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sábado, 23 de outubro de 2021

LENDA & HISTÓRIA XII

 MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES… E AS PRÁTICAS

      A História das sociedades e das instituições, que as suportam e moldam, mostra bem como o verdadeiro Humanismo levou muitos séculos a construir-se e continua inacabado e imperfeito. Também demonstra que a tortura física e as execuções mais bárbaras eram comuns, toleradas e até consideradas uma forma adequada de praticar a justiça. Seria necessário chegar ao século XIX para que a pena de morte fosse questionada e gradualmente abandonada. Em Portugal, seria abolida em 1867, no reinado de D. Luís.





D. Luís I (1838-1889).
Retrato do rei D. Luís (1865-68), por Michele Gordigiani. Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa.



Carta de Abolição da Pena de Morte em Portugal, 1867, reinado de D. Luís.



     Quanto aos casamentos de consanguinidade, por vezes com um grau de parentesco muito próximo, também só começaram a ser abandonados no século XIX, quando a Medicina e a Psiquiatria vieram demonstrar que a degenerescência, as taras e doenças hereditárias eram uma consequência inevitável dessa prática, sobretudo entre as famílias reais e aristocráticas.


A imbecilidade e degenerescencia nas familias reaes, Dr. Antão de Mello, 
Livraria Central de Gomes de Carvalho, Lisboa,1908.

A imbecilidade e degenerescencia nas familias reaes, Dr. Antão de Mello, Livraria Central de Gomes de Carvalho, Lisboa,1908.

     Segundo os padrões éticos actuais, D. Pedro seria considerado um déspota e ninguém sensato se atreveria sequer a associá-lo a uma bela história de amor. Aquilo a que se chamou justiça seria hoje classificado como extrema barbárie. Os conluios, conspirações e nepotismo (que continuam a existir e de forma ainda mais generalizada) seriam hoje alvo de exame e crítica, mesmo que passassem impunes pelo largo crivo da lei, como é demasiado frequente. Os casamentos de conveniência ou a proliferação da concubinagem e de filhos bastardos seriam hoje encarados como manifestações de uma moral hipócrita, de fragmentação e destruição das relações sociais, familiares e pessoais e como causa de inúmeros traumas e crimes. D. Pedro e D. Inês foram também um produto do seu tempo, um tempo em que a barbárie coexistia por vezes com laivos de humanidade imprescindíveis à construção e sobrevivência de todas as lendas.

D. Pedro I, ilustração de António Costa Pinheiro.



sexta-feira, 22 de outubro de 2021

LENDA & HISTÓRIA IX

 A NUNCA ESQUECIDA CONSTANÇA

 

     D.ª Constança, também descrita como muito “bela e discreta”, não foi sepultada num panteão real mas num túmulo singelo (“arca pétrea”) em Santarém. O facto de ter sido a mãe do futuro rei de Portugal, D. Fernando, não foi suficiente para que D. Pedro a honrasse ou homenageasse. Pelo contrário, a sua memória parece ter sido completamente apagada. D.ª Constança foi inicialmente (1345) sepultada no Convento de S. Domingos das Donas (ou Convento das Donas). Posteriormente, em 1376, D. Fernando, seu filho, ordenou que os seus restos mortais fossem trasladados para o Convento de São Francisco, também em Santarém, para serem sepultados numa zona nobre da igreja, o coro-alto. Foi, aliás, D. Fernando quem se preocupou em restaurar e ampliar este convento, construindo o coro-alto e o claustro. Além disso, elevou este convento à qualidade de “panteão régio”, recusando que sua mãe fosse sepultada em Alcobaça e fosse novamente humilhada, mesmo depois de morta. Por vontade sua, D. Fernando viria a ser sepultado ao lado da mãe, a mãe que ele nunca conheceu, pois D.ª Constança morreu duas semanas após o parto e o infante seria criado pelos avós, D. Afonso IV e D.ª Beatriz.

     No final do século XIX (1875), ambos os túmulos foram transferidos para o Museu Arqueológico do Convento do Carmo, em Lisboa. Motivo? Os sucessivos actos de vandalismo contra estes túmulos, quer durante as Invasões Francesas, quer durante a Revolução Liberal, quer durante o processo de extinção das ordens religiosas e, mais tarde, com a instalação do Regimento de Cavalaria n.º 4 que assentou arraiais no Convento de São Francisco (Santarém) em 1844. Os militares decidiram usar os túmulos de D. Fernando e D.ª Constança como “cavalete de selas”, um apoio para as selas dos seus cavalos quando não estavam a ser usadas!!! Almeida Garrett, ele próprio um liberal, lamenta, nas Viagens na Minha Terra, o estado de decadência em que se encontrava o Convento de São Francisco e os túmulos reais nessa mesma altura (1846): «O belo jazido do rei formoso e frívolo (D. Fernando), tão dado às delícias do prazer como foi seu pai às austeridades da justiça, em que estado ele está! Oh nação de bárbaros! Oh maldito povo de iconoclastas que é este

 

D. Fernando I - Portret van koning Ferdinand I van Portugal.


Túmulo gótico de Fernando I de Portugal - convento do Carmo, Lisboa. Fotografia de Stephan Classen.


