sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

TEATRO NA ESCOLA XV

PALCO SEM FRONTEIRAS

O Casting, Commedia dell’ Arte, interpretada pelos alunos de Artes do Espectáculo, 12.º 13, da Escola Secundária D. Pedro V. Lisboa, 10/11/2015. Encenação: Carlos Melo.

     A Commedia dell’ Arte voltou, desta vez sem fronteiras entre os actores e o público. As cadeiras desapareceram e o público foi convidado a deambular pelo palco entre diversos espaços onde se ia desenrolando a acção. A proximidade entre os actores / personagens e o público criou dois efeitos curiosos. Por um lado, demonstra que quem interpreta e quem observa não é assim tão diferente nem está assim tão distante. Por outro lado, o público é “forçado” a participar na acção. Esta foi uma outra forma de fazer comédia. O público não se divertiu apenas com as peripécias das personagens, foi também personagem e riu-se de si mesmo.
     O Casting manteve uma grande parte das personagens e situações típicas da Commedia dell’arte, mas os actores, já vestidos com a personagem que lhes caberia, disputam, no início, o privilégio de ser quem estão destinados a ser. Para pôr fim ao conflito de interesses, encontra-se uma solução pacífica e divertida. Alguns dos papéis serão interpretados simultaneamente por dois actores diferentes (duas donzelas casadoiras, dois velhos avarentos, duas criadas espertalhonas). Havia, no entanto, alguns papéis predefinidos. Talvez nem houvesse uma intenção nessa predefinição, mas é possível descobrir aí algum simbolismo. O casal que representa a elite social já está no seu posto quando o público entra, como se o seu estatuto privilegiado fosse inquestionável. O mesmo acontece com as “capitãs siamesas”, até porque seria difícil separá-las; também elas ocupam o seu pedestal, qual estátuas destinadas a ser admiradas. Por seu turno, as criadas, simbolizando o pólo social oposto, assumem desde o início o seu papel de servidoras esclarecidas que têm opiniões próprias e uma natural tendência para a irreverência e o protesto. Mas o papel predefinido mais curioso foi provavelmente o do padre, que só se torna humano e padre no final, quando os seus serviços são solicitados. Até aí, representou o papel de uma espécie de Cristo crucificado, que vai reagindo com expressões faciais de enfado ou agrado ao desenrolar dos acontecimentos.
     O cariz peripatético da peça, centrando-se alternadamente num ou outro ponto da cena, não deu descanso aos restantes intérpretes. Aliás, alguns dos momentos mais divertidos e expressivos aconteceram quando o público olhava noutra direcção. Os velhos jogadores foram exemplares no seu constante confronto, rezingando, praguejando com expressões faciais, jogando com o mesmo afinco do princípio até ao fim. A elite manteve a pose superior e as criadas continuaram a fazer um interminável braço de ferro, derrubando e empilhando tachos pelo meio. As capitãs mantiveram-se siamesas do princípio até ao fim. A capacidade de representar para “ninguém” pode ser tão admirável como a de representar para um público.
     Foi diferente, foi divertido, um improviso muito bem preparado. Continuem a experimentar e a improvisar com a mesma dedicação.
     As imagens que se seguem não foram fáceis de captar. Com o público a ocupar permanentemente o palco, foram raros os momentos em que foi possível encontrar um enquadramento apenas com os actores, na perspectiva mais adequada. O resultado é necessariamente diferente e imperfeito. No vídeo aparecem muitas outras fotografias que não constam no álbum Picasa.     

Elenco
Ana Marques
Beatriz Teixeira
Bruno Páscoa
Cláudia Mendonça
Daniela Oliveira
Denilson Andrade
Gonçalo Marques
Joana Crispim
Mara Boleta
Miguel Galamba
Patrícia Aguiar
Tânia Martins
Rafael Neto
Verónica Barros  

Encenação
Carlos Melo




The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

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 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

The Casting, photography by São Ludovino.

The Casting, photography by São Ludovino.

 The Casting, photography by São Ludovino.

The Casting, photography by São Ludovino.

