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quarta-feira, 8 de maio de 2019

TEATRO NA ESCOLA XXVII


O QUE PRENDE À TERRA

À Procura De Um Pinheiro, ópera ligeira / Musical de José Carlos Godinho, interpretado pelos alunos do Curso Profissional de Artes do Espectáculo – Interpretação, da Escola Secundária D. Pedro V, Lisboa, 18 de Dezembro de 2018. Encenação de Victor Sezinando. Vídeo e fotografia: São Ludovino.
Looking For A Pine Tree, musical by José Carlos Godinho, performed by the students of Performing Arts of Secondary School D. Pedro V, Lisbon, December 18, 2018. Stage Direction: Victor Sezinando. Video & photography by São Ludovino.
     Em vez de um artigo sobre este musical, fica aqui uma história que foi inspirada por ele. Parabéns a todos pelo excelente trabalho! Aquelas árvores ululantes são tão impossíveis de esquecer como a felicidade infantil daqueles que procuram e encontram o seu pinheiro perfeito. Todos os pinheiros são perfeitos, sobretudo quando têm as raízes bem presas à terra e não são devoradas pelo fogo nem pela avidez humana.

Elenco
Adriana Loureiro
Ana Beatriz Martins
Beatriz Carvalho
Cátia Castanheira
Diana Sardinha
Diogo Pereira
Filipa Lopes
Íris Sena
Joana Jorge
João Duarte
Maria Mendes
Mariana Correia
Nádia Antunes
Rafaela Alves
Raquel Simões
Samira Baldé
Sandro Dias
Sara Carvalho
Sofia Pedrosa
Tatiana Cavalheiro