A SEMPRE ESQUECIDA CONSTANÇA

 

     D. Pedro não humilhou apenas D.ª Constança, em vida e depois de morta; humilhou também a sua avó, a rainha D.ª Isabel, mulher de D. Dinis (1261-1325). D.ª Isabel (1271-1336) mandou erigir o paço real de Coimbra, junto ao Mosteiro de Santa Clara, para se proteger das constantes infidelidades e maus tratos de D. Dinis, que chegou a exilá-la em Alenquer e a retirar-lhe as terras e bens que lhe pertenciam. Pois foi precisamente nesse paço de Coimbra, onde a fiel (D.ª Isabel) se refugiava do infiel (D. Dinis), que D. Pedro, o eterno infiel, se instalou com D.ª Inês após a morte de D.ª Constança, e foi no cemitério desse mosteiro que, segundo alguns, D.ª Inês foi inicialmente sepultada, em campa rasa. D.ª Isabel, que falecera em Estremoz, foi sepultada precisamente no Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra. Não surpreende, portanto, que tal comportamento de D. Pedro tivesse suscitado tanta revolta, não apenas pela relação que mantinha com D.ª Inês, mas porque com cada acto parecia querer humilhar e ofender a memória dos que já tinham partido. Antes de Coimbra, D. Pedro e D.ª Inês viveram temporariamente em outros locais, como Moledo, Canidelo, Jarmelo (Guarda), entre outros, mas a escolha do paço real de Coimbra foi certamente um acto premeditado e intolerável.   

     D. Fernando mandou gravar no túmulo da mãe o brasão dos Manuel (família de D.ª Constança Manuel) e da casa real portuguesa (casa de Borgonha, dinastia Afonsina). Mandou ainda gravar diversas cenas da vida de S. Francisco, incluindo uma em que este fala com os animais como seus iguais.

     D. Pedro, entre outros motivos decorativos, mandou gravar no seu túmulo uma Roda da Fortuna e, no de D.ª Inês, uma representação do Juízo Final em que uma fila de mortais caminha para cima, em direcção ao Paraíso, e outra fila caminha para baixo, em direcção ao Inferno. Como é natural, depreende-se que D. Pedro se imagina, a si e a D.ª Inês, entre aqueles que caminham para o Paraíso. Uma estranha consciência dos próprios actos que o leva a pensar que merecia a recompensa celestial. Entre os motivos religiosos gravados, um parece estranhamente violento: o diabo abre o ventre a Judas para lhe roubar a alma. De entre os elementos profanos, é curiosa a presença de vários instrumentos musicais no túmulo de D.ª Inês; D. Pedro sempre gostara de música, danças e divertimentos. No túmulo de D. Pedro está também a inscrição “Até ao fim do mundo”, um epitáfio perfeito. O facto de o túmulo de D.ª Inês ser ligeiramente menos sumptuoso e ter menos detalhes gravados deve-se, provavelmente, à determinação de a sepultar em Alcobaça com a máxima brevidade, após a declaração de Cantanhede.


"D. Constança, primeira mulher de D. Pedro I" por Roque Gameiro.

Constança – A Princesa Traída por Pedro e Inês, Isabel Machado, A Esfera dos Livros, 2015

 

Visita Guiada às Ruínas do Carmo, em Lisboa – Portugal

(D. Fernando I, a partir dos 11:57 minutos)

 

OTúmulo de D. Fernando I é um documento político (apenas o excerto referente a D. Fernando I) 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

LENDA & HISTÓRIA VIII

 RE-INVENÇÕES DE PEDRO & INÊS

     Mas regressemos a D.ª Inês e ao modo como terá sido morta e ressuscitada infinitas vezes pela lenda, pela literatura e pelo infindável reconto que vai acrescentando sempre mais um ponto…

     No opúsculo, Souvenirs de Coimbre (1843) o Marquês de Resende (citado por Sousa Viterbo), quando se refere à exumação do cadáver de D. Inês, não só diz que estava intacto, como acrescenta que até as tranças longas e louras estavam em bom estado e perfeitamente compostas. É também o Marquês de Resende que menciona outra “Ignez” ou “Agnes” da Baviera que terá sido morta (afogada no rio Danúbio), em 1435, por motivos idênticos aos de D.ª Inês. Sousa Viterbo, acrescenta que para a história ser igual só lhe faltou a coroação:

