled Inez de Castro and other unpublished works in two volumes by Adèle Hugo, W.M. H. Allen & C.ª, London, 1863-Vol.1.

Victor Hugo – A Life Related By One Who Has Witnessed It – Including a drama in three Acts,
entitled Inez de Castro and other unpublished works in two volumes by Adèle Hugo, W.M. H. Allen & C.ª, London, 1863-Vol.1.
A mesma confusão na identificação das personagens é mais desculpável nesta obra de Victor Hugo 
do que noutros autores, porque ele tinha apenas 14 anos quando a escreveu.

Victor Hugo – A Life Related By One Who Has Witnessed It – Including a drama in three Acts,
entitled Inez de Castro and other unpublished works in two volumes by Adèle Hugo, W.M. H. Allen & C.ª, London, 1863-Vol.1.
Victor Hugo não classificou "Inez de Castro"como tragédia ou drama mas como melodrama. 

Ignez de Castro - a tragedy in five acts; (as contributed to Hood's magazine) 
by the author of 'Rural sonnets', H. Hurst, London, 1846.

Agnes de Castro - a tragedy - as it is acted at the Theatre Royal, by His Majesty's Servants
Written by a Young Lady, H. Rhodes - R. Parker - S. Briscoe, London, 1696.
Esta obra, publicada anonimamente, é da autoria de Catharine Trotter, 
que adaptou o conto com o mesmo título de Aphra Behn.
Por sua vez, a obra de Aphra Behn é a tradução de uma obra francesa que traduziu para Inglês...
a mesma que se segue (em prosa) 
e  que também foi traduzida para Português (já mencionada noutro post).

Historia de Dona Ignez de Castro – Traduzida do Francês, Typographia Rollandiana, Lisboa, 1827.

D. Inez de Castro - Novella da Condessa de Genlis, traduzida do Francês por D. Caetano Lopes de Moura,
Livraria Portuguesa de J. P. Aillaud, Paris, 1837.
Outra edição da mesma obra francesa. 
Aqui a autoria é atribuída à Condessa de Genlis, Stéphanie Félicité, 1746-1830.
No entanto, diversos estudiosos atribuem a autoria a S. B de Brillac 
(Mademoiselle de Brilhac ou Brillac).

Agnes de Castro - Nouvelle Portugaise (1710), Jean-Baptiste de Brilhac, 
Kessinger Legacy Reprints, n.d.
Quem é afinal Brilhac ou Brillac? S. B. Brilhac ou J. B. Brilhac? 
"Monsieur" ou "Mademoiselle" Brilhac?
Dependendo das edições, o título e o nome do autor vai variando.
Provavelmente, trata-se de um pseudónimo.
Só entre 1688 e 1697, foram publicadas dez edições desta obra com o título
Agnes de Castro or The Force of Generous Love, atribuídas a Jean-Baptiste de Brilhac. 

Stéphanie Félicité, Comtesse de Genlis, 1746-1830 - Ines de Castro; novela tomada de la historia de Portugal. 
Escrita en Frances por la Condesa de Genlis, y Traducida al Castellano por don Salvador Izquierdo,
Imprenta que fue de Bueno, Madrid,1832.
Tradução espanhola da mesma obra francesa.

Agnes de Castro - or, the Force of Generous Love, Written in French 
by a Lady of Quality (S. B.  ou J. B. de Brillac ou Brillac). 
Made English by Mrs. Behn (Aphra Behn), William Canning, London, 1688.
É esta a tradução (adaptada) de Aphra Behn da obra francesa, publicada e republicada 
em diversas edições, isoladamente ou como parte de compilações.

The novels of Mrs. Aphra Behn by Aphra Behn, 1640-1689, 
G. Routledge & Sons, limited; E.P. Dutton & Co., London - New York, 1913.
Contém The History of Agnes de Castro, págs. 159-202.

The novels of Mrs. Aphra Behn by Aphra Behn, 1640-1689, 
G. Routledge & Sons, limited; E.P. Dutton & Co., London - New York, 1913.
Início de The History of Agnes de Castro, págs. 159-202.

A collection of novels by Mrs. Griffith (Elizabeth), c.1720-1793, Vol. III, 
Printed for G. Kearsly, London, 1777. 
Contém The History of Agnes de Castro, págs. 1-44.

A collection of novels by Mrs. Griffith (Elizabeth), c.1720-1793, Vol. III, 
Printed for G. Kearsly, London, 1777. 

A collection of novels by Mrs. Griffith (Elizabeth), c.1720-1793, Vol. III, Printed for G. Kearsly, London, 1777. 
Frontispício mostrando uma ilustração que supostamente representa Inês de Castro. 
Como é evidente, a indumentária, os penteados e o mobiliário 
não ilustram o século XIV, em que Inês de Castro viveu, mas sim uma cena do século XVII 
em que a autora viveu ou do século XVIII em que viveu a compiladora, 
que também foi autora dramática e filha de um empresário teatral (Thomas Griffith).

Portrait of Aphra Behn (1640-1689) by Sir Peter Lely, ca.1670.

Portrait of Catharine Trotter Cockburn, 1679-1749 by unknown artist, line engraving, mid 18th century.

The poems of Felicia Hemans by Felicia Dorothea Browne Hemans, 1793-1835, 
William P. Nimmo, London-Edinburgh, 1875.
Existem dezenas de edições desta compilação, sendo a primeira de 1835, o ano da morte da escritora.
Em quase todas elas vem o poema The Coronation of Inez de Castro.

Portrait of Felicia Dorothea Browne Hemans, 1793-1835.

The Coronation of Inez de Castro in Poems by Felicia Dorothea Browne Hemans, 
The Henneberry Co., Chicago-New York, 1835, p. 377.

Inez de Castro - an historical tragedy in 3 acts by anonymous author, Hamburg, 1840.
Obra muito interessante em língua inglesa mas publicada em Hamburgo (?) 
sem identificação do autor, do impressor ou editor. 
O editor revela ter grande proximidade com o autor, elogia-o e defende-o dos críticos.

     Antes do texto Inez de Castro aparece uma súmula histórica que termina do seguinte modo (p. 82):
«(…) The reader will observe that the author of the present tragedy has often very materially departed from the above account of facts, taking advantage of the writings of others on the same subject, where they better suited his purpose.»
     No final da tragédia, o editor volta a explicar as opções do autor. Refere ainda que o manuscrito terá sido salvo da censura por um amigo do autor que valorizara mais a obra do que ele próprio. Esta terá sido a única obra dramática produzida por este autor esquivo que, após esta tentativa teatral, terá regressado ao cultivo da poesia e da fantasia (pp. 146-147):

     «The author feels that he is bound to add a few words at parting, in self-defence. He acknowledges himself highly culpable, in having reduced Tragedy to three instead of five Acts; the latter, he believes, being its prescribed number by Literary Law. Having pleaded guilty, in justification he urges: that portions of “Inez de Castro" had so long been tossed about both in his portmanteau and brains, that he was heartily rejoiced of an opportunity of getting rid of them, — and, if it he taken into consideration, that these scattered fragments were connected, printed, and the last Act written in the short space of one calendar month, he trusts his readers will show some little lenity towards the manifold defects of his Tragedy. Had he extended it to five Acts, a counterplot must have been framed, and the author being really a straight-forward fellow, and not at all addicted to intrigue, at once decided against this. Another point requires explanation; namely, the immense liberty which has been taken with a king's son, in throwing him into prison, — and that the work of his own father. Should the reader object to this, he is requested to refer to History and he will find in those dark ages not a few similar instances of equally unceremonious proceedings in reigning potentates. The honest truth is, facts, with a little imagination and exaggeration annexed, have been woven into verse. The Manuscript would long since have shared the fate of witches and other monstrosities, had it not been rescued from the flames by a worthy friend, who it seems, entertained a better opinion of it than its writer. It will probably be many years (if ever!) before either publisher or reader will be troubled with a like production; the author having wisely resolved to be satisfied in future with drinking of the Heliconic waters, instead of presumptuously attempting to increase them.»
     Após o final de Inez de Castro, surge ainda um soneto ("Time"), do mesmo autor anónimo, que entretanto terá falecido, provocando no editor grande dor e vontade de o honrar. A notícia da morte do autor surge na nota a este soneto (pp. 148-149):

To Time *


Time! — when in pleasure's path thou dost proceed,
The flow'ry way gives swiftness to thy pace,
And happy beings pray thee to retrace
A track so blest; or to relax thy speed.
But when thy steps through paths of mis'ry lead,
The rugged thorns thy crippled feet restrain,
And the sad victims of despair and pain,
To urge thee on but vainly intercede.
I fain, old Time, would travel by thy side,
With equal step; nor overcharged with care,
Nor cloy'd with pleasure; but I would divide
Our social journey between foul and fair —
Lest joy unmingled drown my soul in pride,
Or woe untemper'd drive it to despair.