Encenação
Victor Sezinando
Texto
À Procura De Um Pinheiro
José Carlos Godinho

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O QUE PRENDE À TERRA

     As árvores da floresta estavam todas reunidas como estão sempre. Ligadas pelas raízes e pela química invisível que sustenta sob a terra toda a vida que vive à superfície. Claro que também estavam ligadas por afinidades mais visíveis como a espécie, a família, a forma das folhas ou os hábitos sazonais que mantêm há milhões de anos.
     A árvore mais antiga, a árvore-mãe, já meio carcomida e curvada, mas com raízes ainda muito fortes, as mais fortes de toda a floresta, deu início à reunião e tomou a palavra. Todas as outras árvores se inclinaram ligeiramente e ouviram atentamente. Todas, menos os eucaliptos. Esses voltaram as costas e começaram a assobiar uma canção da moda. A árvore antiga notou o ostensivo alheamento, mas mesmo assim falou com determinação.
    − Somos tantas que seria difícil alguém contar-nos. Mas já fomos mais, mais diversas, mais frondosas e resistentes. O que mais me entristece é que agora não seja assim porque algumas de nós decidiram tomar a terra que era repartida por tantas outras. Crescem muito iguais e certinhas e parece que não se importam nada por terem uma vida curta…
     Alguns eucaliptos voltaram-se para ela por momentos com ar de poucos amigos e voltaram novamente as costas. Uns limavam as unhas, outros sacudiam as folhas secas, outros riam ao olharem a cordata assembleia. E a árvore antiga prosseguiu.
     − Tornaram-se demasiado iguais aos humanos destes tempos incertos. Ainda vos lembrais dos humanos que nos amavam como suas iguais, que nos veneravam mesmo quando nos cortavam para alimentar as fogueiras ou construir as suas casas. Davam-nos nomes belos e consagravam-nos dias para estarem entre nós. Ainda me lembro de alguns desses nomes e algumas ainda estão entre nós… Prelinda, Plomino, Selina, Luni, Hélion…
     Algumas árvores anuíram com um sorriso e entreolharam-se.
     − Nunca as excluímos do nosso seio. Têm aqui um lugar como todas nós. Mas este espaço começa a escassear. Nós perduramos através das décadas e dos séculos, nunca usurpámos o lugar de ninguém. O espaço que ocupávamos há cem anos é o mesmo que ocupamos hoje. As ervas e os arbustos em redor cresceram, multiplicaram-se, pereceram e voltaram a crescer. Nós perdurámos, escapámos ao fogo, ao corte da serra, ao calor abrasador e ao frio extremo, renascemos por fora, estação após estação, mantivemos a terra viva e saudável e purificámos o ar que nos rodeia e todos respiram. Penso que já demos muito e nunca exigimos nada em troca excepto permanecer aqui com o céu e as aves como eternos companheiros.
     Mas nos últimos tempos os perigos aumentaram, muitas de nós foram consumidas pelo fogo que não veio da natureza mas da perfídia humana. E aqueles companheiros e companheiras que nos voltaram as costas por ordem humana tornaram-se tão perigosos como as mentes e as mãos humanas. Que faremos neste tempo tão incerto…?
     Hélion, um carvalho secular, ergueu um ramo alto para pedir a palavra. Olhou em volta e falou na direcção dos eucaliptos.
     − Antes de todos, é para vós que falo pois pertenceis ao mesmo reino que nós, tal como as ervas, as flores ou os arbustos. Temos vivido sempre em paz e harmonia. As guerras são uma coisa dos humanos, as revoluções são o culminar da esperança ou do desespero, a ruptura um fim irreversível. Sempre apelámos à paz, à harmonia e renovação sem perda ou aniquilação dos nossos semelhantes. Aqui e além, os humanos já alteraram esta harmonia inúmeras vezes e nós repusemos o equilíbrio mesmo quando nos encontrávamos à beira do abismo. 
     Por isso, penso que neste momento só nos resta apelar à rebelião, uma revolta universal e consensual. Creio, no entanto, que não devemos ser nós a rebelar-nos… contra quem o faríamos e como…?
     Luni interrompeu Hélion, não apenas para concordar com o que ele já dissera mas para sugerir um caminho.
     − Também já meditei longamente sobre este assunto. Também entrevi múltiplos caminhos e tentei vislumbrar o que haveria mais adiante em cada um deles. Quando procurei nos humanos a solução pouco consegui vislumbrar. Apenas dúvidas, hesitações e resultados imprevisíveis. A solução tem de vir de nós e nunca contra nós. O preço a pagar é elevado, muitas de nós terão de perecer, recusar-se a nascer e crescer. E sois vós, eucaliptos, que tendes nas vossas mãos o destino de todas nós. Sois tão desdenhosas connosco, esquecestes as vossas origens e os laços comuns que nos unem. Mas servis, de forma tão cega e subserviente, os desígnios humanos. 
    Nesse momento a árvore antiga ergueu-se ainda mais sobre as restantes, como se uma réstia de juventude subisse subitamente das veias aos ramos mais altos. Entendeu inteiramente o alcance das palavras de Luni. Voltou-se para os eucaliptos e declarou.
     − Sim, não somos nós mas vós, quem deve rebelar-se. Não contra nós mas contra os que fizeram de vós meros instrumentos de um mundo a que não pertenceis. Sois escravos sem honra nem glória. Acabais, mais cedo ou mais tarde, nas lixeiras, longe da terra que vos deu a vida, sem raízes nem laços que vos prendam a nada. Servis os interesses humanos porque repudiastes as vossas origens e ninguém pode servir dois amos tão distintos ao mesmo tempo. Entre nós não há amos nem escravos. Entre nós os “amos” são os que amam. Entre os humanos, “amos” são os que se amam apenas a si mesmos. Mais dia, menos dia, esse estranho elo de escravidão também acabará. Eles deixarão de precisar de vós porque inventaram qualquer coisa nova. E, então, quem vos receberá no seu seio? Sei que conheceis a resposta. Mostrai que a conheceis e regressai à floresta, coexisti com todas as outras árvores. De que serve essa vontade de ocupar todas as encostas, crescer mais depressa, desgastar o seio da terra, beber toda a água enquanto os outros morrem de sede…? A terra que abriga as nossas raízes é a mesma. O mal que agora fazeis a todas as plantas da floresta será um dia também o vosso mal e o vosso ocaso. O sol e a lua continuarão a viajar pelo céu, mas a terra ficará estéril e vazia… Como pode alguém escolher o fim…?   
     Os eucaliptos foram-se voltando lentamente, um após o outro. Já nenhum assobiava nem escarnecia. Olharam a assembleia das árvores como se as vissem pela primeira vez, como se reconhecessem pela primeira vez que eram todas parte de um todo. Do tronco de um ou outro escorria um fino fio de resina. Curvaram-se como se um grande peso tivesse subitamente pousado sobre as copas, as folhas caíram quase por completo e os olhos voltavam-se para a terra toldados por uma névoa escura que nada deixava ver. No mesmo instante viram-se árvores altíssimas e detritos povoando as lixeiras. Viram o deserto avançar pelas montanhas na sua direcção e o sol ser devorado por densas camadas de fumo. Viram tudo o que existia e o que seria depois quando já não existisse. Viram uma floresta ausente, viram encostas escorrendo areia, viram-se não existindo. Nesse ponto lá adiante, não muito distante, não havia nada para ver.
     O que lhes pediam era muito, era mais do que um sacrifício passageiro, era a própria vida. A única forma de se rebelarem era deixar de nascer e crescer em todos os lugares, como os humanos lhes ordenavam.
     Um dos eucaliptos mais jovens tomou a palavra. Falou lentamente enquanto olhava a terra e depois o céu.
     − Já que estou aqui, hei-de ficar. Hei-de crescer e ser um eucalipto gigante. Hei-de tornar-me tão robusto como o aço. Nenhuma serra me cortará. Mas quando algum pobre aldeão me vier buscar para erguer a sua casa, irei com ele e serei a sua casa e nunca mais voltarei a nascer nem a multiplicar-me na terra. Não beberei a água das nascentes nem sugarei os minerais da poeira subterrânea. Serei apenas a casa e serei feliz.
     Outros eucaliptos entreolharam-se e viram-se pontes, passadiços, cancelas e casas, folhas de papel e livros. Todos queriam afinal ter uma finalidade mas não um fim. Mas para isso, muitos não poderiam voltar. Aquela seria a sua única vida.
     Desde esse dia, viveram mais do que nunca. Sendo apenas árvores, seres verdadeiros e generosos. Ano após ano, foram partindo. Transformaram-se em coisas úteis e amadas. Continuaram a viver de outro modo em muitos outros lugares.
     Só alguns regressaram para serem como eram antes, árvores entre árvores. E a floresta sorriu de novo e perdurou. Perdura em plena harmonia protegida pela ampla abóboda do céu.

