quarta-feira, 31 de dezembro de 2025

TOMA LÁ! - Série I - 2024-2025

      Quando me preparava para publicar as seis séries do folheto Toma Lá! produzidas em 2024-2025, descobri que agora o YouTube me impede de incorporar os meus próprios vídeos neste blog. Desconheço o motivo, mas não pode ser honesto. Para permitir visualizar os vídeos, apesar do novo boicote e da continuada censura, ficam aqui vários links e a imagem vazia do vídeo que deveria ficar incorporado nesta publicação. 

     Abaixo ficam também todos os textos de abertura que escrevi para esta série.

NOTA: Cerca de uma hora após a edição desta publicação, a imagem do vídeo apareceu!!! NÃO altero o texto escrito acima por razões óbvias. Não é a AI que bloqueia ou apaga cegamente canais ou vídeos, são seres humanos com critérios autocráticos e nenhuma consciência moral. Esta nota repete-se em todos os vídeos que fui impedida de incorporar.  

TOMA LÁ! 2024-2025 - Série I - Setembro a Dezembro de 2024 - Concepção & Edição de São Ludovino

TOMA LÁ! 2024-2025 - Série I - Setembro a Dezembro de 2024 



Toma Lá! - 2024-2025 - Textos de abertura

Série I – Setembro a Dezembro de 2024

N.º 1

     Há muitas formas de falar sobre a realidade, de a revelar nua e crua, dolorosamente objectiva e incontornável de a transformar e recriar até parecer aquilo que não é ou de a manter viva sem nunca perder o nexo com os factos e a essência dos acontecimentos, na sua banalidade e singularidade, na sua humanidade e desumanidade. O turbilhão de acontecimentos que tem varrido o planeta nos últimos anos muito tem contribuído para encontrar novas perspectivas e novas vozes, mas também para a perigosa distorção dos factos mais inegáveis. Em 2020, a epidemia de Covid 19 matou milhões, afectou as economias nacionais de muitos países, provocou um isolamento involuntário e tornou mais presente a sensação de vulnerabilidade de cada ser. Em 2021, os Estados Unidos retiram subitamente do Afeganistão abrindo o caminho para mais uma teocracia islâmica bárbara e terrorista. Em 2022, a Rússia invade a Ucrânia em larga escala, depois de já ter ocupado parte do Donbass e anexado a Crimeia em 2014. Nos últimos dois anos e meio, os olhos do mundo estiveram centrados nos horrores a que a povo ucraniano tem sido submetido diariamente… até que, numa bela manhã de Outubro de 2023, milhares de rockets foram disparados sobre Israel a partir de Gaza, kitesurfs lançaram bombas incendiárias, drones armados com explosivos foram lançados sobre os kibutzim, as cidades e os campos e, o maior de todos os horrores, hordas de milhares de assassinos, na maioria civis, se infiltraram no Sul de Israel e demonstraram toda a barbárie que só o ódio e o mal absoluto conseguem executar: torturaram, esquartejaram, queimaram, violaram, decapitaram, executaram e festejaram com risos inumanos e rios de sangue os crimes cometidos. Depois do massacre de 7 de Outubro em Israel, tornou-se impossível não falar de Israel, da barbárie do terrorismo islâmico e das autocracias modernas tão semelhantes às antigas. Mas é por isso mesmo, porque o Mal continua aqui, real e inegável, que estes folhetos contém uma mescla de retratos e impressões da realidade presente e passada e pinceladas de fantasia e esperança redentoras. 

N.º 2

     O pensamento não pode ser comprimido e ainda menos as realidades interiores e exteriores de que o pensamento, consciente ou inconsciente, é a manifestação constante. O que se pode comprimir é a forma como se exprime o pensamento, as sensações e as emoções. Dizer em poucas palavras é sempre um desafio e uma escolha, uma selecção do que se pensa ou sente. É nesta condensação que tem origem a sinestesia, a metáfora e várias formas de literatura, como os haiku ou os microcontos. A maior dos pensamentos permanece apenas no plano mental, não se tornam linguagem escrita ou pictórica, embora, como afirmou Ferdinand de Saussure, ‘se o pensamento não é traduzível em palavras, não é verdadeiro pensamento, é uma massa amorfa de ideias, impressões e emoções’. Talvez estivesse certo, mas uma parte do pensamento está naturalmente destinada a permanecer silenciosa e indizível ou ninguém teria tempo para viver, apenas para verbalizar. Com tempo, concentração e algum esforço é possível traduzir em palavras uma grande parte do pensamento. O que permanece indizível talvez deva permanecer assim ou talvez seja apenas uma manifestação diferente da vida interior. Verbalizar implica pensar mais e mais, decompor, analisar, adoptar novas perspectivas. Realizar tal exercício permanentemente parece até uma forma de loucura ou uma forma de reduzir a vida apenas a palavras, ao que pode ser dito em palavras. E a vida é muito mais do que isso. Ainda assim, procurar dizer uma pequeníssima partícula daquilo que a vida e o pensamento contêm é um desafio que todos deveriam aceitar. Escrever o que se pensa traz mais clareza ao pensamento e revela novas perspectivas do prisma de infinitas faces que é o mistério de existir.