* «In the whole range of Poetry, but few compositions will be found so perfect as this Sonnet „on Time"; so exquisite in feeling and rich in language, with an unaffected simplicity of style that is quite delightful. The Writer is now no more! His loss will be long and painfully felt by all those who knew him. His friends have been deprived of a warm hearted friend — society of a most useful member,— and the world of an excellent man! Truly may we say of him. „He did not live in vain!" It is greatly to be regretted that excessive modesty throughout life prevented many more equally beautiful effusions of the same masterly spirit from being known. The advanced state of this volume in the press, before the idea of printing the Sonnet occurred, must excuse its appearing so unworthily at the end.»


Doña Inés de Castro - drama en tres actos, en verso, Francisco Luis de Retes, 1822-1901, 
Imprenta de Jose Rodriguez, Madrid, 1868.

Agnes de Castro, treurspel, in drie bedryven. [In verse], Hoorn, T. Tjallingius, 1775.
Edição holandesa sem indicação do autor.

Agnes de Castro, treurspel, in drie bedryven. [In verse], Hoorn, T. Tjallingius, 1775.
Edição holandesa.

The dramatic works of Mary Russell Mitford, Vol. II, by Mary Russell Mitford, 
Hurst and Blackett, London, 1854. Contém "Inez de Castro, a tragedy in five acts", págs. 47-120.
Uma das poucas obras que parece corresponder a um trabalho verdadeiramente original 
e que respeita razoavelmente a verdade histórica.

The dramatic works of Mary Russell Mitford, Vol. II, 
by Mary Russell Mitford, Hurst and Blackett, London, 1854. 
Contém "Inez de Castro, a tragedy in five acts", págs. 47-120.

Mary Russell Mitford, 1787-1855, by Benjamin Robert Haydon, 1824.

Chroniques chevaleresques de l'Espagne et du Portugal, suivies du Tisserand de Ségovie... 
por Juan Ruiz de Alcarón y Mendoza, Ledoyen – Libraire-Éditeur, Paris, 1839.
O incansável Ferdinand Denis compilou centenas de textos históricos e literários
relativos á História, Cultura e Literatura portuguesas. 
Esta preciosa obra contém vários escritos relativos a D. Constança, D. Inês e D. Pedro. 

Chroniques chevaleresques de l'Espagne et du Portugal, suivies du Tisserand de Ségovie... 
por Juan Ruiz de Alcarón y Mendoza, Ledoyen – Libraire-Éditeur, Paris, 1839.
História de D. Constança Manuel, mulher de D. Pedro I, mãe de D. Fernando.

Chroniques chevaleresques de l'Espagne et du Portugal, suivies du Tisserand de Ségovie... 
por Juan Ruiz de Alcarón y Mendoza, Ledoyen – Libraire-Éditeur, Paris, 1839.
Crónica sobre Inês de Castro.

Chroniques chevaleresques de l'Espagne et du Portugal, suivies du Tisserand de Ségovie... 
por Juan Ruiz de Alcarón y Mendoza, Ledoyen – Libraire-Éditeur, Paris, 1839.
Texto sobre os amores de Inês de Castro.

Chroniques chevaleresques de l'Espagne et du Portugal, suivies du Tisserand de Ségovie... 
por Juan Ruiz de Alcarón y Mendoza, Ledoyen – Libraire-Éditeur, Paris, 1839.
Romance espanhol que pretende ser a verdadeira história de Inês de Castro.

Chroniques chevaleresques de l'Espagne et du Portugal, suivies du Tisserand de Ségovie... 
por Juan Ruiz de Alcarón y Mendoza, Ledoyen – Libraire-Éditeur, Paris, 1839.
Um relato dos amores de João de Castro, filho de Inês de Castro e de D. Pedro,
aquele que matou à punhalada a sua mulher, Maria Teles, irmã de D. Leonor Teles, mulher de D. Fernando.

Chroniques chevaleresques de l'Espagne et du Portugal, suivies du Tisserand de Ségovie... 
por Juan Ruiz de Alcarón y Mendoza, Ledoyen – Libraire-Éditeur, Paris, 1839.
Uma compilação de vários textos atribuídos a D. Pedro. 
Carolina Michaëlis contestou a autoria de quase todas as atribuições feitas, 
quer dos textos poéticos quer das mensagens amorosas.
Que houve uma correspondência amorosa entre D. Pedro e D. Inês, isso é indubitável...
só que não resta um único registo escrito da época. Até mesmo a autoria dos poemas
publicados no Cancioneiro Geral (Garcia de Resende, 1516) é questionável.

Inez de Castro (Castro) - tragédie en cinq actes par António Ferreira (1528-1569) 
in Théâtre Européen, Nouvelle Collection – Théâtre Portugais par MM., 
traduit en Français par Ferdinand Denis…, Ed. Guérin et Cie. Éditeurs, Paris, 1835.
Contém Notice sur Inez de Castro – Suivi de Chronique de Don Pedro, págs. 1-14; 
Poésie du Roi Don Pedro, p. 14; Inez de Castro (Castro), Tragédie en cinq actes, 
par Antonio Ferreira, págs. 15-35; Le Jaloux (Comedia do Cioso) 
– Comédie en cinq actes du Docteur Antonio Ferreira, págs. 37-82.

La cabeza del Rey D. Pedro, tradición histórica 
por Manuel Fernández y González, 1821-1888, Murcia y Marti, Madrid, 1862.
Esta obra incide sobretudo sobre as tramas e intrigas dos irmãos Castro
(irmãos de Inês de Castro) e a vida amorosa de D. Pedro I de Castela, 
sobrinho de D. Pedro I de Portugal.

La cabeza del Rey D. Pedro, tradición histórica 
por Manuel Fernández y González, 1821-1888, Murcia y Marti, Madrid, 1862.

Poesias escolhidas, 1898-1902 de Afonso Lopes Vieira, 1878-1946, 
Viúva Tavares Cardoso, Lisboa, 1904.
Contém o poema Pedro Cru, págs. 37-43.

PEDRO CRU

Sai de palácio uma noite.
Cerrada noite.

E pela noite caminham

Ou se adivinham
Vultos da noite…

Um rouxinol, cantando:

Volta os passos confiados.
Entra em palácio, senhor!

A água do rio, descendo:

A ventura é como a água
Que passa, não volta mais.

Um choupo, sussurrando:

Olha punhais afiados
Com fome do teu amor…

 O vento, gemendo:

Na asa da minha mágoa
Levarei penas e ais!...

 Um eco, ao longe:

… é como a água
Que passa, não volta mais…

 Os corações

Oh! saborosas dentadas
Tão bem cravadas
Nos corações!...

Oh! acabarem-se as vidas

Se esquartejadas!
Doces dentadas, brutas dentadas!
Mordidas e remordidas,
E gaguejadas
Nos corações!

— Tirai-lhos p'las costas!...

Devagarinho… devagarinho… devagarinho!...
Parti-os em postas,
Regai-mos com vinho!

Oh, numa salva de prata

Os corações!
Desgraçado de quem mata:
Mata uma vez.
Só uma vez!

E mastiga e mastiga

Os corações!

Oh corações.

Senti os dentes
Cravados
Nos corações?