São Ludovino, 21/12/2018

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     A história acima − O que prende à terra − foi inspirada numa situação real, a proliferação do eucalipto na paisagem portuguesa e o seu efeito nocivo nos solos, que se vão desgastando e tornando cada vez mais secos e áridos, potenciando também a propagação de incêndios, quase sempre de origem criminosa. Mas foi também inspirada no próprio conteúdo do musical À Procura De Um Pinheiro, de José Carlos Godinho, especialmente na canção “Somos Pinheiros”.

Somos pinheiros
(Depois da tempestade inicial, os pinheiros apresentam, serenamente, o seu pedido de sobrevivência)

«Somos pinheiros queremos viver,
temos ainda tanto a fazer!
Não nos destruam nem tirem do chão,
pois é diferente a nossa função!
Do nosso tronco saem madeiras, para fazer
móveis, mesas, cadeiras
Portas estantes tacos para o chão,
bem como lenha para o fogão.
De oxigénio enchemos o ar,
para toda a gente poder respirar.
Damos resina, lápis pincéis, bem como pasta para papéis.
E muito mais podemos fazer, eis a razão de querermos viver!
Não nos destruam nem tirem do chão,
pois é diferente a nossa função!»

À Procura De Um Pinheiro de José Carlos Godinho (excerto)








TEATRO NA ESCOLA XXV


O CANTO DAS ORIGENS

Nos Montes de Viriato, musical de José Carlos Godinho, interpretado pelos alunos de Artes do Espectáculo – Interpretação, da Escola Secundária D. Pedro V, Lisboa, 30/5/2018. Encenação e direcção de actores de Victor Sezinando.

