MUDAM-SE
OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES… E AS PRÁTICAS
A História das sociedades e das
instituições, que as suportam e moldam, mostra bem como o verdadeiro Humanismo
levou muitos séculos a construir-se e continua inacabado e imperfeito. Também demonstra
que a tortura física e as execuções mais bárbaras eram comuns, toleradas e até
consideradas uma forma adequada de praticar a justiça. Seria necessário chegar
ao século XIX para que a pena de morte fosse questionada e gradualmente
abandonada. Em Portugal, seria abolida em 1867, no reinado de D. Luís.
D. Luís I (1838-1889).
Retrato do rei D. Luís (1865-68), por Michele Gordigiani. Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa.
Carta de Abolição da Pena de Morte em Portugal, 1867, reinado de D. Luís.
Quanto aos casamentos de consanguinidade,
por vezes com um grau de parentesco muito próximo, também só começaram a ser
abandonados no século XIX, quando a Medicina e a Psiquiatria vieram demonstrar
que a degenerescência, as taras e doenças hereditárias eram uma consequência
inevitável dessa prática, sobretudo entre as famílias reais e aristocráticas.
A imbecilidade e degenerescencia nas familias reaes, Dr. Antão de Mello,
Livraria Central de Gomes de Carvalho, Lisboa,1908.
A imbecilidade e degenerescencia nas familias reaes, Dr. Antão de Mello, Livraria Central de Gomes de Carvalho, Lisboa,1908.
Segundo os padrões éticos actuais, D.
Pedro seria considerado um déspota e ninguém sensato se atreveria sequer a
associá-lo a uma bela história de amor. Aquilo a que se chamou justiça seria
hoje classificado como extrema barbárie. Os conluios, conspirações e nepotismo
(que continuam a existir e de forma ainda mais generalizada) seriam hoje alvo
de exame e crítica, mesmo que passassem impunes pelo largo crivo da lei, como é
demasiado frequente. Os casamentos de conveniência ou a proliferação da
concubinagem e de filhos bastardos seriam hoje encarados como manifestações de
uma moral hipócrita, de fragmentação e destruição das relações sociais,
familiares e pessoais e como causa de inúmeros traumas e crimes. D. Pedro e D.
Inês foram também um produto do seu tempo, um tempo em que a barbárie coexistia
por vezes com laivos de humanidade imprescindíveis à construção e sobrevivência
de todas as lendas.
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