Boca danada, boca estorcida, apaziguada.

Nos corações…

Enterro

Passa nos caminhos, passa a procissão
Com velas ardendo pela escuridão.

Procissão de luzes, uma em cada mão:

Pirilampos d'oiro rodeando um caixão.

Procissão de luzes, e caladas vão:

São pingos de sangue pingando no chão.

Procissão de luzes, longa multidão.

Longa caminhada. Passa a procissão…

Levam a Rainha, o trono e o caixão:

Depois de defunta beijaram-lhe a mão.

Foi posta no trono, bela em podridão:

Seus louros cabelos sempre louros são.
Seus olhos, seus olhos não mais olharão:
Buracos vazios como a escuridão!

Passa nos caminhos, passa a procissão

Com velas acesas, longa multidão…

Seus beiços p'ra beijos não mais beijarão!

Seus braços p'ra abraços não mais cingirão!

Procissão de luzes, muda multidão…

Oh saudade negra como a escuridão!

 Insónia

Arde na noite a prata das trombetas!...
Brilha na noite a luz d'acesas tochas!
E as trombetas: Alerta alerta alerta!

 Accorda o burgo adormecido: el-rei!...

O Justiceiro, o ledo bailador!
E as trombetas: Alerta alerta alerta!

Descem à rua. El-rei passa a bailar!

Cercam-no, baila, redemoinha, volta…
E saltam, dançam, rodopiam, bailam.

Ralé, mendigos, o seu povo cerca-o;

Segue na noite a ronda do bailado…
Brilham as tochas. Ardem as trombetas!

El-rei traz um chicote, e anda uma estrela

Na ponta do azorrague flamejando:
Justiça! bradam-lhe. — E flameja o astro!

Justiça! Bradam. – Sonha vergastadas

Em adúlteros, vis, bispos, rapaces!
Ralé, mendigos, o seu povo baila!...

Na noite somem-se o bailado e a bulha.

N'alvorada desmaiam as trombetas,
Desmaiam tochas, e desmaia a Dor…

Túmulo

Nas covas nos heis de pôr
Os corpos desencontrados:
P'ra quando o Juízo for,
Nossos olhos abraçados
Falarem logo d 'amor.

In Poesias escolhidas, 1898-1902 de Afonso Lopes Vieira, 1878-1946, Viúva Tavares Cardoso, Lisboa, 1904



D. Pedro e D. Inês - 'O Grande Desvayro' 1320-1367, Antero de Figueiredo, 
Livrarias Aillaud e Bertrand, Paris-Lisboa. 1916.

D. Pedro e D. Inês - 'O Grande Desvayro' 1320-1367, Antero de Figueiredo, 
Livrarias Aillaud e Bertrand, Paris-Lisboa. 1916.

Inês de Castro na Vida de D. Pedro, de Mário Domingues, 
Livraria Romano Torres, Lisboa, 1961.

Inês de Castro na Vida de D. Pedro, de Mário Domingues, 
Livraria Romano Torres, Lisboa, 1961 - 2ª edição.

A Castro, Júlio Dantas, 1876-1962, 
Portugal-Brasil Limitada – Sociedade Editora, Lisboa, 1920.
Adaptação d' A Castro de António Ferreira.

Inês de Castro, Gondin da Fonseca, Livraria São José, s.d.

Silva de Eugénio de Castro, 1869-1944, Magalhães & Moniz Editores Lda., Porto, 1911.

Silva de Eugénio de Castro, 1869-1944, Magalhães & Moniz Editores Lda., Porto, 1911. 
Contém uma écloga sobre uma Inês que não sabe o que é o amor, 
dedicada à Condessa de Sabugosa e de Murça, págs. 35-38.

Linda Inês de Rocha Martins.

Inês de Castro, António de Vasconcelos.

Adivinhas de Pedro e Inês, Agustina Bessa Luís, Guimaráes &C.ª Editores, Lisboa, 1983.

Inês de Castro - Espia, Amante, Rainha de Portugal
de Isabel Stilwell, Planeta Editora, 2021.

Pedro - Cantigas de Inês, Rita Sineiro, The Poets and Dragons Society, 2020.

Inês de Portugal de João Aguiar, Edições Asa, 1997 (1.ª edição de 1996).

Triunfo do Amor Português, Mário Cláudio, Publicações D. Quixote, 2014.

A Rainha Crucificada, Gilbert Sinoué, Difel.

Inês de Castro - A Estalagem dos Assombros
Somara da Veiga Ferreira, Editorial Presença, 2007.

Linda Inês ou O Grande Desvairo, Armando Martins Janeira, Pássaro de Fogo.

Mensagens de Inês de Castro - A história de amor que há séculos comove o mundo
Francisco Cândido Xavier e Caio Ramacciotti, Geem.

Memória de Inês de Castro de António Cândido Franco, Publicações Europa-América.

A Rainha Morta e o Rei Saudade - Romance histórico 
de António Cândido Franco, Ésquilo, 2005.

O Amor Infinito de Pedro e Inês, Luís Rosa, Editorial Presença.

A Trança de Inês, Rosa Lobato de Faria, 
Círculo de Leitores, Lisboa, 2001.

La treccia di Inês, Rosa Lobato de Faria, Imprimatur, 2015 - edição italiana.

Inês - romance histórico de Maria João Fialho Gouveia, 2016.

La Reine Morte par Henry de Montherlant, Gallimard, Drame en trois actes. 
Suivi de «Régner après sa mort» de Luis Velez de Guevara, 1947 - edição 110.ª

Ignez de Castro - romance historico original, Faustino da Fonseca, 1871-1918, Volumes III e IV,
Typographya Lusitana-Editora de Arthur Brandão, Lisboa, 1901. Obra em 4 volumes, volume III.

Ignez de Castro - romance historico original, Faustino da Fonseca, 1871-1918, Volumes III e IV,
Typographya Lusitana-Editora de Arthur Brandão, Lisboa, 1902. Obra em 4 volumes, volume IV.

Ignez de Castro - romance historico original, Faustino da Fonseca, 1871-1918, Volumes III e IV,
Typographya Lusitana-Editora de Arthur Brandão, Lisboa, 1901.

Ignez de Castro - Romance histórico de Faustino da Fonseca, 2.ª edição em 2 volumes, 
Antiga casa Bertrand - José Bastos, Lisboa, s.d.

Ignez de Castro de Faustino da Fonseca, Typographia Lusitana 
- Editora de Arthur Brandão, Lisboa, 1901-1902.

Inez de Castro de Faustino da Fonseca, Fronteira do Caos Editor, 2013.

Os filhos de Ignez de Castro, romance histórico, Faustino da Fonseca e  Joaquim Leitão, 
Livraria Tavares Cardoso, Lisboa, 1905.

A Morta - Monologo Dramatico original – Representado com geraes aplausos em diversos teatros de Portugal, 
Augusto Garraio, Livraria Popular de Francisco Franco, Lisboa, 1900.
Apresenta um monólogo de D. Pedro dirigido a D. Inês depois de morta.

La iffanta (sic) coronada, por el Rey Don Pedro, Doña Ines de Castro - en octava rima 
por Don Juan Soares de Alarcón, Lisboa, 1606.
O autor é João Soares de Alarcão, Português, não Castelhano.

Coronica (sic) del serenissimo rey don Pedro, hijo del rey don Alonso de Castilla
Pedro Lopez de Ayala, 1332-1407, Por Pedro Porralis, Pamplona, 1591.


***********************************************************************
UMA OBRA MULTIPLICADA
Através de imitações, versões, adaptações, traduções livres...

     Para além das obras de Gerónimo Bermudes (Inês Lastimosa ou Lacrimosa e Inês Laureada, a primeira plagiada de António Ferreira e publicada sob o nome de António Silva), Reynar después de morir (Reinar depois de morrer) de Luis Vélez de Guevara (1579-1644) foi provavelmente a obra mais publicada, mais imitada e adaptada, pelo menos em Espanha.
     Entre os imitadores, surge Juan de Matos Fragoso, que na verdade é o poeta e dramaturgo português João de Matos Fragoso (1608-1689), nascido no Alvito. Este autor (ou o impressor ou editor) mudou no entanto o título para Ver y Crer, acrescentando que se trata da "segunda parte de Reynar después de morir" ou "segunda parte de Ignez de Castro". Esta versão ou adaptação foi publicada e republicada diversas vezes ao longo do século XVIII.