     Aos primeiros acordes fica-se expectante. O que virá a seguir? Soam as primeiras vozes, perfeitamente afinadas, para quem não aprendeu canto, e percebe-se que perante os nossos olhos não se vai desenrolar apenas um espectáculo que acaba com o apagar da última luz. Há ali qualquer coisa que parece vir de longe, de um tempo longínquo que pouco a pouco se reconhece nas palavras e na voz interior que as alimenta. Há ali qualquer coisa que perdura para lá do espectáculo e do momento. Estas vozes não falam apenas da pátria, sobretudo não falam da pátria segundo um padrão ideológico, falam de identidade, de uma identidade primordial, a que podemos chamar pátria só por que é difícil encontrar outra palavra. Quem for alérgico à palavra pátria, pode chamar-lhe raízes ou origens e estará, no fundo, a dizer a mesma coisa. 
     Sendo um musical infanto-juvenil, adivinha-se na composição das sequências uma certa dimensão pedagógica, assim como quem diz “Vou contar-te uma história, a tua história, a história de todos nós”. Pouco importam então os séculos, os milénios (tudo começou há cerca de 1150 anos, cerca de 300 anos antes da independência de Portugal), pouco importa a cronologia ou a exactidão dos factos, importa o profundo sentimento de união e a íntima sensação de partilhar as mesmas raízes. Penso que mesmo quem não é português apreendeu desta experiência aquela misteriosa certeza de fazer parte de um todo, quer o todo seja um povo, um país ou a própria humanidade. Se houve ontem, haverá amanhã, só é preciso manter vivas as raízes, senti-las como nossas, sabendo que elas são coordenadas num mapa invisível, individual e colectivo.
     Ao longo deste breve musical, vimos entrelaçar-se a epopeia com o lirismo, a simples humanidade com o heroísmo, a perseverança e a lealdade maculadas pela traição, o anseio de liberdade e a consciência da identidade colectiva. É possível que um público exclusivamente infantil não apreenda conscientemente tudo isto, mas nenhum público fica indiferente. Sai-se dali de alma cheia como quem recebeu o privilégio de se sentir mais vivo por ser quem é, por estar onde está. É uma forma maravilhosa de revalorizar Portugal e lembrar que podemos ser sempre melhores do que somos.
     Os jovens intérpretes / cantores deram nova vida a esta história, cantaram e encantaram, souberam ser dramáticos, pungentes, líricos, cómicos e sempre genuínos. Começar assim o primeiro ano do curso só pode augurar coisas boas.
     Victor Sezinando, com a sua habitual sensibilidade e exigência, demonstrou mais uma vez que é possível combinar autenticidade com rigor, conseguiu que tudo fluísse de modo natural sem descuidar a qualidade da interpretação. Os figurinos (design e cor) ajudaram a encarnar a vida e o ambiente singelo de um povo antigo e vivo, determinado desde sempre a não abdicar da sua liberdade e identidade. As pequenas tribos de pastores lusos (da Lusitânia) enfrentam o grande império romano, vencem, são vencidos mas perseveram. Embora a história deste período seja muito nebulosa e incerta, só detectei uma verdadeira mas divertida incorrecção nesta história e é de natureza temporal. A dado momento diz-se “Não bastava o Astérix, Obélix…” O Astérix da banda desenhada (série de banda desenhada criada por Albert Uderzo e René Goscinny, em 1959) e os seus companheiros enfrentaram os romanos no tempo de Júlio César, pouco antes do início da era cristã (cerca de 50 a.C.). Viriato e as tribos lusas, constituídas por povos autóctones, enfrentaram os romanos cerca de 150 anos antes da era cristã.    
     Foi curioso ver os Lusos serem representados exclusivamente por elementos femininos; desta forma a fragilidade e a determinação daquele povo ganharam uma nuance mais emotiva e genuína. A fragilidade é superada por uma determinação inabalável. Também é certo que as canções que ouvimos parecem escritas para ser entoadas por vozes femininas. Na luta daquelas mulheres soa sempre um hino de amor e esperança. Provavelmente, não soaria do mesmo modo se as vozes fossem masculinas.
     O grupo de soldados romanos saiu-se igualmente bem; foram duros, altivos, ameaçadores, desdenhosos, chorosos e patéticos. São o contraponto da epopeia e do lirismo, neles reside a comicidade que atenua a dureza da realidade histórica implícita em qualquer invasão e processo de colonização. A enumeração dos generais romanos, vencidos por aquelas tribos que não possuíam armas nem exércitos, traz à mente aquela ideia tão cara a F. Pessoa de que a verdadeira força não provém da matéria mas do espírito. Foi provavelmente essa resiliência que levou Diodoro da Sicília (ou Diodoro Sículo, historiador grego do século I a.C.) a descrever Viriato como símbolo das qualidades do seu povo e a sua força motriz: «Enquanto ele comandava ele foi mais amado / do que alguma vez alguém foi antes dele».

Morte de Viriato, chefe dos Lusitanos, de José de Madrazo Y Agudo, 1781-1859, 1807, Museu do Prado.