     «O auctor accrescentou preliminarmente um Avis aux lecteurs e nas duas paginas finaes uma nota histórica sobre uma dama allemã, chamada Ignez, por quem se apaixonou loucamente o duque Albrecht, filho unico de Capeto de Baviera. Ignez foi morta tyrannicamente a 12 de outubro de 1435, tendo sido mandada afogar no Danúbio. É uma tragédia idêntica á de D. Ignez de Castro; só lhe faltou a scena da coroação

     (In Artes e artistas em Portugal; contribuições para a historia das artes e industrias portuguezas, Francisco de Sousa Viterbo, Lisboa, 1892, págs. 20-26)

Agnes Bernauer, c. 1410 - 12 de Outubro de 1435), 
copy of a 16th-century work by an anonymous 18th century Augsburg painter.
A Inês da Baviera a quem se referem o Marquês de Resende e Sousa Viterbo.
Sobre ela voltarei a falar noutro post.

     Mesmo que D.ª Inês não tenha sido decapitada, a decapitação é um uso bárbaro milenar que persiste até hoje. Há evidências de que a decapitação já era usada há cerca de 9000 anos. Sobre este modo de execução, Paulo Mendes Pinto, director do curso de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona, diz o seguinte:

     «Ao separar o órgão que se julgava do pensamento, o coração, do órgão de expressão, a boca, decreta-se ao defunto a incapacidade de proferir e realizar no Além ritos e afirmações que lhe dariam acesso à eternidade. O corpo deixa de ser uno e coeso. Para as religiões nascidas no Mediterrâneo, a inviolabilidade do corpo é condição para que num dia de Juízo Final possa haver um novo tempo

     O que é indiscutível é que D. Pedro promoveu um sumptuoso cortejo (provavelmente em Abril de 1361 ou 1362) para acompanhar os restos mortais de D.ª Inês e a fez sepultar no Mosteiro de Alcobaça, coroada pela filigrana da pedra, rodeada pelas insígnias reais, e fê-lo com grande pompa e solenidade como se de facto fosse uma rainha. Ele próprio seria sepultado também aí seis anos mais tarde (1367), reforçando tudo o que a Lenda quis acrescentar à História.

Túmulo de Inês de Castro, no Mosteiro de Alcobaça.

Túmulo de D. Pedro I, no Mosteiro de Alcobaça.

     Ambos os túmulos são de extrema beleza, esculpidos com toda a perfeição em pedra calcária branca (“mármores brancos” dizem alguns). Consta que D. Pedro terá ido ao Porto encomendar estes túmulos por volta de 1360. No entanto, alguns autores consideram que os túmulos serão obra de artífices estrangeiros (franceses ou italianos). Manuel Vieira Natividade (Ignez de Castro e Pedro o Cru - Perante a iconographia dos seus túmulos, Lisboa, 1910, págs. 23 e 150, figuras 29 e 35), apresenta uma fotografia de uma “sigla” (assinatura ou marca) do autor no túmulo de D. Pedro. No início do século XX, este autor ainda não tinha conseguido decifrar aquela “sigla”, mas esperava vir a decifrá-la um dia e a identificar o rosto do próprio escultor entre as muitas figuras humanas que decoram ambos os túmulos: «E esperamos descobrir, um dia, entre as muitas figuras dos túmulos, o retrato do seu grande creador.» (idem, ibidem, pág. 107). Que eu saiba, ainda ninguém conseguiu decifrar a “sigla” do autor ou autores. Por minha parte, prefiro acreditar que foram de facto artífices portugueses, porque há outras obras escultóricas de semelhante beleza e perfeição saídas das mãos de artífices portugueses; e também porque não era fácil, naquele tempo, contratar no estrangeiro artífices que chegassem a Portugal a tempo de concluir os dois túmulos entre 1360 e 1361, quando muito até Abril de 1362 (entre a declaração de Cantanhede e a cerimónia de trasladação). 

     A fisionomia de D.ª Inês, gravada na pedra, será muito próxima do real, pois D. Pedro terá mandado fazer “um retrato ao natural”, a partir do qual os artífices terão esculpido a pedra. Quem fez esse retrato e como não se sabe. Se, de facto, esse retrato foi feito “ao natural” a partir do cadáver de D.ª Inês, então é pouco provável que o corpo tivesse sido decapitado. Sabe-se que era dotada de uma rara beleza, com cabelos louros muito longos e linhas elegantes. A beleza do pescoço e peito (“colo”) levou alguns a chamar-lhe “colo de garça”. D. Pedro seria de elevada estatura, teria cabelos ruivos ou louros escuros, olhos negros, “boca não pequena” e era extremamente gago desde a nascença. No domínio médico e psíquico, alguns encontram nele traços psicóticos, mudanças súbitas de humor, ataques incontroláveis de raiva, sadismo, insónias recorrentes e prováveis sinais de epilepsia.