N.º 3

     Todas as criações artísticas são, antes de mais, criações do espírito, manifestações do diálogo de cada criador com o tempo e o espaço. As experiências vividas são parte deste diálogo. E há também um tempo e um espaço interior que confere a forma e preenche a substância final. Mas quantas vezes a obra final é uma obra inacabada, apenas uma das realizações possíveis ou o resultado de uma impressão passageira? Para se criar um estilo tem de haver continuidade, a persistências de escolhas, a descoberta de afinidades entre a forma e a substância criadas e a forma como a realidade é percebida, assim como a impressão de uma nova descoberta. Se alguém tenta representar uma noite estrelada, mas não sabe desenhar nem pintar, pode fazê-lo de uma forma inteiramente nova só porque não sabe fazê-lo de outro modo. Mas será isso a criação de um estilo? Claro que todos têm o direito e a capacidade de criar o seu próprio estilo, quer seja na escrita de um texto, no esboço de um desenho, na maquilhagem que usa ou na confecção de um prato. Mas essas são as artes e os estilos do quotidiano, que podem ter até muito de artístico e original. Os historiadores e críticos de arte tentam explicar o surgimento de novos estilos através de uma conjugação de factores ligados ao contexto histórico-cultural, os modelos vigentes na academia e a singularidade da biografia de cada criador. O que fica sempre por elucidar é a proporção de cada factor e a verdadeira natureza e força criadora das experiências pessoais e do carácter individual na obra criada. Poderia Van Gogh ter pintado como pintou se tivesse vivido na Antiguidade ou na Idade Média? Tê-lo-ia feito mesmo que não lhe fosse permitido ou fosse considerado um louco, como ele próprio se considerava? Provavelmente sim. A loucura genial é intemporal.

N.º 4

     O espírito torna-se mais leve e pleno de cada vez que se convence que é muito mais do que aquilo que lhe fazem, bom ou mau. E é de facto. Se assim não fosse, muitos já teriam sucumbido sob o peso do chumbo da infâmia e da maldade ou seriam apenas centelhas de luz metafísica desprendidas das constrições da matéria e das acções alheias. Todos esperam o bem, mesmo os que não o merecem e poucos medem o bem ou o mal que fazem aos outros e os motivos que os levam a fazer o que fazem. Os bons agem quase sempre de modo genuíno e espontâneo. Fazem o bem porque o bem está na sua natureza e nas fibras do seu próprio espírito. Os maus fazem o que são, mesmo sem premeditação, porque o mal habita as suas mentes e conduz as suas acções. E como entrou lá o mal e se espalhou em redor? Muitos culpam a educação, a sociedade, o exemplo de outros, as experiências vividas, o contexto, a endoutrinação… mas tudo isso vem de fora. Se fosse sempre assim, haveria ainda mais seres perversos do que há. O bem e o mal também são criados individualmente no interior de cada mente e cada consciência é responsável pelo que cria ou deixa crescer dentro de si. Se um espírito bom tenta convencer-se de que não é o mal que lhe fazem, isso não é apenas uma estratégia de sobrevivência, uma forma de manter a verdade viva ou de fazer uma espécie de justiça interior; é a manifestação do bem que transporta dentro de si, da sua natureza, que o salva das agressões externas como um sistema imunitário que só o bem genuíno pode gerar.