Reynar despues de morir - comedia famosa por Luis Vélez de Guevara, 1579-1644, 
en la Imprenta de la Viuda de Joseph de Orga. Valencia, 1765.

Reinar Depois de Morrer de Luis Vélez de Guevara, 1579-1644 - Cópia de 15 de Dezembro de 1783.
Adaptação ou tradução livre de António José de Oliveira - BNP.

Reinar después de morir - comedia famosa en tres jornadas
– Original de Luis Vélez de Guevara refundida por Francisco Fernández de Villegas, ‘Zeda’, pseud.,
segunda Edición. Representada en el Teatro Español la noche del 28 de Octubre de 1902,
Sociedad de Autores Españoles, Madrid, 1929.

Inés de Castro, ó, Reinar después de morir - comedia famosa de Luis Vélez de Guevara 
– Adaptación Lírica por Juan José Cadenas. Música de los los maestros Calleja y Lleó
R. Velasco Impresor, Madrid, 1903.
Neste caso, a obra foi adaptada num espectáculo de ópera.
Foram também feitas diversas adaptações no formato de literatura infanto-juvenil ilustrada.




Ver, y creer - segunda parte de Doña Ines de Castro - comedia famosa, Juan de Matos Fragoso, Juan de, 1608-1688, 1701 - rosto.





*******************************************************

BD & LIVROS ILUSTRADOS

Nomes com História - Inês de Castro de Ana Oom, ilustrações de Sandra Serra, 2015.

D. Pedro I - O Justiceiro, ilustrações de André Letria, 
Colecção Era uma vez um rei..., n.º 3, Expresso, 2006.

Inês de Castro - A história de Inês de Castro 
ou a Dama Lourinha que depois de morta virou rainha,
texto de Fábio Sombra, ilustrações de Walter Lara, Editora Compor.

Inês de Castro... a que depois de morta foy Rainha
texto e desenhos de Eugénio Silva, Meribérica-Liber Editores Lds., 1994.

Inês de Castro... a que depois de morta foy Rainha
texto e desenhos de Eugénio Silva, Meribérica-Liber Editores Lds., 1994.

The Skeleton Who Was Queen, in Gold Key, Dezembro.1970.


História de Portugal em Banda Desenhada, texto de A. do Carmo Reis e desenhos de José Garcês,
edição em quatro volumes, publicados entre 1986 e 1989.

Historias de Luis Vélez de Guevara – Relatadas a la Juventud por José Baeza, 
Com Ilustraciones de E. Ochoa, Casa Editorial Araluce, Barcelona, 1900-capa.
Contém Reynar Después de Morir.

Historias de Luis Vélez de Guevara – Relatadas a la Juventud por José Baeza, 
Com Ilustraciones de E. Ochoa, Casa Editorial Araluce, Barcelona, 1900-capa.
Contém Reynar Después de Morir.

Historias de Luis Vélez de Guevara – Relatadas a la Juventud por José Baeza, 
Com Ilustraciones de E. Ochoa, Casa Editorial Araluce, Barcelona, 1900-capa.
Contém Reynar Después de Morir.

Reinar después de morir, Velez de Guevara, Teatro Selecto.

Reinar después de morir, Velez de Guevara, Casa editorial de La Ultima Moda, Madrid.





domingo, 31 de outubro de 2021

VERSO E REVERSO DA ALMA LUSITANA

 LIRISMO, TRAGÉDIA E REALISMO

     «Contrariamente à crença geral, a verdade não se impõe por si mesma. O erro que entra no domínio público permanece nele para sempre. As opiniões transmitem-se, hereditariamente, como as terras. Constrói-se nelas. As construções acabam por formar uma cidade - e ditar a história.» Henri Bergson (1859-1941) 

      Voltemos, agora, ao lirismo trágico que perdura na literatura e nas crenças populares. Até porque, para além de todo o contexto, aquilo que perdurou através do tempo foi a história/lenda de amor e não os meandros da intriga política ou os traços patológicos do carácter de D. Pedro. E esta memória faz sentido, porque provavelmente não há histórias mais intemporais e universais do que as histórias de amor ou aquelas que são tomadas como puras histórias de amor. Mas para que estas histórias se tornem verdadeiramente belas, às vezes, é preciso depurá-las, arrancá-las à própria realidade e aproximá-las de um ideal intangível e, ainda assim, intrinsecamente humano. Através destas histórias trágicas, não é apenas um sentimento individual que perdura, é o próprio amor, enquanto arquétipo eterno capaz de sublimar todo o mal, toda a dor e todos os erros, que ultrapassa as barreiras do tempo e das vivências individuais.

     Há algumas décadas, Jacinto do Prado Coelho (Originalidade da Literatura Portuguesa, ICALP, 1977) apontava o lirismo e a sátira como dois dos principais traços distintivos da Literatura Portuguesa e lamentava a escassez de narrativas de grande fôlego, embora considere que Portugal tem “bons autores de ficção”. O lirismo cruza-se com o saudosismo e cria uma ambiência mental inclinada para o subjectivismo e avessa à acção (o sentir que se sobrepõe ao agir). A acção é de facto o elemento estruturante da narrativa, tal como o subjectivismo e as emoções são a força vital do lirismo. Esta tendência para o lirismo e o subjectivismo seria um reflexo do próprio “ser português”. Cada literatura reflecte o povo que a cria. Mas a par da “literatura lacrimejante”, surge a sátira e a comédia, como contraponto ao carácter depressivo e também como tendência natural do temperamento português. Vista deste modo, a Literatura Portuguesa quase parece bipolar: o autor / leitor chora a beleza triste de um episódio amoroso e / ou trágico e, logo a seguir, tem de contar uma anedota para equilibrar as emoções. Hoje a comédia e o humor estão por todo o lado, no stand up, nos programas televisivos, mesmo nos de comentário e crítica, e em qualquer mesa de café. Quem não sabe contar uma anedota, às vezes absurda e até ofensiva, é enfadonho e pessimista, não tem sentido de humor. Quem não se comove com um belo poema de amor é um insensível sem coração. Estas são dicotomias radicais mas não distantes da realidade.

D. Pedro I - Feira Medieval em Santa Maria da Feira, 2018.

     Jacinto do Prado Coelho nota também a “escassez do trágico” na Literatura Portuguesa. Como verdadeiramente trágicas, e seguindo Ruben A., aponta apenas três obras: Inês de Castro (sem nomear explicitamente a Castro de António Ferreira ou outra), Frei Luís de Sousa (Almeida Garrett) e algumas “páginas da História Trágico-Marítima” (Bernardo Gomes de Brito). Mais adiante, seguindo Miguel de Unamuno, acrescenta Camilo Castelo Branco, que “exalta aquele sentido trágico da existência”. O trágico genuíno tende a esbater-se e o que fica é apenas uma aproximação à tragédia: «(…) as arestas do trágico tendem a esbater-se, na literatura portuguesa, em cambiantes do sentimental ou do elegíaco ― para não falar no melodrama».

     A lenda dos amores de Pedro e Inês é em si mesma genuinamente trágica, lírica e subjectiva; bebe a inspiração na História mas afasta-se dela. E, no entanto, quase todos os que apreciam a tragédia de Pedro e Inês tomam a lenda como história completamente factual. A História autêntica é muito mais trágica e, por isso mesmo, incompatível com o lirismo intimista que pode dilacerar a alma mas deixa o corpo vivo para continuar a experimentar a dor. A tragédia não recorre a subterfúgios, apresenta a crueza da dor e da morte que nenhuma “justiça” pode redimir. Talvez por isso, a lenda continua tão viva, como forma de tentar fazer “justiça” ao longo do tempo. Quem não se comove com os amores trágicos de Pedro e Inês, tal como a Literatura os apresenta, deve ser de facto insensível. Neles há vida autêntica, lirismo e tragédia. Apesar do apego persistente a esta tragédia específica, que já conta 665 anos, Jorge Dias, citado por J.P. Coelho, afirma: «O Português não gosta de ver sofrer e desagradam-lhe fins demasiado trágicos». Os criadores da lenda e os leitores que solicitaram a introdução da cena da coroação do cadáver de D.ª Inês na Nova Castro, de João Baptista Gomes, contrariam esta visão.