     Diogo Barbosa Machado descreve-o assim, no Tomo III da Bibliotheca Lusitana, Lisboa, 1762, p. 539:

      «Teve estatura grande, aspecto gentil, testa dilatada, olhos fermosos, e pretos, cabelo da cabeça, e barba compridos de cor castanha que mais declinava a loura, que negra, boca larga, e engraçada, rosto corado, e tão balbuciente nas palavras como maduro nas respostas

D. Pedro I, o Justiceiro por Roque Gameiro.

      São-lhe atribuídos diversos textos poéticos. Tal atribuição é completamente negada por Carolina Michaëlis de Vasconcellos (cf. A Saudade Portuguesa, Porto, 1914). Barbosa Machado transcreve um excerto de um deles que teria surgido no Cancioneiro do P.e Pedro Ribeiro, 1577, conservado na biblioteca do Duque de Lafões (Bibliotheca Lusitana, Tomo III, p.540):


A dò hallarà holgança
Mis amores:
Adò mis graves temores
Segurança:
Pues mi suerte
De una en outra cumbre llevantado
legome a ver d’elado tu hermosura
Despues la frente para frente a frente
Vi en blando acidente amortecido:
Passome el sentido tan a dentro
Que hà llegado al centro dò amor vive:
Mas como nò recibe mi razon
Tu fiera condicion entre las manos
Desechos mis deseos
De un sobresaltado
El alma hás arrazada;
Los montes echos llamos
Dò toda mi esperança era fundada:
Si esto das por vida, que por muerte
Dar Señora podrà pecho tan fuerte.

     Afonso Sanches, filho bastardo e predilecto de D. Dinis, também teve inclinação para a poesia, tal como seu pai, o Rei Trovador. Nos Cancioneiros da Biblioteca Nacional e da Vaticana surge uma cantiga de amigo que lhe é atribuída: “Dizia la fremozinha”

Poesia trovadoresca de Afonso Sanches.

Dizia la fremozinha:
— Ai Deus, val!
Como estou d’amor ferida!
— Ai Deus, val!
Como estou d’amor ferida!
Dizia la ben talhada:
— Ai Deus, val!
Como estou d’amor coitada!
— Ai Deus, val!
Como estou d’amor ferida!
— Como estou d’amor ferida!
— Ai Deus, val!
Não vem o que ben queria!
— Ai Deus, val!
Como estou d’amor ferida!
— Como estou d’amor coitada!
— Ai Deus, val!
Não vem o que muit’amava!
— Ai Deus, val!
Como estou d’amor ferida!


Afonso Sanches
Cancioneiro da Biblioteca Nacional – N.º 784
Cancioneiro da Vaticana – N.º 368


domingo, 10 de janeiro de 2021

LENDA & HISTÓRIA VI

 A SUPREMACIA DE CISTER

          D. Afonso IV foi dos poucos reis (anteriores à Revolução Liberal, séc. XIX) que tiveram a coragem de retirar bens e / ou privilégios às ordens religiosas que rivalizavam em riqueza e poder com a nobreza e a própria realeza. Contrariamente, a Ordem de Cister foi especialmente favorecida por D. Pedro I (ele e D.ª Inês estão sepultados no maior mosteiro da ordem, em Alcobaça, promovido a panteão régio por D. Pedro), não sendo, por isso, de admirar a lealdade ao seu protector e a sanha contra quem lhes retirou privilégios. A proeminência desta ordem e dos seus dirigentes fica desde logo evidente no rol de epítetos que se juntam ao nome do Abade Geral da Ordem de Cister:

     «Dom Fr. Paulo de Britto D. Abbade do Real do Mofteyro de Santa Maria de Alcobaça da Ordem de Cisfter, Senhor Donatário, & Capitão-mor das Villas de Alcobaça, Aljubarrota, Alfeyzaraõ, Alvorninha, Pederneyra, Santa Catharina, Paredes, Côs, S. Martinho, Selir do Mato, Mayorga, Évora, Cella, Turquel, & mais Lugares, & Povoaçoens de feus termos dos Coutos do dito Mofteyro, do Confelho de Sua Mageftade, & feu Efmoler môr, Geral, & Reformador da Congregação de S. Bernardo neftes Reynos, & Senhorios de Portugal, & Algarves, &c.» Veja-se, por exemplo, a Chronica de Cister, de Frei Bernardo de Brito (1602), ele próprio um cisterciense, co-autor da monumental obra Monarquia Lusitana.

Chronica de Cister - onde se contam as cousas principaes desta ordem, 
& muytas antiguidades do reyno de Portugal - primeyra parte
Bernardo de Brito, 1569-1617, Officina de Pascoal da Sylva, Lisboa, 1720.