N.º 5

     Que belas fingidoras são as metáforas. Uma espécie de camaleões para todas as estações. Fingem analogias, antíteses, ironias, animismos, eufemismos… e tantas outras identidades. E ao contrário dos símbolos, com que se confundem frequentemente, as metáforas podem ser inconstantes e interrompidas a qualquer momento. Ser um “pescador de tempo” ou um “caçador de sonhos” evocam no plano da analogia apenas ideias, imagens e sentimentos belos. Mas se as acções de pescar e caçar forem tomadas na sua acepção literal, ambas são mortíferas e letais; algo vivo morre por estas acções. Então, o caçador de sonhos mata os sonhos ou aprisiona-os. Mas o que faz um pescador de tempo, se o tempo não é um peixe nem outro ser vivo? Mata o tempo ou conquista-o? Torna-o seu, apropria-se dele ou fá-lo navegar como lhe aprouver? Junta-se a ele e segue na corrente ou contempla-o apenas sem nunca lançar o anzol? Um verdadeiro pescador de tempo deve ser certamente um pescador de metáforas, venham elas de onde vieram e sejam quais forem as revelações que cada uma encerra. Claro que não são verdadeiramente as metáforas que fingem, mas quem as cria e usa. De algum modo cada metáfora contem uma hipálage que desloca o atributo ou a acção do sujeito para o objecto ou referente. E quantas vezes um referente extremamente concreto e vivo se torna abstracto e imortal para que a metáfora seja deveras bela.

N.º 6

     Colhemos o que semeamos, diz um adágio popular. Outro diz que “quem semeia ventos colhe tempestades”. Ambos são sábios e aplicam-se a muitas situações, mas nenhum deles é generalizável ou não haveria injustiças e cada um sofreria as consequências das suas escolhas e dos seus actos. A justiça é lenta e esse facto cria ainda mais a impressão de que muitos crimes nunca são punidos e são sempre as vítimas que se tornam repetidamente as vítimas, por ausência de justiça, pela morosidade dos processos, julgamentos e sentenças e porque a maleabilidade das palavras da linguagem jurídica permite aos juristas parciais, corruptos, preconceituosos, cobardes ou simplesmente comodistas, absolver quando deviam condenar ou minimizar a gravidade dos actos cometidos. A aplicação da lei e da ética é um trabalho árduo e constante que não deveria admitir pausas, adiamentos ou arquivamentos, que se devem apenas à incompetência e não à falta de provas ou à ausência de crime. Formalmente, se não há condenações não há criminosos, mas os crimes existem. Infelizmente muitos nunca colhem o castigo dos seus crimes, apenas a recompensa imoral, tornando outro adágio tragicamente mais verdadeiro do que os anteriores: o crime compensa, sobretudo quando a justiça se reduz a outro adágio – cada cabeça sua sentença. A justiça torna-se um espelho de quem a aplica, não a justa retribuição pelos actos cometidos. E assim vai morrendo lentamente a democracia e as instituições e valores que a sustentam, começando pela justiça.

N.º 7

     Há mais de três décadas, escrevi no Cântico da Sede que o ser humano sabe fazer quase tudo, excepto “amar como os deuses e morrer como as plantas”. Três décadas não são nada na evolução do Homo Sapiens Sapiens biológico e ainda menos na evolução da alma humana. A evolução das espécies também se faz no plano anímico, individual e colectivo. A alma de cada ser tem um desafio maior do que a espécie: evoluir no espaço de algumas décadas. A alma humana pouco evoluiu nos últimos cem mil anos ― talvez até tenha regredido pois desconhecemos tanto do que ficou lá atrás ― mas a evolução de cada alma individual é obra de cada um no curso do seu tempo de vida. Em vidas tão curtas como são as vidas humanas, a essência de cada ser pouco ou nada parece evoluir entre o nascimento e a morte, mas mesmo assim passa por múltiplas transformações que reflectem as experiências vividas e o trabalho interior de cada mente, que é muito mais do que filosofias de vida muito elaboradas ou os conselhos de outrem, mesmo que muito sábios. O quotidiano, com todas as pequenas e grandes exigências, deixa pouco tempo e pouco espaço mental para o labor da alma, para cada um procurar dentro de si o melhor e descobrir o que está lá adormecido e, tantas vezes, nunca acordado. Quantas vezes esses recantos contêm a chave da evolução possível? Quantas vezes um ser se tornou mau apenas porque deixou a alma definhar e ser violentada por impulsos mais superficiais, passageiros e mesquinhos.