Nova Castro, tragedia de João Baptista Gomes Junior. 
Nova ed. cor. de muitos erros, e augmentada com a brilhante scena da coroação, 
João Baptista Gomes, Typographia de Sebastião José Ferreira, Porto, 1857.

     Cada leitor ou espectador é, antes de mais, um ser humano que sente e busca emoções. O amor transcendente e sem barreiras de Pedro e Inês é muito mais mito e utopia do que História e, por isso mesmo, é também mais um reino de emoções do que uma sucessão de actos. Na vida real, poucos seriam os que aplaudiriam a morte de Inês, mesmo que ela fosse uma conspiradora maquiavélica e dissimulada. Na vida real, poucos seriam os que defenderiam o frio homicida que arranca corações. Na vida real, poucos seriam os que fariam a apologia da traição e dos traidores, pois toda a história de Pedro e Inês é fundada neste alicerce decadente e destrutivo. Na vida real, poucos seriam os que defenderiam a felicidade individual em detrimento do bem e soberania do próprio país. Mas perante a imagem idealizada de um amor maior do que o poder político, do que o interesse nacional e do que a própria vida, os factos tornam-se irrelevantes ou são interpretados com outros olhos. As emoções íntimas e subjectivas têm estas nuances contraditórias; são capazes de tolerar e justificar a cobardia, a traição, o horror, o ódio, se eles forem meios para atingir um “fim maior”: o amor, humano e divino, terreno e imortal. E nenhum espectador se sente culpado por sentir empatia, mais ou menos profunda, com os amantes trágicos; nem aqueles que jamais agiriam como eles, nem os que os consideram apenas um símbolo do excessivo sentimentalismo nacional, nem os que vêem neles sublimes heróis trágicos, nem aqueles que simplesmente sentem, interiorizam e partilham tudo o que vêem, lêem ou ouvem.

     A maior parte dos receptores e transmissores populares ao longo dos séculos tem muito deste último grupo, o dos que sentem tudo e tornam suas todas as histórias. Se não fossem estes, a lenda nunca se construiria, toda a poesia amorosa seria uma coisa árida e os escritores eruditos veriam a sua fantasia e inspiração sistematicamente destruída pela racionalidade, pela História e pelas exigências dos leitores de cada época. Mas nenhum autor passa incólume pelo seu tempo; cada vez que a história de Pedro e Inês foi reescrita, apesar de manter uma dose mais ou menos elevada e intemporal de lirismo trágico, assimilou o espírito de cada época, foi metamorfoseando a Lenda e a História.

D. Inês de Castro, António da Costa Pinheiro.

     Enquanto, até meados do século XIX, a figura principal continuou a ser D.ª Inês, vista como vítima indefesa e heroína trágica, a partir de meados desse século, D. Pedro assumiu muitas vezes o protagonismo (ex. António Patrício, Pedro o Cru, drama em 4 actos, 1918; Pierre de Portugal, tragédie en cinq actes par Lucien Émile Arnault, 1827), em grande medida devido ao avanço nos estudos historiográficos que já não permitia aos mais eruditos alimentar a lenda de forma tão ingénua. A História não mostra um D. Pedro imaculado e justo, mostra um ser humano com uma personalidade forte, com muitos excessos e máculas; vícios e virtudes passaram a coexistir na personagem e as abordagens tornaram-se menos ingénuas e facciosas. Já no século XX, houve até quem, finalmente, tenha feito de D.ª Constança (ex. Eugénio de Castro, Constança, 1900; A Morte de Constança, poema, 1902), a heroína trágica, porque de facto foi ela a primeira vítima real desta tragédia. Mais recentemente, Isabel Machado publicou Constança – A Princesa Traída por Pedro e Inês (A Esfera dos Livros, 2015).

     Até ao presente, foram escritas centenas de obras sobre a lenda de Pedro e Inês, em vários lugares, tempos e línguas. A história ficou lá atrás, a lenda não morre, não morre Pedro e Inês nem acabam os amores trágicos. Na bibliografia indico algumas dessas obras (literárias, teatrais, musicais, iconográficas) com alguns comentários, notas ou meras interpretações pessoais.


Pierre de Portugal, tragédie en cinq actes par Lucien Émile Arnault, 1787-1863. 
Chez J.N. Barba, Libraire, Paris, 1823.

Poesias escolhidas, 1889-1940, Eugénio de Castro, 1869-1944, Livraria Aillaud & C.ª, Paris-Lisboa, 1902 - A Morte de Constança.

Eugénio de Castro in Poesias Escolhidas, 1889-1940, Eugénio de Castro, 1869-1944, 
Livraria Aillaud & C.ª, Paris-Lisboa, 1902.

Pedro, o Cru - Drama em 4 actos, de António Patrício, Atlântida, Lisboa, 1918.


Sinde Filipe em Pedro, O Cru, de António Patrício, RTP, 1966.

D. Pedro I, o Cru - Esboço de estudo nosographico, Jayme Moreira. Lisboa, 
Typographia do Annuario Commercial, 1914.


Noites de Inês-Constança, Fiama Hasse Pais Brandão, Assírio & Alvim, 2005.



LENDA & HISTÓRIA XIII

 INTERROGAR FAZ BEM

     Leia-se a História e a Lenda com a mesma dedicação e o mesmo bom senso. Quem quiser, pode também colocar interrogações e tentar responder-lhes de diversos modos, conforme a face ou faces do prisma por onde olhar. E se D.ª Inês nunca tivesse vindo para Portugal, acompanhada pelos seus ambiciosos irmãos? E se D. Pedro tivesse colocado a soberania do reino acima dos seus sentimentos, interesses e ambições? E se D.ª Inês tivesse respeitado e amado a princesa (D.ª Constança) que a incluiu no seu séquito e tivesse respeitado a nação que a acolheu? E se as rivalidades entre Castros, Pachecos, Teles de Meneses, Pereiras e outros tivessem seguido um rumo diferente e tivessem colocado sempre Portugal e o Povo, uno e diverso, à frente das suas ambições? E se D.ª Inês não tivesse sido assassinada ou se um dos seus filhos tivesse, de facto, subido ao trono de Portugal? O mais provável é que Portugal deixasse mesmo de existir e fosse engolido por Castela e Leão. Portugal seria uma outra Catalunha, uma Galiza, um País Basco, uma Andaluzia, um território sempre em busca de mais autonomia ou da independência há muito perdida. A Língua Portuguesa desapareceria; quando muito assemelhar-se-ia ao que é hoje o galego. D. João I, Mestre de Avis, nunca teria sido rei, nunca teria casado com D.ª Filipa de Lencastre e a Ínclita Geração nunca teria nascido. Não teria havido um Infante D. Henrique, uma Escola Náutica de Sagres, viagens até aos quatro cantos do mundo, excepto nas caravelas castelhanas. Talvez o genocídio dos povos nativos dos territórios conquistados tivesse sido menor ou maior, talvez tivesse havido menos ou mais tráfico de escravos, menos ou mais “cobiça e glória de mandar” (Camões, Os Lusíadas, Canto IV). Não teria havido um Brasil ou nações africanas que falam Português. Provavelmente, a colonização de todos os territórios conquistados teria sido idêntica, mas muito mais ampla e destrutiva, sem o Tratado de Tordesilhas… e um dia, sabe-se lá quando, uma geração de jovens perguntaria “Por que morreu Portugal quando era ainda tão jovem?”. Ou então, não. A maioria esqueceria quem era e quem tinham sido os seus antepassados ou ficaria simplesmente feliz com a abolição de fronteiras e a ilusão de pertencer a uma nação maior e “melhor”, embora a Espanha só tenha sido realmente unificada e assumido o nome que tem hoje no século XVIII. Certos sectores da nobreza, sempre ambiciosa, comodista e parasitária, com o tácito e estratégico apoio de grande parte do clero, rejubilariam com a União Ibérica, a Monarquia Dual ou Única. E se as elites ficassem felizes, pouco importaria a voz do Povo. O Povo não é português, castelhano, francês, inglês… é o Povo. 