          No segundo volume da História das Ordens Monásticas em Portugal, de Manuel Bernardes Branco, 1888, são enumerados alguns dos privilégios do Abade Geral da Ordem de Cister (vide págs. 460-461 e 463-467). Os excertos que se seguem comprovam bem como a Ordem de Cister era ambiciosa e ciosa dos privilégios conquistados. Como em quase todas as citações, foi mantida a grafia original, os destaques a vermelho são uma opção minha:

     «Em quanto esmoler mór tem os do abbade d'Alcobaça logar em cortes do mesmo posto dos outros officiaes mores da casa real.

     O mesmo nas mais funcções publicas, como são embaixadores de Príncipes, levantamentos do novo Rei, bautismo das pessoas reaes, e em outras similhantes, nos quaes assiste como creado da casa; e para isso é avisado pela secretaria do estado do dia e hora certa.

     Tem mais aposentadoria para si, e seus creados nas villas e cidades do Reino, por onde passa, pelo regimento do aposentador mór.

     Por esmoler mór se costuma dar senhoria aos D. Abbades de Alcobaça, como aos mais creados da casa real.

     Tem d'elrei cincoenta e dois mil réis por anno; e o escrivão da Esmolaria de seu ordenado vinte mil réis.

     E como o dom abbade esmoler mór deve fazar a residência pessoal no seu mosteiro de Alcobaça de que é prelado, e em razão do outro seu officio de geral tem muitos negócios e visitas da Congregação, a que é preciso assistir; por todas estas razões houveram por bem os Reis, que elles abbades apresentassem um monge da sua casa, honesto, e a aprazimento dos Reis, o qual, em nome e ausência somente dos ditos abbades, servisse por elles de esmoler mór, e seguisse sempre a corte. Apresenta-os o dom abbade por escripto, e el Rei lhes manda passar sua carta de confirmação em forma

(…)

     «No tempo dos abbades prepetuos sempre serviram em seu nome monges professos d'Alcobaça, e ora isto é cousa tão assentada entre todos, que no tempo do primeiro administrador D. George da Costa, por muito que desejou descompô-lo el-Rei D. João II, não levou ao fim despojar a real Abbadia d'esta sua preheminencia

(…)

     «Quando el-rei manda fazer por sua conta alguma gente de guerra nas terras do Mosteiro, primeiro por sua carta especial o faz saber ao dom abbade, e lhe insinua a razão motiva, porque manda fazer a tal gente.

     Doutra sorte, e sem vir primeiro esta carta não consentem os monges que se levante gente, nem que entre nas suas terras a paga-la ministro algum da milícia, por mais apertadas ordens que traga

(…)

     «El Rei D. João IV mandou restituir ao monge d' Alcobaça todas as terras e haveres que taes monges asseveravam terem-lhes sido doados por El Rei D. Affonso Henriques, embora taes doações para a critica dos nossos dias, seja mais que duvidosa. Mas o que é certo que os frades foram restituídos à posse das terras chamadas vulgarmente os Coutos d'Alcobaça, e em terras taes tinham os abbades mero e mixto império, isto é, no civel, e crime, e todo aquelle Senhorio, que antes da doação era da Coroa

(…)

     «A voz que se levantava nas pendências era d’elles; porque se não appellidava nas terras dos Coutos a voz d'El rei; mas a voz do abbade; e não se dizia nos arroidos aqui del rei, como hoje uzamos; mas diziam: Aqui do Abbade ou do Mosteiro.

     Podiam tambem os D. abbades ir em hoste; isto é, que levantavam gente de guerra nas suas terras por authoridade próprias quando e como queriam, e pela mesma sua authoridade mandavam prender e soltar em todas as villas; punham os tabelliâes em seu nome e não d'elrei: e os removiam, quando queriam porque não eram confirmados pelo príncipe, mas sómente pelo abbade.

     Da mesma sorte os juizes e mais justiças também eram postos e confirmados pelos abbades.

     Passavam alvarás de privilégios a seus creados, ou a quem queriam, pelos quaes os faziam isentos dos encargos dos concelhos e das fintas e talhas: não davam appellação nem aggravos para el rei, senão nos casos de morte: mas dos juizes se appellava para o Ouvidor e d'este para o dom abbade; e a sentença que elle dava era a final e suprema.

     Não entravam nas villas dos Coutos ministro d'elrei, mas em logar dos corregedores punham os D. abbades seu ouvidor e quando lhes parecia era um monge, o qual e o mesmo abbade faziam audiência á porta do Mosteiro

(…)

     «Conservaram-se os D. abbades de Alcobaça n'esta sua grandeza inteiramente até o tempo d'el-rei D Affonso IV.

     E do tempo d'este principe em diante é que se foi alterando lentamente toda esta soberania e grandeza.