The Casting, photography by São Ludovino.



terça-feira, 1 de dezembro de 2015

TEATRO NA ESCOLA XIV

OS ENGANOS DO COSTUME

Conte Comigo, peça de António Torrado interpretada pelos alunos do Curso Profissional de Artes do Espectáculo (12.º 13), no Auditório da Escola Secundária D. Pedro V, Lisboa. Ensaio geral de 30/6/2015. Elenco: Marisa Conceição, Rafaela Neves, Ricardo Diabão e Igor Angélico. Encenação: Carlos Melo.

     É certamente uma “comédia de enganos”, acentuados pela inversão dos papéis masculinos e femininos que vimos nesta encenação. Lourenço torna-se Laura, Carlos passa a ser Carla, a maquilhadora passa a ser um homem. A acção decorre no espaço ideal para enganos, mal-entendidos e o rodopio habitual das máscaras. A inversão dos papéis tem a vantagem de transformar a traição e a mentira num comportamento partilhado de igual modo por ambos os sexos. Quem engana quem não importa muito aqui. A traição, tal como o amor, é sempre uma coisa feita a dois. Importa que, de um modo ou outro, todos o fazem e todos parecem ter razões legítimas para enganar, fingir ou acreditar, dependendo do grau de vaidade, egoísmo e egocentrismo de cada um. Num mundo de ilusões, a legitimidade torna-se uma coisa muito subjectiva. Nenhum deles parece uma pessoa real. Todos parecem personagens inseguras e ilusivas que se enganam a si mesmas. Não se sente uma gota de verdadeiro amor ou afecto entre eles. Tudo parece reduzir-se a uma teia de relações de fachada e conveniência. Eles não são o retrato de uma classe profissional mas de uma sociedade mergulhada na superficialidade. Nada de sentimentos profundos ou dores dilacerantes. Aqui tudo passa, tudo se desvanece como num ecrã de televisão. No final, não ficam memórias de emoções, apenas a sensação de se ter assistido a um jogo rotineiro. 
     O palco real em que se movem são os bastidores de uma cadeia televisiva. Uma apresentadora famosa prepara-se no seu camarim para iniciar dentro de meia hora um talk show intitulado “Conte Comigo”. A televisão transporta em si mesma, como todo o espaço virtual, a semente da mentira, um faz de conta que contagia a vida que por sua vez se reflecte no ecrã. Um ciclo vicioso de que o homem moderno é um cúmplice passivo e activo. Criam-se ídolos com pés de barro envoltos em sedutoras miragens; e, mesmo quando os pés de barro se partem e a miragem abre as cortinas para a realidade, a ilusão permanece e a vontade de voltar a jogar o mesmo jogo.
     Basta olharmos à volta para vermos como o mundo das imagens seduz as pessoas deste tempo incerto, sem referências sólidas, distante da realidade; seduz pessoas de todas as idades, embora os mais jovens sejam mais propensos a cair nessas ciladas.
     A relação mais curiosa e provavelmente a mais autêntica que observamos em Conte Comigo é também uma relação de enganos mas que perdura. Laura pode ser uma espécie de ídolo, admirada e desejada por muitos, mas é aos “cuidados” do silencioso maquilhador húngaro que se entrega. Todos passam, ele fica. Todos falam muito e argumentam, ele permanece calado. Todos têm o seu quinhão de fama e notoriedade, ele permanece na penumbra. De certo modo, a determinada e independente Laura apenas revela a sua fragilidade e o cansaço de ser quem é a esse ser anónimo que parece invisível para todos, mas continua sempre presente e atento. 
     No meio de tanta farsa é difícil sentir empatia ou compreensão. Fica um sorriso ligeiro e um abanar de cabeça. Fica a vontade de desligar a televisão, quebrar os ecrãs e mergulhar na vida. Até hoje ninguém conseguiu inventar nada que se compare à própria vida. 
   Pois, então, viva a vida! E vivam aqueles jovens actores que transmitiram tão bem a superficialidade, o vazio e a mentira que só fazem mal à alma. Um forte aplauso para todos! Foram profundamente verdadeiros no vosso trabalho.

Elenco:
Marisa Conceição
Rafaela Neves
Ricardo Diabão
Igor Angélico

Encenação:
Carlos Melo




 Conte comigo, photography by São Ludovino.

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