sábado, 23 de outubro de 2021

LENDA & HISTÓRIA XII

 MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES… E AS PRÁTICAS

      A História das sociedades e das instituições, que as suportam e moldam, mostra bem como o verdadeiro Humanismo levou muitos séculos a construir-se e continua inacabado e imperfeito. Também demonstra que a tortura física e as execuções mais bárbaras eram comuns, toleradas e até consideradas uma forma adequada de praticar a justiça. Seria necessário chegar ao século XIX para que a pena de morte fosse questionada e gradualmente abandonada. Em Portugal, seria abolida em 1867, no reinado de D. Luís.





D. Luís I (1838-1889).
Retrato do rei D. Luís (1865-68), por Michele Gordigiani. Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa.



Carta de Abolição da Pena de Morte em Portugal, 1867, reinado de D. Luís.



     Quanto aos casamentos de consanguinidade, por vezes com um grau de parentesco muito próximo, também só começaram a ser abandonados no século XIX, quando a Medicina e a Psiquiatria vieram demonstrar que a degenerescência, as taras e doenças hereditárias eram uma consequência inevitável dessa prática, sobretudo entre as famílias reais e aristocráticas.


A imbecilidade e degenerescencia nas familias reaes, Dr. Antão de Mello, 
Livraria Central de Gomes de Carvalho, Lisboa,1908.

A imbecilidade e degenerescencia nas familias reaes, Dr. Antão de Mello, Livraria Central de Gomes de Carvalho, Lisboa,1908.

     Segundo os padrões éticos actuais, D. Pedro seria considerado um déspota e ninguém sensato se atreveria sequer a associá-lo a uma bela história de amor. Aquilo a que se chamou justiça seria hoje classificado como extrema barbárie. Os conluios, conspirações e nepotismo (que continuam a existir e de forma ainda mais generalizada) seriam hoje alvo de exame e crítica, mesmo que passassem impunes pelo largo crivo da lei, como é demasiado frequente. Os casamentos de conveniência ou a proliferação da concubinagem e de filhos bastardos seriam hoje encarados como manifestações de uma moral hipócrita, de fragmentação e destruição das relações sociais, familiares e pessoais e como causa de inúmeros traumas e crimes. D. Pedro e D. Inês foram também um produto do seu tempo, um tempo em que a barbárie coexistia por vezes com laivos de humanidade imprescindíveis à construção e sobrevivência de todas as lendas.

D. Pedro I, ilustração de António Costa Pinheiro.



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