     Pois este monarcha (D. Afonso IV) tomou aos monges o senhorio real do mosteiro, ainda que, ao depois, o tornou a restituir seu filho el-rei D. Pedro I, com tudo na carta da restituição começou já a coartar a jurisdicção aos abbades, porque mandou que dessem appelação para el-rei; e que os corregedores da Estremadura entrassem nas villas dos coutos a fazer correição.

     «Hoje por força das palavras da nova doação e confirmação do rei D. João IV teem os D. abbades de Alcobaça o mesmo Senhorio Real que se contém na primeira doação d'el-rei D. Affonso Henriques; porém modificado na praxe pelas ordenações do reino; e muito mais pela razão próxima de serem os dois abbades triennaes».

Carta de confirmação pela qual o rei D. Pedro I revalidou a Alcobaça os coutos e jurisdições, e restituiu as que seu pai, 
D. Afonso IV, tinha tirado ao mosteiro, c. 8 de Setembro de 1358. ANTT.

Cluny Y El Cister - Las Ordenes Mendicantes, 1 a 20 - 
Historia Del Mundo, Pijoan Salvat, Tomo 6, 1970.
A Ordem de Cister resulta da reforma da Ordem de Cluny.
Embora a ordem tenha sido criada por dissidentes de Cluny (Roberto de Champagne e outros monges), foi Bernardo de Claraval o grande reformador e impulsionador da Ordem de Cister, tanto em França como noutros países da Europa. A Ordem de Cister continuará a ser influente nos domínios cultural, educacional e artístico até às Revoluções Liberais do início do século XIX que vão abolir todas as ordens religiosas. O primeiro mosteiro da Ordem de Cister em Portugal (S. Cristóvão de Lafões) foi fundado em 1138, ainda antes da independência. O Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, que se tornaria o centro da ordem, seria fundado em 1153. 


Mosteiros da Ordem de Cister em Portugal.

Em 1989, o Mosteiro de Alcobaça passou a integrar o Património Mundial da Humanidade da UNESCO. (Fot. via Expresso).
Para a Fraternidade Rosacruz de Portugal, o Mosteiro de Alcobaça é um "signo artístico-simbólico",
encontrando um significado esotérico em toda a estrutura do conjunto de edifícios e nos detalhes decorativos. Sobre a rosácea que se vê na fachada principal, um artigo (Viagem Filosófica) da página da Fraternidade Rosacruz de Portugal diz o seguinte: 
«rosácea que vemos na fachada tem simbolismo solar. Embora em contradição aparente com o gosto do estilo gótico, enquadra-se perfeitamente na simbólica do estilo adoptada pelos construtores da época. Na arquitectura gótica, a rosácea associa o simbolismo da rosa (que no rosacrucianismo evoca o Graal e a redenção), com o da roda. A roda lembra a necessidade da libertação das condições impostas pelo lugar em que se nasce e pelo estado espiritual que lhe está associado por via da lei de causa-e-efeito. É, por isso, uma referência à necessidade de evolução do espírito.»


Mosteiro de Alcobaça - Refeitório, fot. de Stuart Litoff.

Mosteiro de Alcobaça - Claustro do Silêncio, fot. de C. Rozay.

Mosteiro de Alcobaça - Interior, lavatório, fot. de Manuel Alende Maceira.

Mosteiro Alcobaça - Rosácea do túmulo de D. Pedro.
Note-se que quase todas as figuras humanas foram decapitadas.
A maior parte dos actos de vandalismo contra o mosteiro e os túmulos de Pedro e Inês foram perpetrados durante as Invasões Francesas e, posteriormente durante a Revolução Liberal.

Planta do Mosteiro de Alcobaça - Portugal Monumental, via Correio da Manhã.

Planta da Sala dos Túmulos no Mosteiro de Alcobaça - Portugal Monumental, via Correio da Manhã.
Embora no presente, os túmulos de D. Pedro e D.ª Inês se encontrem frente a frente, tal como a lenda pretende, a disposição inicial era lado a lado. Segundo a lenda, D. Pedro teria mandado colocar os túmulos frente a frente para que no dia do Juízo Final, quando ambos ressuscitassem dos mortos (admitindo que ambos eram seres imaculados) o primeiro ser que cada um visse fosse o outro que estava à sua frente.

Mosteiro de Alcobaça, entre finais do século XVIII e início do século XIX.

Em 2018, Ano Europeu do Património Cultural, realizou-se o II Congresso Internacional
sobre os Mosteiros Cistercienses.





sábado, 9 de janeiro de 2021

LENDA & HISTÓRIA V

EXECUÇÃO E EXECUTORES

     A própria degolação de D.ª Inês é contestada por muitos. Embora a degolação ou decapitação fosse considerada a forma de execução mais honrosa desde a Antiguidade, reservada habitualmente aos indivíduos de alta estirpe, raramente foi aplicada (na Europa) a mulheres até à Revolução Francesa. Ana Bolena, mulher de Henrique VIII foi uma das poucas excepções; mas exigiu ser executada por um carrasco francês, que usava espada, em vez de um carrasco inglês, que usava machado. Ana Bolena terá declarado que queria morrer de pé e não de joelhos.