Ilustração de Cândido Portinari (1903-1962).

Ilustração de Manuel Ribeiro Pavia (1907-1957) in Fanga de Alves Redol.

     Seja qual for a perspectiva que se adopte, o efeito do tempo acaba por vencer, pelo menos parcialmente. O tempo, que transforma a História em lenda e mito, há muito que transformou os amores de Pedro e Inês num dos mais queridos mitos nacionais. Para isso contribuiu a Literatura, mas também certos traços do ser lusitano, o lirismo, o saudosismo e a tragédia. Camões já conhecia bem esses traços colectivos, que também faziam parte do seu próprio carácter individual, ou não teria incluído o episódio lírico-trágico dos amores de Pedro e Inês (Canto III) na maior epopeia nacional (Os Lusíadas).

Os Lusíadas, Luís Vaz de Camões, Lisboa, 1572 (1.ª edição).



*******************************************


sábado, 23 de outubro de 2021

LENDA & HISTÓRIA XII

 MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES… E AS PRÁTICAS

      A História das sociedades e das instituições, que as suportam e moldam, mostra bem como o verdadeiro Humanismo levou muitos séculos a construir-se e continua inacabado e imperfeito. Também demonstra que a tortura física e as execuções mais bárbaras eram comuns, toleradas e até consideradas uma forma adequada de praticar a justiça. Seria necessário chegar ao século XIX para que a pena de morte fosse questionada e gradualmente abandonada. Em Portugal, seria abolida em 1867, no reinado de D. Luís.





D. Luís I (1838-1889).
Retrato do rei D. Luís (1865-68), por Michele Gordigiani. Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa.



Carta de Abolição da Pena de Morte em Portugal, 1867, reinado de D. Luís.



     Quanto aos casamentos de consanguinidade, por vezes com um grau de parentesco muito próximo, também só começaram a ser abandonados no século XIX, quando a Medicina e a Psiquiatria vieram demonstrar que a degenerescência, as taras e doenças hereditárias eram uma consequência inevitável dessa prática, sobretudo entre as famílias reais e aristocráticas.


A imbecilidade e degenerescencia nas familias reaes, Dr. Antão de Mello, 
Livraria Central de Gomes de Carvalho, Lisboa,1908.

A imbecilidade e degenerescencia nas familias reaes, Dr. Antão de Mello, Livraria Central de Gomes de Carvalho, Lisboa,1908.

     Segundo os padrões éticos actuais, D. Pedro seria considerado um déspota e ninguém sensato se atreveria sequer a associá-lo a uma bela história de amor. Aquilo a que se chamou justiça seria hoje classificado como extrema barbárie. Os conluios, conspirações e nepotismo (que continuam a existir e de forma ainda mais generalizada) seriam hoje alvo de exame e crítica, mesmo que passassem impunes pelo largo crivo da lei, como é demasiado frequente. Os casamentos de conveniência ou a proliferação da concubinagem e de filhos bastardos seriam hoje encarados como manifestações de uma moral hipócrita, de fragmentação e destruição das relações sociais, familiares e pessoais e como causa de inúmeros traumas e crimes. D. Pedro e D. Inês foram também um produto do seu tempo, um tempo em que a barbárie coexistia por vezes com laivos de humanidade imprescindíveis à construção e sobrevivência de todas as lendas.

D. Pedro I, ilustração de António Costa Pinheiro.



LENDA & HISTÓRIA XI

 A ESQUIVA INTRIGA POLÍTICA E OS CASAMENTOS DE CONVENIÊNCIA

 

     Com D.ª Inês, D. Pedro teve quatro filhos (Afonso, João, Dinis e Beatriz). De outras mulheres, algumas também servidoras de D.ª Constança e de D.ª Inês, teve outros filhos. Cerca de dois anos após a morte de D.ª Inês, teve, com Teresa Lourenço, D. João, também filho bastardo, que viria a tornar-se Mestre de Avis, D. João I, o pai da Ínclita Geração. D. João I nasceria em Lisboa a 11 de Abril de 1357 e morreria na mesma cidade a 14 de Agosto de 1433. António Luís de Sousa Henriques Secco (1822-1892), nos Novos elogios historicos dos reis de Portugal, afirma que D. Pedro teve, pelo menos mais uma filha de mãe não identificada, contemplada no seu testamento: «(…) e ultimamente uma outra filha, como se deprehende do testamento, que fez na véspera da sua morte, cujo nome e maternidade se ignora.» A história dos filhos de D. Inês é também interessante e comprova como eram perigosos para a soberania do reino, mas não cabe neste artigo já longo. Abaixo, afloro apenas alguns episódios mais marcantes da vida de D. João de Castro no que toca à pretensão ao trono de Portugal.

      A intriga política é intrincada e extensa, não cabe aqui nem possuo todos os dados necessários para a abordar de forma adequada. Nos posts finais sobre o tema “Pedro & Inês”, apresento uma longa bibliografia e links para quem estiver interessado. Ler apenas uma parte pode significar seguir apenas o caminho da Lenda ou da História; ler a totalidade pode destruir uma das mais belas histórias de amor da Literatura Portuguesa. É só uma advertência… Ou então lê-se, descobrem-se os meandros da verdade, olha-se pelas múltiplas faces do prisma e tenta-se separar as águas. Qualquer que seja a perspectiva que se adopte, o certo é que o contexto histórico-cultural é sempre essencial para compreender as pessoas de cada época.

     É evidente, por exemplo, que o casamento enquanto laço contratual de benefício recíproco, como o que vigorava na época, não é comparável ao casamento fundado no amor, como supostamente acontece na maioria das sociedades actuais. No entanto, ao contrário do que se possa supor, para os cidadãos comuns, casar era fácil e acessível a qualquer um: bastava a presença de duas trestemunhas, nem sequer era preciso apresentar uma dispensa de consanguinidade ou registos notariais e também havia uniões consanguíneas entre as classes intermédias e mais baixas. A este tipo de casamento, à margem das burocracias civis e eclesiásticas, chamava-se casamento «por palavras de presente», isto é, bastavam as palavras dos nubentes declarando que desejavam casar um com o outro. Este tipo de casamento não era considerado completamente legítimo e era evitado, sobretudo para evitar dissabores futuros aos seus descendentes.

     Os casamentos complicados eram os dos membros da casa real e da nobreza, quer os das linhagens legítimas quer das ilegítimas. Estes dependiam de bulas, autorizações e perdões da Santa Sé, que deste modo controlava ainda mais a vida política das nações. Estes estabeleciam contratos pré-matrimoniais com muitas cláusulas com o objectivo de salvaguardar os direitos e privilégios das partes, tanto do ponto de vista material como político. No caso das princesas e príncipes herdeiros, as cautelas eram ainda maiores e os contratos eram redigidos por um conselho de peritos (juristas, eclesiásticos e políticos). Em teoria, quebrar um destes contratos tinha consequências sérias. Mas não parece tê-las tido quando D. Pedro quebrou o contrato matrimonial com D. Branca de Castela.

     D.ª Leonor Teles de Meneses também quebrou o contrato de casamento com o seu primeiro marido, para se casar com o herdeiro da coroa portuguesa, D. Fernando, filho de D. Pedro I. Primeiro abandonou o marido (João Lourenço da Cunha, de quem já tinha um filho), depois casou duas vezes com D. Fernando, primeiro “por palavras de presente” (1371) e depois através de um casamento público (1372), em Leça do Balio. Posteriormente, para ver reconhecido este último casamento e a legitimação da filha de ambos, D.ª Beatriz, herdeira da coroa portuguesa, conseguiu uma autorização da Santa Sé, alegando a existência de um laço consanguíneo com o seu primeiro marido que desconheceria na altura em que casou. Este pedido de dispensa foi pedido à Santa Sé pelo próprio D. Fernando. Para casar com D.ª Leonor Teles, D. Fernando quebrou o contrato matrimonial com D.ª Leonor de Trastâmara, filha de Henrique II de Castela.