N.º 8

     Em 1890, a minha avó materna, que tinha então 8 anos, bordava com toda a perfeição o abecedário num pano de linho. No final da década de 60, tinha eu 8 anos, a minha avó ofereceu-me essa maravilhosa relíquia que me pareceu obra impossível de realizar por uma criança tão pequena. Para provar que o feito era real e para recordar mais tarde, no final bordou a data. Décadas mais tarde, alguém fez desaparecer esse legado, assim como outras lembranças que a minha avó me deixara, incluindo uma moeda de cem réis do reinado de D. Luís. A antiguidade desses objectos tornava-os valiosos, mas só para mim e para a minha família eles eram mais valiosos do que os tesouros materiais e impessoais que movem os gananciosos deste mundo. Os meus legados foram roubados, deixaram de ter existência física na minha vida, mas na minha mente continuo a vê-los e a esperar que um dia voltem a aparecer, como por magia, nos locais onde estavam guardados. Mesmo sabendo que essa possibilidade é remota ou impossível, a existência interior destes legados continua a ser bem real; eles continuam a fazer perdurar o laço inquebrável com o ser que os criou e o amor depositado na dádiva. A textura das fibras de linho continua presente nas minhas mãos, a perfeição do trabalho continua a ser um exemplo e a longevidade do objecto, que teria hoje 135 anos, continuará a estender-se no tempo enquanto eu lembrar, falar e escrever sobre uma dádiva que deveria ter passado para outra geração. O objecto desapareceu, estará hoje nas mãos de quem não o ama, mas a memória dele continua viva e mantém vivo o elo que ele tornou ainda mais precioso.

N.º 9

     Em cada jardim há sempre um outro banco, um outro recanto ou miradouro de onde a vista pareceria mais aberta, mais pródiga, mais próxima do olhar, mais única do que a belíssima vista que vislumbramos do banco em que nos sentamos. Mesmo que esse lugar não exista, nem naquele nem em nenhum jardim, é esse o lugar do ideal. E esse banco em que não nos sentamos, essa vista ideal que não vemos dali, acaba por estar sempre presente no que vemos, no que selectivamente apreendemos do vasto panorama geral. Cada olhar leva consigo um pedaço do jardim e junta-o ao jardim ideal, esse lugar mutável, sempre em expansão. Por isso o ideal latente não limita a percepção, alarga-a e dá-lhe novas tonalidades. O banco em que não nos sentámos, o lugar ideal, existe afinal em todos os cantos e recantos do jardim, só porque estivemos lá e levámos connosco o ideal, que é mais uma lente interior do que uma ideia ou uma realidade acabada com contornos bem definidos e imutáveis. Se deixarmos o ideal esvoaçar como um pássaro incansável e curioso, quase nada nos pode desiludir ou dar a sensação de incompletude. Ter demasiadas preferências, esquisitices e idiossincrasias é uma forma de impedir o pássaro de voar e de nos levar na busca de mais uma partícula do ideal, mesmo que seja apenas mais um raio de sol, uma voz que passa, uma nuvem que se desfaz, a folha que dança enquanto cai, o mar que não se cansa das marés.

N.º 10

     O que quer dizer “o melhor ainda está para vir”? Quer dizer que alguém fica à espera que algo bom lhe aconteça sem o seu esforço ou quer dizer que alguém está disposto a fazer o possível para construir sempre algo melhor? Os sonhadores são maravilhosos, os pacifistas são maravilhosos, os ambientalistas são maravilhosos, os idealistas são maravilhosos e essenciais para moldar uma visão de um futuro melhor, mas de um modo geral são todos sujeitos passivos que delegam nos outros a responsabilidade de agir para atingir os seus próprios objectivos. Ao mesmo tempo, são também passivos perante o mal que vêem acontecer aos outros. Quando muito, apontam o dedo e inventam culpados, que são quase sempre os inocentes, e contribuem apenas para fortalecer os verdadeiros responsáveis. Ideais belos e essenciais estão a tornar-se cada vez mais a imagem invertida da realidade ou os vértices de uma realidade alternativa em que o contexto e as relações entre causa e efeito, entre actos e consequências foram completamente subvertidas. Claro que todos os seres sensatos esperam que os problemas sejam resolvidos e que algo melhor venha a seguir. Os novos sonhadores, os novos pacifistas, ambientalistas, idealistas e outros de espécies afins perderam completamente o bom-senso e ganharam novos hábitos ou vícios. Usam mentiras como slogans mágicos capazes de formatar a realidade a seu gosto e resolver os problemas de uns, geralmente os culpados, para criar problemas a outros, geralmente as vítimas, os inocentes, os realistas e os sensatos. Para que a realidade encaixe na sua ficção é preciso mentir e apresentar a mentira como a verdade. Com tais atitudes é muito duvidoso que o melhor ainda esteja para vir. Construir algo melhor dá trabalho e exige muita honestidade. Quantos verdadeiros idealistas estão dispostos a arregaçar as mangas e terão a coragem de enfrentar a verdade nua e crua?