     Ao longo de mais de seis séculos de ocupação romana, a Lusitânia foi governada por 58 imperadores romanos. Deixaram-nos muito de bom. Também não devemos esquecer isso. Assim como não devemos esquecer que os que mataram Viriato são da mesma velha estirpe dos corruptos e corruptíveis que perdura até hoje, em muito maior número e com muito menos causas. Ditalco, Audax e Minuro, emissários de Viriato nas conversações para assinar a paz com os Romanos, foram subornados por Cipião para matar o seu próprio chefe e fizeram-no sem hesitações esperando como recompensa o habitual: riqueza e poder. Cumprido o contrato com os Romanos, foram pedir a recompensa, mas os Romanos responderam com aquela moralidade formal que parece sempre certa no conteúdo mas absurda no contexto: “Roma não paga a traidores!” Enfim, corruptores cheios de bons princípios!
     Falta apenas dizer que, segundo alguns autores, Ditalco, Audax e Minuro não pertenciam à tribo dos Lusos, eram guerreiros de outra tribo algures na Andaluzia. Seriam de Urso (Osuna, Sevilha). Sempre é um alívio pensar que os traidores não terão vindo do seio da mais aguerrida tribo da Ibéria. Mas também há historiadores que consideram que os nomes dos traidores não são nomes próprios mas a designação de atributos dos traidores (compromisso, audácia, redução). Mais um enigma…

Morte de Viriato de José Villegas Cordero, 1890.

     A História não é só feita de factos, memórias, registos escritos, achados arqueológicos. É também feita de crenças, de aspirações, de mitos, de reminiscências que vivem latentes no inconsciente colectivo. A história de Viriato é feita disso tudo, de História e de tudo o que a circunda e (re)constrói.
Viriato (c. 180 a.C. – c. 139 a.C.) não venceu apenas batalhas, venceu o tempo e o esquecimento, inspirou e ainda inspira a resiliência dos que querem acima de tudo ser livres e viver pacificamente. Viriato não defendeu apenas a Lusitânia e a sua tribo (os Lusos), combateu muito para além das suas fronteiras em territórios que vão da zona de Zamora à Andaluzia, passando por Segóbriga (perto de Madrid), hoje territórios espanhóis. Emerita Augusta (hoje Mérida) viria a tornar-se a capital da Lusitânia. Na verdade, ainda hoje, os Espanhóis demonstram mais gratidão a Viriato do que os Portugueses, exceptuando a zona entre Viseu e a Guarda, já que o núcleo da tribo habitava nas encostas agrestes da Serra da Estrela. No Museu do Prado podem encontrar-se quadros alusivos a Viriato e o brasão de Zamora continua a ostentar as oito faixas vermelhas que representam as oito vitórias de Viriato naquela zona em batalhas contra generais romanos. O braço que segura a bandeira com as oito faixas vermelhas representa o braço do próprio Viriato. O próprio hino de Zamora enaltece Viriato:

La noble seña sin falta
bermeja de nueve puntas
de esmeralda la más alta
que Viriato puso juntas,
en campo blanco se esmalta.


¿Quién es esa gran señora?
la numantina Zamora
donde el niño se despeña
por dejar libre la enseña
que siempre fue vencedora.

Gratia Dei. Batalla de Toro, 1476.