D. Leonor Teles. Ilustração de Roque Gameiro.

     A infeliz irmã de D.ª Leonor Teles, D.ª Maria Teles de Meneses, casou secretamente, sem qualquer autorização ou documento específico, com D. João de Castro, filho de D.ª Inês, e meio-irmão de D. Fernando. Também ela já era casada com D. Álvaro Dias de Sousa, de quem tinha um filho. Passados sete anos de união, D. João de Castro (também designado D. João de Portugal por aqueles que consideravam ser ele o legítimo herdeiro da coroa durante a crise de 1383-1385), assassinou a mulher, D.ª Maria Teles, à punhalada. 

D. João de Castro, filho de Inês de Castro e de D. Pedro I mata a mulher, Maria Teles, irmã de Leonor Teles. Ilustração de Roque Gameiro in Leonor Telles de Marcelino Mesquita, Lisboa, 1904 (3 vols.).

     D. João de Castro, apoiado pela alta nobreza portuguesa, estaria mesmo decidido a ser rei de Portugal, casando com D.ª Beatriz (filha de D. Fernando e D.ª Leonor Teles). D.ª Leonor Teles terá sido conivente com o assassinato da irmã (segundo alguns foi a instigadora), inventando um adultério que não existia, pois desejaria ver D.ª Beatriz, sua filha, casada com o suposto herdeiro da coroa portuguesa. Segundo outros, a trama vem sobretudo de D. João de Castro que, não sendo jurado herdeiro da coroa portuguesa, poderia obtê-la casando com D.ª Beatriz. Contudo, o assassinato de D.ª Maria Teles teve graves consequências para D. João de Castro que se viu obrigado a fugir para Castela. Casa novamente, com D.ª Constança de Castela, la Rica Hembra, filha bastarda de D. Henrique II de Castela, e pega em armas contra Portugal e o Mestre de Avis, futuro D. João I de Portugal. Reclama para si o trono de Portugal em concorrência com a própria D.ª Beatriz, com quem não casou, com o Mestre de Avis (seu meio-irmão) e com o próprio D. João I de Castela. Este último, sabendo-o seu rival na pretensão ao trono português, prendeu-o em Salamanca onde acabou por morrer e foi sepultado no Mosteiro de Santo Estêvão. 

     D. João de Castro teve, pelo menos, onze filhos de cinco mulheres diferentes (4 legítimos e 7 ilegítimos). D.ª Beatriz de Portugal, filha de D. Fernando, acaba por casar com D. João I de Castela. O Mestre de Avis acaba por ascender ao trono como D. João I de Portugal e D.ª Leonor Teles, depois de ter mandado prender o Mestre de Avis em Évora, vê-se obrigada a refugiar-se em Castela e a recolher-se no Mosteiro de Tordesilhas (por ordem do seu genro, D. João I de Castela) onde viria a morrer.

Prisão do Mestre de Avis por ordem de Leonor Teles. Ilustração de Alfredo Roque Gameiro 
in História de Portugal, popular e ilustrada, por Manuel Pinheiro Chagas, (1899-1905).

     Os meandros desta intrincada história de ambição, traição e morte tem ainda muitas lacunas por preencher, mas também muitas inquietantes certezas. O contexto histórico-cultural e político ajuda a compor o puzzle e a discernir o essencial sobre os actos, as causas e as consequências.


sexta-feira, 22 de outubro de 2021

LENDA & HISTÓRIA X

 AS LENDAS PRECISAM DE SÍMBOLOS, FÁBULAS… E COINCIDÊNCIAS

     Outro erro propagado pela lenda refere-se à colocação dos túmulos, que mudaram de lugar e posição várias vezes. Inicialmente estavam colocados lado a lado e não frente a frente. Essa disposição terá sido adoptada apenas no século XVII ou até XVIII por uma mera questão de conveniência espacial, permitindo desse modo uma maior mobilidade durante as cerimónias religiosas. Este facto prova que esse detalhe só foi adicionado à lenda tardiamente. Segundo a lenda, D. Pedro terá escolhido esta disposição dos túmulos (frente a frente) para que no Dia do Juízo Final, quando ressuscitassem dos mortos, ele e D.ª Inês pudessem ver-se um ao outro desde o primeiro instante (cf. Manuel Vieira Natividade (Ignez de Castro e Pedro o Cru - Perante a iconographia dos seus túmulos, Lisboa, 1910). Os túmulos foram abertos no reinado de D. João III e no de D. Sebastião, mas não mudados de lugar nem danificados. Como já foi referido acima, os danos começaram a surgir mais tarde com as Invasões Francesas.

     Citando Ferdinand Denis, Vieira Natividade refere o suposto roubo dos cabelos de D. Inês pelos soldados franceses quando passaram por Alcobaça em 1811. Mesmo assim, algumas madeixas teriam sido salvas para depois se perderem no Brasil, quando uma rajada de vento tudo levou:

     «Ferdinand Denis dá testemunho de que vira uma carta em que o marquez de Rezende dizia que uma grande porção dos cabellos de D. Ignez fora levada á corte do Rio de Janeiro, e que, na occasião em que o conde de Linhares a estava offerecendo a D. João VI, foram arrebatados por uma forte ventania, sem que jamais fosse possível encontra-los.

     O mesmo auctor igualmente da noticia de que uma pequena madeixa de cabellos de D. Ignez de Castro, que vira n'outro tempo no gabinete de Denon, se conservava ultimamente num relicário da collecção do conde de Pourtales.

     O sr. Miguel Osório Cabral de Castro, actual proprietário da quinta das Lagrimas, possue alguns fios dos cabellos de D. Ignez de Castro em um lindo relicário.

     Em Alcobaça uma única pessoa possuía cabellos de D. Ignez. Era o sr. Bernardino Lopes d'Oliveira. Foram-lhe offerecidos, segundo nos declarou, por um velho de Alcobaça, que se dizia o próprio que collocara os restos de D. Ignez dentro do tumulo, logo que os francezes sahiram de Alcobaça.

     E temos que accrescentar á curiosa galanteria dos cabellos, pretendidos anneis, que correm como authenticos, relíquias do seu vestuário, e... um próprio seio mumificado!»

(In Ignez de Castro e Pedro o Cru - Perante a iconographia dos seus túmulos, Manuel Vieira Natividade, Lisboa, 1910, págs. 114-116)


Túmulos de D. Pedro I e D. Inês de Castro, Mosteiro de Alcobaça.
(Ignez de Castro e Pedro o Cru - Perante a iconographia dos seus túmulos, Manuel Vieira Natividade, Lisboa, 1910)



Manuel Vieira Natividade, Lisboa, 1910

     A título de curiosidade, António Pereira de Figueiredo, nos Elogios dos Reis de Portugal, menciona umas “memórias antigas” em que se conta que D. Pedro ressuscitou temporariamente, porque se tinha esquecido de confessar um pecado. Confessou esse pecado inominado e voltou a morrer. 

          «Deste Rei se acha escrito em Memorias antigas, que quando já estava para ser sepultado, ressuscitára pelos merecimentos, e orações do Apostolo São Bartholomeo, de quem fora especial devoto; e que depois de se ter confessado de certo peccado, que antes lhe tinha esquecido, tornára a expirar.

     O mesmo estando próximo à morte declarou, que elle sabía, que Diogo Lopes Pacheco estava innocente na morte de D. Ignez de Castro; e por isso mandava, que lhe fossem restituídos todos os seus bens, e elle ao Reino, donde andava fugitivo. O que tudo cumprio depois El-Rei D. Fernando à risca.» 