     Em Portugal, essa não era uma forma de execução aplicada às mulheres no tempo de D. Afonso IV. O enforcamento era a pena mais comum. Aliás, a pena de morte aplicada a mulheres era raríssima, excepto nos casos de alta-traição e lesa-majestade, como seria de facto o caso de D.ª Inês, se considerarmos que era irmã de dois conspiradores. A traição dos seus irmãos era notória, tanto em relação ao reino de Portugal como ao de Castela, com a conivência do próprio D. Pedro I de Portugal. A decapitação era sim aplicada aos homens mas apenas reservada a “crimes políticos”, traição e conspiração. Segundo Paulo Jorge de Sousa Pinto, o enforcamento era a forma de execução mais comum prescrita pelas Ordenações Afonsinas (A pena de morte em Portugal e no mundo: debate na História, combate atual, 2017):

     «As Ordenações Afonsinas listam o conjunto de crimes puníveis com a morte por enforcamento: traição, moeda falsa, homicídio, adultério, sodomia, falsificação, feitiçaria ou roubo são alguns dos crimes sujeitos ao veredicto «morra porém» ou «morra por isso». Todavia, a sua aplicação na prática parece ter sido reduzida, substituída na esmagadora maioria dos casos por degredo, penas pecuniárias ou açoites públicos

The Death of Inês de Castro - O Assassínio de Inês de Castro by Karl Briullov, 1834.

     Também não é crível que D. Inês tenha sido enforcada e não foi certamente esquartejada. É, na verdade, mais provável, que D.ª Inês tenha sido assassinada com um punhal ou pequena espada. Apesar de todos estes argumentos, no túmulo de D.ª Inês está gravada uma cena que representa a degolação de uma mulher e outra em que um carrasco abre o peito de um homem e lhe arranca o coração. Mas o que diz a pedra esculpida será História ou mera alegoria que alimentou a lenda? O que se constata é que uma parte das gravuras que poderão representar D. Pedro e D.ª Inês foram “decapitadas” actos de vandalismo, cometidos sobretudo no início do século XIX, aquando das Invasões Francesas.  

     Ainda não consegui averiguar se D. Pedro aplicou este modo de execução (decapitação) a mulheres, mas aplicou outros igualmente cruéis, como queimar mulheres vivas (cf. Crónica de D. Pedro I, Cap. IX, Fernão Lopes).

     As fontes literárias contradizem a ideia de decapitação, falando quase sempre da espada ou do punhal que trespassou o peito de D.ª Inês. Entre muitos outros textos, vejam-se, por exemplo, os sonetos dedicados À Morte de D. Ignez de Castro pelo poeta arcádico, António Ribeiro dos Santos (1745-1818, conhecido pelo pseudónimo arcádico Elpino Duriense; cf. Poesias de Elpino Duriense, Lisboa, 1812, págs. 290-298). Aí, o autor fala do “bárbaro punhal”, de “duros punhais” que “seus peitos trespassaram”, do “duro ferro” que “o peito lhe passava”, do “ferro homicida” que “seus peitos trespassou”.


Poesias de Elpino Duriense, pseudónimo arcádico de António Ribeiro dos Santos, 1745-1818, Na Impressão Regia, Lisboa, 1812. Três tomos. No tomo II, págs. 290-298, vêm oito sonetos dedicados à morte de D. Inês de Castro. Logo a seguir (p. 299) vem um soneto dedicado a D. João de Castro, o 4.º Vice-rei da Índia.

   O que era comum naquele tempo era o uso da espada, do punhal e dos venenos, que tiravam a vida sem deixar grandes marcas físicas; eram usados sobretudo quando o alvo era um nobre ou membro da realeza. Há suspeitas de que os irmãos Castro (irmãos de D.ª Inês) terão tentado envenenar o infante D. Fernando, filho legítimo de D. Pedro e D.ª Constança, para que o herdeiro do trono português pudesse ser um dos filhos bastardos de D.ª Inês (D. João ou D. Dinis). Afonso Sanches, filho bastardo de D. Dinis, e seu predilecto, terá tentado fazer o mesmo a D. Afonso IV; primeiro para o impedir de ascender ao trono e, depois, para o eliminar e usurpar o trono. Mais tarde, D. Leonor de Aragão, mulher do falecido rei D. Duarte, e bisneta de D.ª Inês de Castro, terá morrido por envenenamento por se temer que pusesse em perigo a independência nacional após a morte do rei. Nas notas à bibliografia refiro outros envenenamentos.