N.º 11

     No Norte de Israel, devastado pelos bombardeamentos do grupo terrorista islâmico Hezbollah, milhares de pessoas estão a plantar milhares de árvores para repor a floresta ardida. Cada pessoa pode escolher a espécie de árvore a plantar de entre as dezenas de espécies autóctones que têm sido semeadas em viveiros. Os critérios para a escolha da espécie são diversos: a espécie que foi mais atingida pelo fogo, a espécie que cresce mais depressa, a espécie que é mais resistente ao fogo, a espécie que tem mais probabilidades de crescer naquele solo, a espécie que dará flores ou frutos mais depressa, mais bonitos, mais saborosos… De entre os milhares de plantadores anónimos, um destacou-se pela ousadia, pela perseverança, pelo sonho e pelo amor à sua terra ancestral; um homem idoso com mais de oitenta anos escolheu uma árvore que cresce muito lentamente e que só terá a primeira floração daqui a 70 anos. Muitos espantaram-se com a sua escolha, mas afinal é tão simples e evidente: daqui a 70 anos ele não estará vivo para poder admirar aquela bela árvore florindo pela primeira vez, mas outros estarão. Ele plantou aquela árvore para os vindouros, para o seu povo, para o seu país. O seu acto foi uma declaração de amor e um manifesto de fé e fidelidade; não importa o que os inimigos tentarão fazer para aniquilar o povo judeu na sua terra ancestral, eles serão sempre vencidos por aqueles que amam a vida, a liberdade e o futuro.

N.º 12

     As palavras não pertencem exclusivamente a ninguém, mas o seu significado pertence a todos e todos são responsáveis por conservá-lo e torná-lo claro, mesmo quando as palavras são usadas em sentido figurado. Regra geral, o sentido literal é aceite tacitamente e reconhecido por todos. E se têm dúvidas, recorrem à autoridade dos especialistas e confiam neles. Muitos esquecem-se de fazer o seu próprio estudo e de recorrer permanentemente aos seus próprios cérebros. Os novos dicionários incluem obscuros neologismos, uma imensa variedade de pronomes e identidades e abrem brechas no sólido significado de palavras que pareciam invioláveis. Hoje os especialistas são quase todos virtuais e mais ou menos anónimos. Quando as palavras se referem a conceitos e a categorias de natureza política, sociológica, identitária ou cultural é ainda mais importante respeitar o significado das palavras e usá-las no contexto certo e com plena propriedade vocabular. No entanto, é precisamente neste domínio que os especialistas virtuais ou os peritos de rua, sempre muito ruidosos, se tornam mais interventivos e mais nocivos, como se cada um fosse o líder totalitário de uma ou mais tribos num mundo orwelliano. Criam os seus novos glossários e pilham desalmadamente o puro significado original. As palavras são suas reféns. Hoje existem pelo menos 72 sexos, pelo menos segundo a nova lei irlandesa; a História é toda ela uma ofensa contra os novos oprimidos-privilegiados que precisam sempre de um bode expiatório, quase sempre os mesmos: os Judeus. Genocídio e apartheid são as mais infundadas acusações e libelos infames lançados contra os Judeus, que são precisamente o povo que foi e é persistentemente vítima de apartheid e genocídio. Aqueles que os discriminam e os querem exterminar são os novos heróis destes mestres da manipulação, da mentira e da distorção da verdade.

N.º 13

     A noite metafórica e a noite natural caminham lado a lado na História do Mundo e na história de cada ser. Quando ambas se confundem, é a noite natural que se apaga sob o poder das imagens e das analogias e é a noite metafórica que se impõe e, no entanto, torna-se menos abstracta. A noite imaginada torna-se, então, a tela em que se projectam as constelações interiores, ainda mais cintilantes do que as originais, ou o negrume absoluto e imensurável que encerra todos os medos e a impotência perante o desconhecido. Uma imagem é bela e reconfortante, a outra é terrível e inquietante. Ao longo da História a noite metafórica e terrível apagou muitas vezes a beleza e a esperança que uma noite infinitamente iluminada imprime nos espíritos. Nessas alturas, os seres bons aspiram apenas pela possibilidade de contemplar pacificamente a noite natural que vai e vem numa cadência reconhecida. A noite natural é bela porque é passageira, uma viajante fiel que visita cada dia e parte inteira. Se a noite natural caísse definitivamente em algum lugar, nem ela nem o lugar voltariam a ser belos nem serenos. As estrelas seriam apenas os olhos de fantasmas aprisionados no negrume e as constelações os grilhões comuns. Que a noite natural continue a ser passageira e só as metáforas mais belas perdurem nos dias que hão-de vir tomar o lugar de cada noite…



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