     Também contam vários autores que D. Pedro teve um sonho em que via um filho seu, de nome João, subir ao trono de Portugal após a sua morte. Não se sabe se nesse sonho terá reparado em quem era a mãe: Inês de Castro ou Teresa Lourenço. Após a morte de D. Fernando, foi D. João, Mestre de Avis, filho natural de D. Pedro e de Teresa Lourenço, quem subiu ao trono. D. João, filho de Inês de Castro e de D. Pedro, conjuntamente com seu irmão, D. Dinis, aliou-se a um dos partidos de Castela e pegou em armas contra Portugal. D. João de Castro casou com D.ª Maria Teles, que era aia da infanta D. Beatriz (filha de Inês de Castro) e irmã de D.ª Leonor Teles que casou com D. Fernando. D.ª Maria Teles acabou assassinada à punhalada (uma no coração, outra nas virilhas) por D. João de Castro, seu marido. D. João foge depois para Castela, indo refugiar-se junto da irmã Beatriz, que entretanto casara com o Conde de Albuquerque (irmão de Henrique II de Trastâmara, rei de Castela, filho bastardo de Afonso XI), que vivia na zona de Salamanca. Parece que pelo menos este filho de Pedro e Inês herdou a propensão para aniquilar quem menos o merecia. Mais uma vez, a violência e os punhais…  

     Outra curiosidade, que nada acrescenta à História, excepto aquela sensação de haver coincidências estranhas, é o facto de três mulheres, ligadas pela genealogia, terem morrido todas no dia 7 de Janeiro: D.ª Inês foi assassinada a 7 de Janeiro de 1355; D.ª Catarina de Aragão (filha dos Reis Católicos, Isabel I de Castela e D. Fernando II de Aragão, além de uma das seis mulheres de Henrique VIII) morreu a 7 de Janeiro de 1536; D.ª Carlota Joaquina (mulher do rei D. João VI) morreu a 7 de Janeiro de 1830. Já agora, D. Dinis também morreu no dia 7 de Janeiro, em 1325.


Catherine of Aragon by Michel Sittow, 1468-1525, n.d.


LENDA & HISTÓRIA IX

 A NUNCA ESQUECIDA CONSTANÇA

 

     D.ª Constança, também descrita como muito “bela e discreta”, não foi sepultada num panteão real mas num túmulo singelo (“arca pétrea”) em Santarém. O facto de ter sido a mãe do futuro rei de Portugal, D. Fernando, não foi suficiente para que D. Pedro a honrasse ou homenageasse. Pelo contrário, a sua memória parece ter sido completamente apagada. D.ª Constança foi inicialmente (1345) sepultada no Convento de S. Domingos das Donas (ou Convento das Donas). Posteriormente, em 1376, D. Fernando, seu filho, ordenou que os seus restos mortais fossem trasladados para o Convento de São Francisco, também em Santarém, para serem sepultados numa zona nobre da igreja, o coro-alto. Foi, aliás, D. Fernando quem se preocupou em restaurar e ampliar este convento, construindo o coro-alto e o claustro. Além disso, elevou este convento à qualidade de “panteão régio”, recusando que sua mãe fosse sepultada em Alcobaça e fosse novamente humilhada, mesmo depois de morta. Por vontade sua, D. Fernando viria a ser sepultado ao lado da mãe, a mãe que ele nunca conheceu, pois D.ª Constança morreu duas semanas após o parto e o infante seria criado pelos avós, D. Afonso IV e D.ª Beatriz.

     No final do século XIX (1875), ambos os túmulos foram transferidos para o Museu Arqueológico do Convento do Carmo, em Lisboa. Motivo? Os sucessivos actos de vandalismo contra estes túmulos, quer durante as Invasões Francesas, quer durante a Revolução Liberal, quer durante o processo de extinção das ordens religiosas e, mais tarde, com a instalação do Regimento de Cavalaria n.º 4 que assentou arraiais no Convento de São Francisco (Santarém) em 1844. Os militares decidiram usar os túmulos de D. Fernando e D.ª Constança como “cavalete de selas”, um apoio para as selas dos seus cavalos quando não estavam a ser usadas!!! Almeida Garrett, ele próprio um liberal, lamenta, nas Viagens na Minha Terra, o estado de decadência em que se encontrava o Convento de São Francisco e os túmulos reais nessa mesma altura (1846): «O belo jazido do rei formoso e frívolo (D. Fernando), tão dado às delícias do prazer como foi seu pai às austeridades da justiça, em que estado ele está! Oh nação de bárbaros! Oh maldito povo de iconoclastas que é este

 

D. Fernando I - Portret van koning Ferdinand I van Portugal.


Túmulo gótico de Fernando I de Portugal - convento do Carmo, Lisboa. Fotografia de Stephan Classen.


A SEMPRE ESQUECIDA CONSTANÇA

 

     D. Pedro não humilhou apenas D.ª Constança, em vida e depois de morta; humilhou também a sua avó, a rainha D.ª Isabel, mulher de D. Dinis (1261-1325). D.ª Isabel (1271-1336) mandou erigir o paço real de Coimbra, junto ao Mosteiro de Santa Clara, para se proteger das constantes infidelidades e maus tratos de D. Dinis, que chegou a exilá-la em Alenquer e a retirar-lhe as terras e bens que lhe pertenciam. Pois foi precisamente nesse paço de Coimbra, onde a fiel (D.ª Isabel) se refugiava do infiel (D. Dinis), que D. Pedro, o eterno infiel, se instalou com D.ª Inês após a morte de D.ª Constança, e foi no cemitério desse mosteiro que, segundo alguns, D.ª Inês foi inicialmente sepultada, em campa rasa. D.ª Isabel, que falecera em Estremoz, foi sepultada precisamente no Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra. Não surpreende, portanto, que tal comportamento de D. Pedro tivesse suscitado tanta revolta, não apenas pela relação que mantinha com D.ª Inês, mas porque com cada acto parecia querer humilhar e ofender a memória dos que já tinham partido. Antes de Coimbra, D. Pedro e D.ª Inês viveram temporariamente em outros locais, como Moledo, Canidelo, Jarmelo (Guarda), entre outros, mas a escolha do paço real de Coimbra foi certamente um acto premeditado e intolerável.   

     D. Fernando mandou gravar no túmulo da mãe o brasão dos Manuel (família de D.ª Constança Manuel) e da casa real portuguesa (casa de Borgonha, dinastia Afonsina). Mandou ainda gravar diversas cenas da vida de S. Francisco, incluindo uma em que este fala com os animais como seus iguais.

     D. Pedro, entre outros motivos decorativos, mandou gravar no seu túmulo uma Roda da Fortuna e, no de D.ª Inês, uma representação do Juízo Final em que uma fila de mortais caminha para cima, em direcção ao Paraíso, e outra fila caminha para baixo, em direcção ao Inferno. Como é natural, depreende-se que D. Pedro se imagina, a si e a D.ª Inês, entre aqueles que caminham para o Paraíso. Uma estranha consciência dos próprios actos que o leva a pensar que merecia a recompensa celestial. Entre os motivos religiosos gravados, um parece estranhamente violento: o diabo abre o ventre a Judas para lhe roubar a alma. De entre os elementos profanos, é curiosa a presença de vários instrumentos musicais no túmulo de D.ª Inês; D. Pedro sempre gostara de música, danças e divertimentos. No túmulo de D. Pedro está também a inscrição “Até ao fim do mundo”, um epitáfio perfeito. O facto de o túmulo de D.ª Inês ser ligeiramente menos sumptuoso e ter menos detalhes gravados deve-se, provavelmente, à determinação de a sepultar em Alcobaça com a máxima brevidade, após a declaração de Cantanhede.


"D. Constança, primeira mulher de D. Pedro I" por Roque Gameiro.

Constança – A Princesa Traída por Pedro e Inês, Isabel Machado, A Esfera dos Livros, 2015

 

Visita Guiada às Ruínas do Carmo, em Lisboa – Portugal

(D. Fernando I, a partir dos 11:57 minutos)

 

OTúmulo de D. Fernando I é um documento político (apenas o excerto referente a D. Fernando I)