     E nós, Portugueses, como temos lembrado e honrado Viriato? Para além da estátua em Viseu (de Marianno Benlliure, também espanhol), o nome de um teatro (também em Viseu, fundado em 1883), o nome de uma localidade (Cabanas de Viriato, no distrito de Viseu), o título de um jornal de Viseu publicado entre 1855 e 1892 (O Viriato - jornal politico, instructivo e comercial), ainda andam por aí algumas obras literárias, algumas velhas edições e umas poucas reeditadas. Os três Viriatos Trágicos abriram o caminho ─ o de Brás Garcia de Mascarenhas (poema heróico em 20 cantos, Coimbra, 1699), o de Júlio Dantas (peça de teatro não sobre Viriato mas sobre Brás Garcia de Mascarenhas, autor do primeiro Viriato Trágico, 1900) e o de João de Barros (adaptação do poema heróico em prosa, 1940). Pelo meio, foi publicado o Viriatho - narrativa epo-historica de Teófilo Braga (1843-1924), Lello & Irmão, Porto, 1904, uma espécie de ensaio histórico entrelaçado com o romance histórico. Já no século XX, vieram à luz A Voz dos Deuses – Memórias de um Companheiro de Viriato de João Aguiar, 1984, o Viriato Rey de João Osório de Castro, ilustrado por José Manuel Castanheira, Viriato (peça de teatro de João Carvalheiro, a partir de A Voz dos Deuses de João Aguiar, representado em 2017 e 2018) e as muitas bandas desenhadas, entre elas a de José Garcês, a de Vítor Belém e José Salomão e a de João Amaral e Rui Carlos Cunha (adaptação ilustrada de A Voz dos Deuses de João Aguiar). Há ainda diversos estudos históricos e literários com interesse: O Mito de Viriato na Literatura Portuguesa de José Barbosa Machado, 2010, Lusitanos no tempo de Viriato de João Luís Inês Vaz, Viriato, Herói Lusitano - o Épico e o Trágico de António Manuel de Andrade Moniz, Viriato de Diogo Freitas do Amaral, Reflexões em torno do livro “Lusitanos no Tempo de Viriato”, de João Luís Inês Vaz por José D’Encarnação (in Revista Portuguesa de Arqueologia, Vol. 14, 2011) ou A etno-epo-história e os mitos fundacionais da Nação – “Viriato” de Teófilo Braga de Maria da Conceição Meireles Pereira, Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
     Se nem todas as obras literárias que se escreveram por cá são historicamente credíveis (até porque esse não era provavelmente o principal objectivo), também não se deve dar grande crédito ao Viriato (tragédia em cinco actos, Madrid, 1843) de Manuel Hernando Pizarro (autor espanhol) que deu tantas voltas à História que a tornou quase irreconhecível. Aí o traidor é um apenas, um lusitano a quem ele chama simplesmente “Coello”, que teria assassinado Viriato por uma questão de amores pela mesma donzela!!! É caso para dizer que certos escritores são os piores inimigos da História.
     Igualmente curioso é o drama trágico em um acto de Luciano Francisco Comella (El Mayor Rival de Roma – Viriato, Madrid, 1798). Aí, Viriato é designado como “Caudillo del Pueblo Español”, sem nunca referir que Viriato era lusitano e não espanhol, como se a Lusitânia nem sequer existisse e a Espanha já existisse no tempo de Viriato. Mas menciona dois capitães espanhóis com os nomes de Ditalcon e Minor. Ditalcon é irmão de Dulcídia, apresentada como mulher de Viriato. É Ditalcon e o próprio Cipião que matam Viriato. E Viriato continua a falar com Dulcídia, mesmo depois de morto, para revelar quem o matou e como… Minor é apresentado como grande inimigo dos Romanos e combate ao lado dos Lusitanos (que apenas aparecem no final embora tivessem lá estado sempre a enfrentar os Romanos). No final, todos juntos, incluindo Dulcídia, perseguem Ditalcon para o matarem. Enfim, há casos em que a efabulação e a liberdade criativa deviam ter mesmo um limite, não vá o leitor incauto acreditar em tantas patranhas. Veja-se na nota final, algumas obras mais recentes de autores espanhóis bem diferentes destas que mencionei.
     Como o próprio Viriato reconheceu, ninguém pode viver eternamente em guerra e por isso procurou um acordo de paz com Roma. Só não esperava que o acordo fosse quebrado e que o seu anseio de paz e liberdade fosse aniquilado pela traição daqueles em quem confiava.  
     Obrigada por nos terem recordado Viriato e as resilientes tribos da primitiva Lusitânia desta forma tão melodiosa. Uma enorme e merecida vénia para todos.

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Nota:
* - Viriato - O Colar dos Deuses, romance histórico de Fernando Barrejón, 2004.
* - Viriato: el héroe hispano que luchó por la libertad de su Pueblo, Mauricio Pastor Muñoz, 2004
* - Viriato – História e símbolo no Viriato de de Maurício Pastor Muñoz (Prefácio de José D’Encarnação, A Esfera dos Livros, 2006)