D. Leonor, Aragoneza, mulher de D. Duarte por Roque Gameiro.

     Edme-Théodore Bourg (1785-1852), mais conhecido pelo pseudónimo Saint-Edme, no tomo III do seu Dictionnaire de la pénalité dans toutes les parties du monde connu, (1824-1828) dedica várias páginas a este crime (envenamento), enumera dezenas de envenenamentos com motivações políticas, começando desde logo por afirmar o que referi acima:

     «EMPOISONNEMENT. Ce crime, le plus difficile à constater, et p'ar cela même le plus dangereux, a toujours été puni du dernier supplice. (…) Le poison fut l'arme de la politique; (…). (…)  En 1461, le comte de Charolais faillit à être empoisonné par un de ses premiers domestiques; ce scélérat, qui s'appelait Constain, avait fait apporter d'Italie, par un nommé Jean d'Ivy, un poison très-énergique. Les Italiens jouissaient alors de l'affreuse réputation d'être les plus habiles empoisonneurs de l'Europe. (…) En France, sous l'ancienne législation, l'empoisonnement, qu'on appelait le crime de poison, était puni de mort, conformément aux ordonnances du royaume, et notamment à l'édit du mois de juillet 1682; mais cette loi n'a point déterminé le genre de supplice auquel devaient être condamnés les empoisonneurs. Le législateur semblait avoir voulu laisser à l'arbitrage des juges la faculté d'en augmenter ou d'en diminuer la rigueur suivant les circonstances. (…) Un empoisonnement commis, il y a peu d'années, par un homme versé dans l'art de guérir, a révélé à la multitude une substance vénéneuse qui peut donner la mort sans laisser de traces visibles de ses effets meurtriers: c'est l'acétate de morphine. A l'époque de cet attentat longuement inédité et lentement exécuté par le médecin Castaing, on craignit avec raison que la publicité donnée à cette affaire et la révélation de la substance employée, ne fissent, éclore de nouveaux crimes. C'était un avertissement donné à l’autorité de redoubler de surveillance et d’activité envers ceux qui tentent de se soustraire aux mesures de police prises pour prévenir les dangers du commerce libre des poisons ou substances vénéneuses(Tomo III, págs. 465-475).

     Apesar de ser um crime e uma forma de tirar a vida muito comum desde a Antiguidade e entre as civilizações mais remotas de todos cantos do mundo, não foi certamente um veneno que matou D.ª Inês.

     De entre todos os que registaram, narraram ou recriaram a morte de D.ª Inês, há no entanto duas fontes coevas que apontam assertivamente para a degolação ou decapitação. Ambos os autores são clérigos, um do Mosteiro de Alcobaça, da Ordem de Cister, e outro do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, da Ordem de Santo Agostinho, duas das ordens mais antigas que se sediaram em Portugal ainda no reinado de D. Afonso Henriques. As ordens religiosas, especialmente a de Cister, sempre foram largamente beneficiadas pelos monarcas portugueses até ao reinado de D. Afonso IV que lhes retirou parte dos coutos e privilégios, motivo suficiente para despertar a animosidade de algumas das ordens contra este monarca, especialmente da Ordem de Cister.

     Ambos os cronistas atribuem a D. Afonso IV a ordem da execução. Ambos os relatos estão em latim e apontam como ano da morte de D.ª Inês o de 1393, por se regerem ainda pelo calendário da Era Hispânica ou Era de César. A Era Hispânica só foi abolida, em Portugal, por D. João I, em Agosto de 1422, embora já tivesse sido abolida pela Igreja em 1180 e houvesse desde o século VI monges que usavam a datação da Era Crstã (Dionísio, o Exíguo terá sido o primeiro). A Era Cristã, Era de Cristo ou Era Comum começa 38 anos antes da Era Hispânica, isto é, o ano de 1393 corresponde ao de 1355. Portanto, tanto o ano como o dia e mês (7 de Janeiro) registados pelos cronistas de Alcobaça e Santa Cruz estão correctos. A única diferença está no vocábulo usado para designar o modo como D.ª Inês foi morta: o clérigo de Santa Cruz usa a palavra “decolata” (decapitada ou degolada) e o de Alcobaça usa o termo “occidit” (matar de uma forma genérica). Apesar destes relatos, a maioria dos investigadores e escritores não consideram credível a decapitação. Maria José Azevedo Santos, apesar de seguir a tese da decapitação, reconhece que muitos discordam:

     «Contudo, é forçoso dizer que a decapitação, bárbaro modo de assassinar, tão frequente na Idade Média, tem sido rejeitado por muitos poetas, dramaturgos e investigadores inesianos que não aceitam a amputação de um corpo imaginado, e celebrado ao longo dos séculos, pelo encanto, elegância e formosura que exibia.» (Vide D. Inês de Castro – Colo de Garça, Academia Portuguesa da História, 2011, pág. 55).

D. Ignez de Castro por Roque Gameiro.