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Nota: As fontes históricas que restam são sobretudo romanas e podem, por isso, padecer de alguma ou muita parcialidade. Mas os Romanos mostraram também um profundo sentido de justiça quando julgaram no Senado o Procônsul Sérvio Galba pelas atrocidades cometidas contra os Lusitanos. Claro que não foi apenas julgado pelas atrocidades em si mesmas, mas sobretudo pelo efeito nefasto que teve na pacificação da Lusitânia e na obtenção fácil do ouro e da prata das minas, gerando a revolta das tribos lusitanas que nunca mais deram tréguas ao invasor. Segundo o relato de Teófilo Braga, o Tribuno da plebe, Aulo Scribonio, batendo-se pela condenação de Galba, acusou-o de ter morto mais de trinta mil lusitanos para lhes ficar com as terras, a prata e o ouro das minas: «O Procônsul Galba (…) trucidou traiçoeiramente para mais de trinta mil pessoas, em que a par dos homens validos estavam velhos, crianças e até mulheres!» (cf. Viriatho - narrativa epo-historica, Teófilo Braga, Lello & Irmão, Porto, 1904, p. 12) 

Mapa das Campanhas de Viriato e dos Lusitanos contra o Império Romano.



 Mapa da conquista romana da Hispânia, desde o início da Segunda Guerra Púnica (219 a. C.) até às Guerras Cantábricas (29 a.C.).


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Aqui fica uma pequena homenagem a Viriato e aos nossos antepassados Lusos ou Lusitanos

LUSO SER

De onde vens raiz profunda
Que no peito bates qual onda de mar?
Que coragem te escolheu a fronte para morar
Qual coroa de nuvens protegendo a montanha?

Passam os tempos e as eras
Passam os pergaminhos e as velhas histórias
Passam por ti e por mim enredados no remoinho
De outros tempos e outras eras.

Que é feito de ti, Viriato
Pastor de gente e rebanhos?
Que é feito do punhal que te levou
De entre os teus pela calada da noite?

Eram também teus(1) os que ergueram o punhal
E o cravaram na alma toda de um povo.
Eram também teus os que quiseram mais
Que a vida pura das encostas da montanha.

Antes da paz partiste
Antes de ser livre o teu rebanho.
Quebraram-se os cajados e as lanças
Na busca única da liberdade.

Ficaram as montanhas e as flores silvestres
Crescendo na paz inviolável deste chão agreste
Adormeceu sem ti todo o rebanho
Longa noite de penas e mudos anseios.

Passaram tempos e eras
Perdura a canção do mar
Perdura a coroa de nuvens
Sobre as cabeças curvadas
Sobre o inquieto esquecimento.

Abre-se a montanha
Revolve-se o mar
Chama-te e volta a chamar
Mas tu não podes voltar.

Cansada do longo e profundo sono
A raiz clama pelo sol
Pela árvore que ainda alimenta
Tomada pela fúria do amor eterno
Ergue-se do solo e torna-se aérea.

Viaja até às estrelas e entranha-se na luz de cada uma delas
E agora que olhas para o alto e vês centelhas de longos cabelos
Agora sabes que a terra e o céu não se esqueceram de ti
Não se esqueceram do teu berço nos Montes de Viriato.

E tu, que lembras tu?
E o que esqueces?
O que anseias sem saber?
Quem és tu, Luso Ser?

São Ludovino, 31/5/2018 – 19:37

(1) Convém esclarecer que alguns autores afirmam que os traidores (Ditalco, Audax e Minuro) não eram Lusos mas Andaluzes (de Urso, hoje Osuna). Viriato lutou contra o ocupante romano não só no território da antiga Lusitânia (centro de Portugal hoje) mas também em vários reinos da futura Espanha. Aí também teve vitórias e derrotas. Aí ganhou amigos e inimigos. Aqueles que o assassinaram eram supostamente amigos, chefes militares muito próximos de si. Foi essa proximidade que lhes permitiu entrar pela calada da noite na sua tenda e assassiná-lo. E, assim, perderam todos, um líder nato e a esperança de manter a autonomia dos povos autóctones.
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Elenco / Cast
Adriana Loureiro
Ana Beatriz Martins
Beatriz Carvalho
Cátia Castanheira
Diana Sardinha
Diogo Pereira
Filipa Lopes
Íris Sena
Joana Jorge
João Duarte
Maria Mendes
Mariana Correia
Nádia Antunes
Rafaela Alves
Raquel Simões
Samira Baldé
Sandro Dias
Sara Carvalho
Sofia Pedrosa
Tatiana Cavalheiro
Encenação / Stage Direction
Victor Sezinando






 Nos Montes de Viriato - ensaio, photography by São Ludovino.

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